Capítulo 23 - Desfeito
3389 palavras
Se Zaki desconfiasse do que estavam prestes a fazer naquele quarto, certamente surtaria. Agamenon não iria se surpreender, caso o tio tentasse matar Kira após o feitiço ser concluído. Afinal de contas, aquela magia era proibida, justamente por seu alto grau de dor e pela enorme quantidade de energia que o invocador precisava usar. Não apenas o enfeitiçado sofreria uma dor lancinante, mas também o conjurador.
Agamenon sabia que Ayla e Zaki perceberia a magia no momento que ela fosse lançada, era intensa demais para passar despercebida. Mas não poderiam entrar no quarto imediatamente após a conjuração, por conta da força do ritual. Isso lhes daria o tempo necessário para que o feitiço fosse completado e qualquer memoria escondida fosse revelada.
O que realmente preocupava o lorde, era o que aconteceria depois disso. Se Kira e ele não suportassem a dor e ambos desmaiasse após o ritual, Zaki com toda certeza não esperaria a rainha acordar para ataca-la. Ao mesmo tempo, ambos concordavam que Ayla poderia ser uma aliada naquele momento, se conseguisse controlar a fúria de Zaki.
O ponto de conflito estava no fato de não poderem contar para a feiticeira, já que a ligação mental entre o casal impedia que qualquer segredo fosse guardado. O que ela sabia, ele também sabia, e vice-versa. Suas memórias estavam interligadas pela devoção, um tipo de união tão imemorial que poucas pessoas nas Terras da Alvorada sequer compreendiam.
A solução que encontraram, embora arriscada, foi deixar uma carta explicando suas motivações e esperanças de que convencesse Zaki a ouvir a feiticeira.
Foram essas as palavras, escritas a mão por Agamenon e deixadas na entrada do quarto, envoltas por magia: (VER ANEXO NA IMAGEM DO CAPITULO).
Enquanto o lorde enfeitiçava a carta, para que ficasse suspensa no ar, Kira revisava os passos necessários para concluir o feitiço e garantir o êxito. Havia uma mínima chance de a magia falhar, e tudo dependia do esforço que ambos teriam de resistir. Precisavam permanecer conscientes durante todo o processo, tolerando a dor, sem se render à piedade pelos gritos que um soltaria pelo outro.
A primeira etapa estava completa. O círculo de extração dos olhos já estava riscado no chão, marcado pela mão precisa do lorde. Kira, imersa na concentração que Ayla lhe ensinara nas últimas semanas, sentiu a tinta dourada envolver seus dedos como uma segunda pele. À medida que se concentrava, as raízes brancas iam se unindo em sua testa, delicadas como um traço suave, mas carregadas de um poder silencioso, uma marca de pertencimento profundo e imutável.
- Estou pronto. - A voz de Agamenon soou fazendo a menina abrir os olhos e o encarar.
Ele caminhou até o centro do circulo, a mandíbula rígida e os punhos cerrados. Ajoelhou e sentiu seus músculos se tencionarem enquanto olhava para Kira. Ela também o fitava e vinha em sua direção. Os passos eram vacilantes e temerosos. Entrou no circulo e sentiu tudo ao redor se desfazer. Seu estomago parecia se contorcer, como se todo seu corpo quisesse fugir dali.
— Está realmente pronto? — Ela perguntou, sabendo que, uma vez iniciado, não haveria retorno, e qualquer interrupção poderia deixar cicatrizes irreversíveis.
Com um suspiro profundo, ele respondeu:
— Preciso estar. — Seus olhos se fixaram nos dela, transmitindo uma confiança silenciosa, um carinho que falava mais do que palavras poderiam. — Você sempre quis isso. Vai, coloque um sorriso nesse rosto.
O sorriso tímido veio logo depois, dissipando um pouco da tensão no ar.
— Se eu fosse tão inconsciente e inconstante como antes, com certeza estaria eufórica. — Ela suspirou, apertava os nós dos dedos procurando um tipo de conforto. — Mas agora, estou com medo de te machucar.
— O medo é natural quando não se sabe o que esperar. — Ele sorriu, o olhar firme e seguro. — Vai com medo mesmo.
Ela apenas concordou com a cabeça, respirou fundo e se concentrou. Seus dedos começaram a pingar tinta dourada, que fluía com intensidade, quase viva, iluminando as marcações no chão com uma luz brilhante. A cada segundo, as inscrições feitas com giz ganhavam mais forma, cobertas pela tinta densa e volátil. Então, as lágrimas douradas começaram a escorrer pelo rosto da rainha, traçando caminhos de luz enquanto tudo ao redor dela brilhava, e a magia fluía por seu corpo como um rio de energia pulsante.
Agamenon observava, absorto. A magia que circulava ao seu redor era mais do que um feitiço. Era viva, possuía uma magnitude que ele jamais havia sentido. Lembranças das lendas sobre as Rainhas de Kvinner invadiam sua mente, como sussurros ancestrais, se sobrepondo uns aos outros:
"Elas eram tecelãs do tempo, guardiãs de magias que respiravam em frequências esquecidas pelo mundo. Suas palavras, suaves como o vento, carregavam o peso de séculos de sabedoria, reverberando através da carne e da alma. Cada gesto parecia arrancar o próprio ar, moldando realidades e distorcendo o curso natural das coisas com um simples movimento da mão. Sua magia não era de feitiços simples ou encantos triviais, mas de um poder ancestral, tão profundo e imensurável que fazia os corações se apertarem com medo, mas ao mesmo tempo, se encherem de uma reverência silenciosa."
Arrepios percorriam seu corpo, um medo profundo e crescente, mas também havia um sentimento de admiração circulando em seu peito.
Kira aproximou os dedos do rosto de Agamenon. A tinta escorreu por seu rosto, desceu por seu pescoço e manchou sua camisa. Os dedos dela tocaram em suas pálpebras, fechando seus olhos. A pressão dos dedos dela contra suas pupilas, ardia, e, quase como uma tortura, uma queimação foi gradativamente se espalhando por todo seu rosto.
Não era como se ela estivesse arrancando os olhos dele, mas a sensação era quase idêntica. Era como se as córneas estivessem sendo extraídas com brutalidade, como se seus olhos fossem forçados a explodir sob a pressão dos dedos dela.
Os gritos dele começaram ao mesmo tempo que Kira começou a recitar o feitiço na língua antiga. A menina tremia, e a dor parecia subir de sua pele até seu coração. O grito de Agamenon reverberava pelos corredores do palácio, uma agonia que podia ser sentida por todos ao redor.
Ambos estavam imersos em uma dor mortal. Uma onda cruel e imprevisível, como facas afiadas e invisíveis, que os perfuravam a cada segundo. O alívio, por mais desejado, parecia uma memória distante, quase impossível.
Kira lutava para permanecer emanando a magia, até que o processo fosse finalizando e Agamenon pudesse alcançar a porta sem chave. Enquanto o Lorde lutava contra a vontade de desistir e sair daquele estado desesperador e sufocante.
Kira sentiu que o fim estava próximo. O círculo ao seu redor começou a desaparecer, dissolvendo-se lentamente na brisa que se formava, enquanto a tinta dourada continuava sua jornada. Ela se arrastava até o corpo de Agamenon, cobrindo suas pernas, seus dedos, subindo por seu abdômen, alcançando seu peito. A tinta parecia viva, como se quisesse absorver cada centímetro do lorde, entrando por sua boca, tentando abafar seus gritos.
A rainha sentiu o momento em que a tinta tocou os olhos dele, uma conexão profunda entre sua pele e a substância dourada, que ainda fluía pelos seus dedos. Foi nesse instante que os gritos cessaram, como se uma força invisível os tivesse interrompido. A dor se fez presente de outra maneira: um torpor profundo, uma quietude sombria os envolveu, e, com ele, as memórias começaram a surgir, como um quadro sendo pintado naquele instante.
Kira estava de volta ao salão gigantesco, com tapetes vermelhos e muito ouro. Mas desta vez, não perdeu tempo nas molduras dos quadros ou na forma fria com que o pintor havia pincelado aqueles rostos. Ela caminhou rapidamente até onde Aldrin estava ao lado de um velho, com uma aparência cansada de quem já viveu mais do que deveria.
Agamenon surgiu logo depois. Os olhos eram uma cor acobreada surreal, tão bonito quanto sua memoria lhe permitia lembrar.
- Príncipe... – Ela enxergou Agamenon se curvando para dois homens. – O que precisa?
- Cometi um erro quando lhe enviei para falar com Lídia. - Essa frase, Kira não se lembrava de ter ouvido da outra vez. - Fui um tolo ao permitir que se conhecessem.
- Aldrin o que está dizendo não faz sentido. - Agamenon respondeu, um fio de incredulidade na voz. - Ter conhecido ela foi a melhor coisa que me aconteceu... Eu a amo.
O rosto de Aldrin se transformou em uma máscara de ódio, os olhos verdes escurecendo, e seus punhos se fecharam com tal força que as mãos se avermelharam. A tensão na sala aumentou, como se o ar estivesse prestes a rachar.
- Não vou permitir que, mais uma vez, você leve a pessoa que eu amo. — A gravidade de sua voz reverberou pelo salão. — Você já matou a minha irmã. Não merece a rainha de Kvinner. Ela é minha.
Agamenon deu um passo atrás, surpreso, como se as palavras de Aldrin tivessem se cravado em seu peito.
- Você também está apaixonado por ela? — A pergunta saiu de sua boca com uma incredulidade evidente. — Aldrin, eu não fazia ideia...
- Não importa mais! - Ele gritou enraivecido. - Agamenon, só está aqui por culpa dos meus arrependimentos, fui um tolo, mas estou pronto para consertar as coisas.
Agamenon franziu as sobrancelhas, sua mente tentava entender o que estava acontecendo, mas a paralisia mágica o impedia de reagir. O velho, que até aquele momento permanecera em silêncio, ergueu os braços. Suas mãos brilharam com uma luz azul pulsante, como se o próprio ar ao redor fosse carregado por uma força poderosa e malévola. Ele se aproximou lentamente do lorde, que, por mais que se esforçasse, não conseguia emitir som algum. Seu corpo não respondia, aprisionado por uma magia de uma gravidade impensável.
O velho encostou suas mãos na cabeça de Agamenon, e seus olhos escuros fixam-se com intensidade nos acobreados do lorde. Sua voz, rouca e surpreendentemente calma, penetrou no silêncio pesado da sala.
- Lídia morre aqui, toda e qualquer lembrança que tenha dela ser a rainha de Kvinner, é enterrada no tumulo que irá cavar quando sair por aquelas portas. Culpe quem quiser por sua morte, mas nunca se lembrará por quem se apaixonou.
Aquelas palavras soaram como um feitiço mortal. Aos poucos, os olhos de Agamenon começaram a ser tomados pela luz azul pulsante das mãos do velho. Espirais de magia surgiam diante de seus olhos, rodopiando freneticamente, consumindo cada vestígio de castanho que um dia existiu em seu olhar. As memórias de Lídia — os sorrisos, as palavras, os momentos compartilhados — começavam a desaparecer, apagadas como se nunca tivessem existido. O luto começou a se infiltrar em sua pele, a invadir seu coração, a dominar sua mente, tornando-se a única verdade que restava.
- Se encontra a rainha novamente, não saberá quem ela é. Não sentirá nada além de indiferença. - O homem completou, afastando-se de Agamenon.
O lorde, entorpecido pela força do feitiço, virou-se lentamente, como se seu corpo já não fosse mais seu. Cada passo que dava em direção à porta parecia pesar toneladas, o chão abaixo de seus pés tornava-se uma lama densa, engolindo sua sanidade, engolindo sua identidade. Seu corpo, ainda lutando contra a paralisia, movia-se mecanicamente, quase como se fosse uma marionete sem alma.
Quando alcançou a porta, seus dedos tremiam, buscando a maçaneta com a mesma falta de vida que sentia em seu peito. Um grito — profundo, agonizante — ecoou por todo o corredor logo depois de atravessar a porta.
- A rainha será capaz de se lembrar dele, milorde. - O velho dirigiu suas palavras a Aldrin, que observou tudo com um sorriso vitorioso no rosto.
- Não importa que ela se lembre, em breve, só existirá a mim em seu coração. - As palavras dele estavam carregadas de amargura e desejo. - Vamos Mir, ainda temos muito o que fazer.
Kira, que a todo momento observava, completamente atônita e impotente diante da cena que se desdobrava, ajoelhou-se no chão. A dor que emanava dos gritos de Agamenon, do outro lado da porta, rasgava sua alma. O ressentimento crescia como uma sombra em seu ser; nunca imaginara que Aldrin fosse capaz de tamanha maldade.
Sentiu a própria dor de ter perdido Agamenon naquela época, mesmo que não se lembrasse, seu coração batia descompassado, as lagrimas escorriam e os soluços poderiam ser ouvidos a distancia.
Foi nesse instante, quando a dor se fez insuportável, que a magia se completou. Ambos estavam consumidos pelo peso daquilo que experimentavam, e as lágrimas fluíam como rios implacáveis. A dor dual que os envolvia foi tão intensa que, como se o próprio mundo tivesse sucumbido, ambos desmaiaram.
Físico e Mental, o tormento era forte demais para se aguentar acordado.
Zaki já estava a caminho do quarto de Agamenon antes mesmo dos gritos começarem. Ele tentou forçar a porta, reunindo toda a força que possuía, mas ela sequer se moveu. Nem mesmo sua espada conseguiu riscar a madeira. A energia que escapava pelas frestas era avassaladora, tão intensa que ele mal podia suportar ficar próximo por muito tempo.
Quando Ayla chegou, encontrou Zaki sentado no chão, as lágrimas escorrendo pelo rosto. Era como se ele também estivesse gritando de dor, como se pudesse sentir cada gota do sofrimento do outro lado da porta.
Desde o principio, quando Agamenon teve a estupida ideia de trazer a rainha de volta, Zaki imaginava que algo assim iria acontecer. Sabia que não deveria confiar nela. Sabia que deveria ter impedido o sobrinho de se aproximar, de ficar a sós com aquela bruxa.
O que acontecia lá dentro, ele não sabia. A única certeza que tinha era a de que ela o estava torturando. Mesmo assim, os gritos da rainha ecoavam junto aos do lorde, penetrando seus ouvidos e seu coração. Ayla sentou-se ao lado dele, pousando um braço carinhoso sobre seus ombros, numa tentativa de consolo, embora suas próprias lágrimas também não parassem de cair.
Os gritos haviam cessado, mas reverberavam em suas mentes como um eco interminável. O silêncio que se seguiu era ainda mais opressor, preenchido apenas pela luz ofuscante que emanava da porta e pela sufocante intensidade do feitiço.
- Está acabando. - A voz da feiticeira saiu embargada pelo choro.
- Eu destrui-la.
O maxilar dele trincou, era possível ouvir os dentes rangendo. A mão direita apertava o cabo da espada, seu olhar emanava desprezo e vingança. Ayla tentou segurar a mão dele, mas ele já sabia o que ela iria fazer, ouvia os pensamentos desesperados dela em sua cabeça.
A culpa a corroía, um fogo lento que consumia até os ossos.
A mão esquerda tocou na maçaneta gelada quando a luz se apagou completamente. Ele estava pronto para encarar uma cena que sentia que partiria seu coração, não conseguia deter os tremores que tomavam seu ser enquanto a fúria guiava seus passos.
Agamenon era o filho que ele nunca seria capaz de ter. O amor que sentia por ele era imenso; só de imaginar que o jovem estivesse ferido, após ter ouvido os gritos de agonia, fazia seu coração de pai bater descompassado, como se estivesse à beira de um colapso.
Mas, quando finalmente conseguiu abrir a porta, a cena a sua frente quebrou toda expectativa que tinha reunido naqueles poucos segundos de hesitação. Ali, na altura de seus olhos, um papel amarelado jazia, envolto de luzes azuis e douradas que o fazia flutuar no ar.
Ele sentiu a energia de Agamenon, e foi apenas por isso que estendeu a mão e o pegou. Seus olhos forçaram-se a focar nas palavras escritas apressadamente, tentando entender as letras borradas pela tinta, e, acima de tudo, evitando olhar para o centro do quarto, onde Ayla se movia rapidamente em direção a algo que ele não queria ver, ainda.
A feiticeira se ajoelhou ao lado dos dois. Podia sentir os corações de ambos batendo, mas suas respirações estavam entrecortadas, ofegantes, e as lágrimas douradas não cessavam, mesmo com os olhos deles fechados.
Ela precisou se esforçar para reconhecer a magia que pulsava ao redor deles. Quando finalmente identificou, levou uma mão à boca, tomada por um desespero profundo. Naquele instante, não conseguia discernir quem teria invocado tal feitiço. O medo a percorreu antes mesmo de Zaki terminar de ler a carta.
Zaki sentiu a preocupação da esposa. Mas sua mente tentava se concentrar na decisão que precisava tomar. Ele podia e acreditava que deveria tirar a vida da rainha naquele momento. Mas as palavras de Agamenon escritas no papel que segurava, fazia sua mente entrar em um estado de confusão mental, dificultando seu julgamento.
O lorde sobreviveria. Apesar de todo o sofrimento que aquele feitiço causou, ele tinha dado certo. A recuperação poderia levar alguns dias, talvez até mais, mas Agamenon viveria. Zaki sabia que, se matasse Kira naquele momento, jamais teria o perdão do sobrinho.
O punho apertava a espada, dominado pela indecisão. Mesmo que nunca mais pudesse se aproximar de Agamenon, ou que o lorde o odiasse para sempre, pelo menos saberia que ele não correria mais perigo. Ao menos não pelas mãos de Kira.
Por outro lado, se permitisse que Kira vivesse, recuperaria a confiança de Agamenon. No entanto, Zaki sentia que o lorde sofreria por ela mais uma vez, e só esse pensamento impulsionava sua raiva.
Ayla se virou para o marido. As motivações e duvidas dele estavam em sua cabeça também, ela conhecia o conteúdo da carta pelos olhos dele e, embora não soubesse exatamente o que dizer para fazê-lo escolher, arriscou-se a falar:
- Ela não teve culpa. - Sua voz soou rouca, um nó se formando em sua garganta. A vontade de continuar chorando a consumia, mas ela engolia cada lágrima. Não era hora para desespero. - Eles decidiram juntos, Zaki. Por favor...
- Isso não vai parar enquanto ela viver. - Ele respondeu, aproximando-se. - Ele pode me odiar, você também, mas, querida, talvez seja o certo a se fazer!
- Você não está pensando direito!
Sentiu sua voz falhar, suas mãos tremendo. Ela se levantou rapidamente, colocando-se entre ele e os dois, exatamente como fizera no Monte Dragoste, antes de enviar a rainha para o mundo da ignorância.
- Não será apenas eu e Agamenon que te odiaremos. – A voz dela saiu quase sem força. – Aldrin vai te caçar também.
- Que venha, estarei esperando por ele.
Ayla sentia suas ideias se desvanecerem, Zaki estava tão próximo. A qualquer momento, ele poderia atacar.
- Vai ter que me matar antes. – Ousou dizer, sentindo a dor que aquelas palavras causavam nele. – Eu vou lutar para protegê-los, era o que Agamenon queria, e vou honrar seu pedido.
As mãos dela começaram a brilhar, uma fumaça vermelha se espalhando ao redor, seu poder se manifestando carregado de uma súplica silenciosa, como se desejasse que ele parasse, que ele a ouvisse e fosse capaz de deixar seu rancor de lado, nem que fosse por um momento.
Zaki congelou. O brilho das mãos dela parecia um grito silencioso, mas forte o suficiente para cortar a tensão no ar. A raiva em seu peito se confundia com uma onda de impotência, o peso da decisão apertando sua garganta. Ele queria avançar, mas as palavras dela ressoaram como um eco em sua mente.
- Você percebe a posição que está me colocando? – Perguntou, sentindo o punho afrouxar na espada. – Nunca conseguiria machucá-la.
- Não vou dizer que sinto muito, mas esse é o único jeito de parar você. - Uma lagrima escorreu pelo rosto da feiticeira. - Percebe meus motivos naquele dia? Agora consegue ver porque fiz o que fiz?
A memória do Monte Dragoste nunca saía de suas mentes, por mais que tentassem esquecer aqueles minutos de desconforto. Eram incapazes. O sentimento dos dois era conflitante sobre aquele dia. Enquanto Zaki sentia que havia perdido uma chance única, Ayla sentia a culpa percorrendo seu sangue.
- Por favor, não vamos cometer os mesmo erros. - Era sua ultima suplica.
Por um breve instante, o que restava de seu ódio se dissipou, a agonia continuava lá, lembrando-o que a decisão que estava prestes a tomar não era dele. Ele abaixou a espada e a devolveu a bainha, o olhar rendido diante da mulher que amava. Inspirou o ar profunda e lentamente, tentando engolir tudo aquilo que nublava seus olhos.
- O que temos que fazer então? – A voz soou com um sussurro distante.
- Levá-los para a enfermaria, precisam ser tratados, e avise ao seu pai, todos no palácio devem ter sentido essa força.
- E depois?
- Só nos resta esperar que acordem.
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