─ Mãe! ─ escuto a Missy  gritar por mim me deixando completamente assustada.

Levanto da cama depressa e visto meu vestido até então jogado em cima da poltrona, vou direto ao encontro do seu choro que me leva ao quintal da casa. Um nó se forma em minha garganta ao ver ela chorando ao lado da gata que adotamos no dia do seu aniversário.

─ Eu sinto muito meu amor! ─ lamento enquanto a coloco em meu colo e caminho em passos largos de volta para dentro de casa.

É por isso que eu pedi tanto ao Walter para não dar um animal a ela, sabia que ela sofreria quando ele morresse ou fugisse.

─ Eu quero a Lola mamãe ─ pede chorando e levo minha mão a sua bochecha limpando o local úmido.

─ Eu queria poder trazer ela de volta meu amor ─ suspiro e volto a aconchegar ela em meus braços.

─ O que aconteceu? ─ Walter pergunta se aproximando de nós.

─ A Lola morreu papai ─ explica a ele o que o faz levar sua mão ao seu cabelo fazendo carinho por alguns instantes.

─ O papai vai te dar outra igual ok? ─ ela o abraça e o mesmo deixa um beijo em sua testa enquanto o olho com a testa franzida.

Ergo uma das sobrancelhas e ele parece entender o que penso. Como ele pode dizer uma coisa dessas? Quando se ama nada pode ser substituído, é um gato não um brinquedo.

─ Tenho que ir trabalhar amor, tenho muita coisa para fazer no escritório desculpa não poder ficar ─ pede enquanto vai pegar sua maleta no outro sofá.

─ Tudo bem ─ vem até a mim e me dá um beijo rápido antes de sair.

Suspiro, eu realmente não consigo entender o Walter as vezes.

Os olhos dela já estão vermelhos e inchados, isso deixa meu coração partido.

A porta da sala se abre e penso que o Walter esqueceu alguma coisa, mas era algo muito pior meu irmão Harry estava acompanho do Zayn, e céus como isso é estranho.

O que o Zayn está fazendo aqui? Aliás por que ele está fazendo isso? é desconfortável ver ele depois de tanto tempo, depois de tudo que aconteceu...

─ Por que minha princesa está chorando? ─ Harry pergunta fazendo a Missy descer do meu colo e ir correndo para seus braços.

─ Ela morreu tio Harry ─ ele a pega no colo e olha diretamente para mim assim como o Zayn me deixando ainda mais desconfortável.

─ Quem morreu? ─ Harry e Zayn  perguntam juntos.

─ A gatinha dela ─ respondo  olhando apenas para o Harry enquanto me lembro da cena.

─ Ei olha para mim, ela está no céu com os amiguinhos dela agora Missy ─ Harry tenta consolar ela e parece funcionar quando a mesma passa suas mãos nos olhos limpando os resíduos das lágrimas.

─ Sério tio Harry?  ─ pergunta o olhando.

─ Sim ─ um sorriso surge nos lábios dele e sinto vontade de sorrir também.

─ Vem brincar comigo ─  desce do seu colo e pega sua mão o puxando em direção ao seu quarto.

─ Viu é assim que se faz ─ ele se gaba quando passa por mim.

É incrível como ele consegue acalmar ela. Sorrio aliviada e o Zayn vem se sentar ao meu lado. Ele está tão diferente, fez algumas tatuagens e está mais forte, alguma coisa no seu olhar também está muito diferente.

Não deveria sentir esse frio na barriga ao ficar ao seu lado depois de tudo que ele fez comigo, já faz tantos anos e eu não sei o que ele veio fazer aqui.

Zayn

─ O que você veio fazer aqui na minha casa? ─ pergunta parecendo desconfortável.

─ Eu encontrei o Harry na rua e a gente começou a conversar, disse que precisava de um fotógrafo para fazer os calendários da minha empresa e ele disse que talvez você pudesse me ajudar ─  franze a testa como costumava fazer quando estava desconfiada de alguma coisa.

Me pergunto como a Angel ficou ainda mais linda? Se tornou uma mulher realmente dos sonhos de qualquer homem, esse jeito inocente me faz perder a cabeça.

Como? Como alguém pode ter um efeito tão grande sobre outra?

─ É melhor não Zayn ─ suspira parecendo frustrada.

─ Eu preciso mesmo disso, é só algumas fotos Angel ─ imploro  olhando em seus olhos e sinto que derrubei uma de suas barreiras.

─ Quando? ─ pergunta suspirando me fazendo sorrir vitorioso.

─ Amanhã as oito, tudo bem para você? ─ fico feliz de tudo estar saindo como eu havia planejado.

─ Tudo bem ─ um sorriso fraco surge em seus lábios.

─ Tenho que ir agora ─ beijo seu rosto, sentindo o cheiro doce da sua pele e ela parece ficar sem jeito.

Saio de sua casa e caminho devagar até a minha. O dia estava frio, aconchegante até, mas a maldita pergunta não abandonava minha cabeça:

O que eu fiz para ela ir embora?

Entro no banheiro e tiro toda minha roupa, rodo a torneira ligando o chuveiro e entro debaixo do mesmo, encosto minha cabeça no azulejo frio da parede e fecho os olhos.

[...]

Angel

" Você abre para mim hoje Jessica? tenho que levar a Missy para escola." 

"Claro :) xx muitas fotos para revelar hoje"

É sempre tão demorado ter que acordar, me arrumar e fazer o mesmo com a Missy. Ela sempre está tão disposta, enquanto eu só quero voltar a dormir mais um pouco. 

─  Missy já está na hora! ─ chamo sua atenção enquanto pego sua mochila e as chaves do carro.

Ela desce do sofá e vem até a mim.

─ Pegou sua lancheira? ─ ajeito seu cabelo.

É incrível como a cada 5 minutos ela consegue o bagunçar.

─ Sim ─ concorda alegre me fazendo sorrir.

Missy sempre consegue me por para cima, ficar perto de pessoas alegres te deixa de certa forma alegre e também é desse jeito com as pessoas de péssimo humor.

─ Droga! ─ esbravejo ao olhar para o pneu murcho do carro.

─ Está tudo bem Angel? ─ me assusto com a voz do Zayn e me viro para o olhar. 

─ O pneu do meu carro furou, mas eu vou ligar para o Walter. ─ concluo terminando a conversa e pego o celular no bolso traseiro da minha calça.

Zayn sorrir e me pergunto do que ele está sorrindo? Não quero que ele tente nos aproximar.

─ Eu te dou uma carona Angel e assim você pode me ajudar com o que eu te pedi. ─ propõe me olhando nos olhos quase capaz de me convencer com seu olhar.

Eu o odeio por fazer isso comigo, por que ele voltou afinal? e está morando do lado da minha casa, fingindo que não temos um passado. Ele da a entender que tudo está normal, quando na verdade não está nada bem.

─ Não é uma boa ideia ─ respondo convicta.

─ Preciso mesmo disso, prometo que eu não vou fazer nada é só trabalho. ─ ele insiste.

Deus! Sei que irei me arrepender depois, mas talvez se eu o ajudar finalmente ele não terá mais nenhuma desculpa e poderei tocar minha vida. 

─ Ok, a escola não é tão longe. ─ respondo vencida.

Zayn concorda e abre a porta de trás do carro para que eu possa colocar a Missy e assim que o faço me sento no banco do carona. É uma situação desconfortável, aconteceu tanta coisa e estou me sentindo perdida e solitária.

─ Chegamos! ─ avisa ao estacionar o carro em frente a escola.

─ Tchau meu amor! ─ me despeço e ela sorrir abrindo a porta do carro

─ Tchau tio Z ─ Missy se despede dizendo o nome dele errado antes de sair correndo com as outras crianças.

Sorrio, é tão lindo ver que ela está crescendo tão rápido, nem faz muito tempo que ainda estava dando seus primeiros passos.

─ Vamos? ─ pergunta me libertando dos meus pensamentos.

─ Sim ─ respondo o olhando.

É tão estranho estar perto dele, faz tanto tempo que isso não acontecia e sinto que ele não é mais como antes, é claro que as pessoas mudam com o tempo, mas parece que é mais do que isso, tem algo na sua forma de seu olhar que me faz querer ficar longe.

Zayn liga o som do carro e sorrir quando muda de estação, Always do Bon Jovi tocando, a música da nossa primeira vez. Parece que tudo está girando ao seu favor e eu só quero voltar para casa.

─ Você se lembra dessa música? ─ pergunta me deixando sem jeito.

Como ele pode? como pode me deixar tão desconfortável. Não quero que tenhamos algo, não quero esse tipo de relacionamento abusivo na minha vida.

─ Sim, todo mundo conhece é uma música famosa do Bon Jovi ─ respondo olhando para ele, o deixando exatamente da mesma forma que eu fiquei ha segundo atrás, o Zayn não vai mesmo brincar comigo assim.

─ É aqui ─ avisa enquanto estaciona o carro debaixo de uma árvore.

Saio do carro e não contenho o sorriso, tudo tão lindo! A natureza é maravilhosa e somos tão sortudos por podermos apreciar toda a sua beleza.

─ Uau! ─ digo maravilhada.

O barulho da cachoeira me faz relaxar, assim como o vento fresco.

─ Vem ─ ele pega em minha mão como se fossemos íntimos ou algo assim.

Logo faço questão de o soltar e tiro minha câmera fotográfica da bolsa, as fotos ficaram lindas, esse lugar é maravilhoso!

Adoro a forma que a água escorre pelas pedras, o jeito que a linda cachoeira forma um lago, principalmente o céu azulado e as flores caídas da arvore. Todos esses pequenos detalhes fazem o meu trabalho valer a pena e conseguir expressar todos os seus sentimentos através do que viu a sua frente é perfeito. 

─ As fotos ficaram muito boas! ─ comento ao olhar a galeria da câmera.

─ Aposto que sim! ─ ele sorrir ─ Já volto ─ avisa caminhando até o seu carro e não me deixa nem ao menos responder.

Continuo olhando as diversas fotos que tirei e sorrio, mal posso esperar para as revelar.

─ Ainda gosta de piquenique ? ─ pergunta chamando a minha atenção. 

─ Você prometeu Zayn ─ respondo guardando minha câmera.

─ É só um lanche, não seja paranóica! ─ ele rir irônico e balanço a cabeça negativamente.

Só queria saber se ele se põe no meu lugar, isso me deixa tão desconfortável e o Zayn não percebe que está forçando a barra. Acho que na verdade ele não se importa mesmo e eu também não quero me importar com ele, fiz isso por tantos anos e preciso continuar a fazer. Sempre foi difícil.

Ele se senta no gramado e eu acabo me sentando também.

─ Faz quanto tempo que você e o Walter são casados? ─ vai direto ao ponto.

─ Quatro anos ─ respondo bebendo o suco.

Zayn fica em silencio e é melhor assim, tudo o que aconteceu entre nós ficou no passado. O que foi feito está feito e não tem como mudar.

─ Me responde Angel por que você foi embora? Você nunca disse o motivo  ─ pergunta encarando meu rosto e sorrio amarga.

Ele quer realmente que eu me humilhe? quer que eu fale sobre algo que ambos sabemos muito bem.

─ Você sabe o motivo Zayn ─ respondo desviando meu olhar do seu.

─ Não, eu não sei Angel. ─ responde levando sua mão ao meu rosto fazendo com que eu o olhe.

─ Para! isso já faz anos e eu não devia ter vindo aqui, não quero lembrar do passado, não quero lembrar que eu e você já tivemos alguma coisa. ─ respondo tirando sua mão do meu rosto e me levanto.

─  Angel! ─ me chama vindo atrás de mim enquanto caminho de pressa até o carro.

O que ele pensa que eu sou para me tratar assim? Zayn deveria me deixar no passado, assim como fiz com ele.

Tento abrir a porta do carro, mas ele é mais rápido e puxa meu braço me virando para si e encosta seus lábios aos meus me encostando no carro, fico sem reação no começo e tento empurrar, mas sou falha e o retribuo o beijo. E céus como eu me odeio por isso! Tinha me esquecido de como seu beijo era bom, Zayn envolve seus braços ao redor da minha cintura apertando a mesma devagar. 

Como ele ainda tem tanto efeito sobre mim? eu nem consigo pensar direito.

Zayn solta minha cintura e segura meu rosto com as duas mãos, terminando o beijo mordendo meu lábio inferior, nossas respirações estavam descontroladas e eu não posso deixar isso se prolongar mais do que já está.

O empurro o afastando de mim.

─ Não faz isso, nunca mais Zayn. ─ mando.

─ Me desculpa! ─ pede como se estivesse realmente arrependido.

─ Você pode me levar para casa agora? ─ pergunto sem conseguir o encarar direito.

Foi errado desejar seu beijo depois de tudo que eu sofri, parece que não me amo o suficiente ou que não aprendi com meus erros.

Céus eu sou casada!

─ Tudo bem ─ responde e abre a porta do carro para que eu possa entrar.

Zayn sabe que esse beijo mexeu comigo, o jeito que ele se comporta não me deixa dúvidas. Me faz sentir uma idiota, como se voltasse a ser aquela adolescente com o coração partido

Por que ele tinha que me beijar? E como eu pude deixar ele fazer isso?

Zayn me machucou tanto, foi a pior coisa que aconteceu na minha vida, eu o amava e acreditava que era correspondida e por conta disso eu só fui usada. Foi tão difícil voltar a confiar e amar outra pessoa, até que então eu encontrei o Walter e começamos a namorar, nos casamos e temos a Missy.

Esse é um dos dias que eu não deveria nem sequer ter levantado da cama.