22 - Cha AeRa nunca decepcionava.
☆ Tenho até um pouco de vergonha de dar as caras aqui depois de praticamente UM ANO, me tornei aquilo que mais odiava, autoras que somem e reaparecem como se nada estivesse acontecendo. Mas eu realmente não conseguia escrever essa fic, pensei milhares de vezes em arquivar ela pq tinham muitos comentários pedindo pra atualizar e eu me sentia verdadeiramente mal. Mas NUNCA esteve nos meus planos desistir dela. Eu só precisava fazer uma coisa por vez pq agora tenho um filho pequeno, passei por falta de criatividade, block, falta de vontade, vontade mas preguiça, falta de tempo, totalmente sem tempo... Então decidi que faria uma coisa por vez, primeiro foquei em terminar DD23 e depois daria continuidade a ITMB pelo simples motivo de que é uma longfic e DD23 eu terminaria mais rápido.
Enfim... Chegou o dia. Finalmente consegui organizar um tempo apenas para mim, para colocar em prática aquilo que mais amo, escrever, é o meu momento de paz e de ser eu mesma. Não a mãe, esposa, Ghost writter (meu trabalho) ou dona de casa. Eu, Dayane, a escritora.
As ideias fluiram no momento certo, me reconectei com ITMB e cá estamos nós, prestes a nos reencontramos, era pra postar só amanhã, porém fiquei tão animada com a mixtape do AgustD que pra comemorar me adiantei, queria também agradecer pelos 52k de views, muito obrigada é muito importante para mim. Peço por favor que relevem pq estou voltando aos poucos a ativa, peço que comentem muito, comentem tudo, me deem um feedback, me deixem saber o que estão sentindo a cada parágrafo e pensando. Em troca PROMETO que vou postar 2 capítulos por mês tá? E não vou mais abandonar vocês! Combinado??
Tenham uma boa leitura e aproveitem o relançamento de ITMB. Os amo.
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Quando a gente cresce talvez em algum momento possa pensar que já viu de tudo, já viveu tudo o que precisava viver ou que já passou por situações suficientes para saber o que era dor e sofrimento. Precisei experimentar muitas coisas nos últimos três meses para saber e entender que eu estava completamente errado. Não tinha vivido de tudo ainda, não tinha sentido de tudo ainda e nem tinha sofrido de tudo. A vida sempre pode nos surpreender e cá estava eu, mas uma vez sendo surpreendido pela dita cuja.
Escolhi vir a clínica sozinho duas semanas depois de fazer o teste de DNA para pegar o resultado porque independente da resposta, se tratava único e exclusivamente de mim e de quem eu seria a partir de agora. Min Yoongi pai ou o Min Yoongi de antes, quem eu seria?
A vida estava me pondo diante de dois caminhos e não era possível escolher. Já estava traçado e eu teria que seguir o caminho destinado. Eu não gostava de não ter controle, mas não posso negar que definitivamente se pudesse escolher eu saberia exatamente que caminho escolheria, hoje estava mais claro do que nunca que caminho eu escolheria se pudesse fazê-lo por mim mesmo.
Segurei o exame de DNA em minhas mãos após a recepcionista da clínica entregá-lo para mim e me fazer assinar alguns papéis devido ao recebimento. Estava em minhas mãos. Após duas semana das amostras colhidas, eu tinha o resultado do exame comigo, estava apenas alguns segundos de mim a descoberta se HyeRin era ou não minha filha. Seria o fim de uma incógnita e talvez o início de muitas outras.
Nesse momento eu estava parado na escadaria do prédio da clínica encarando o envelope que continha o resultado, minhas mãos tremiam um pouco e não soube dizer o que estava sentindo de imediato.
Respirei fundo.
Era medo? Mas por quê eu estava com medo? No fundo sabia que havia uma remota possibilidade da menina não ser a minha filha, esse era meu medo? Lutei tanto para não me apegar a garotinha de quase 9 meses, para só então perceber que me apeguei a ela ao ponto se sentir medo de o resultado ser negativo? Vivemos juntos coisas que nunca pensei em viver, experimentei adversidade em seu gosto mais amargo e puro e ela estava lá, sempre nos braços da Cha AeRa, esperando que eu desse para ela o que precisava. Comida, colo, amor e mais comida. Respirei fundo de novo, rompi o lacre do exame e levantei a orelha do envelope afim de tirar o papel que havia dentro. Não tinha mais volta, o futuro estava a espreita e só precisava de uma confirmação.
- Min Yoongi? - Ouvi uma voz vagamente conhecida me chamar e desviei a minha atenção do envelope para olhar para a pessoa que me chamava num tom de surpresa.
- Su... Ran? - definitivamente essa era a última pessoa que eu planejava encontrar aqui nesse momento.
- O que faz aqui? Quanto tempo não nos vemos, por onde andava? - perguntou inocente, como se não soubesse o que rolava na minha vida, mesmo que eu tivesse sido matéria de vários jornais durante dias há alguns meses atrás. Soltei um riso de deboche.
- Se você estivesse realmente interessada teria me procurado, não é mesmo? - Soltei, sentindo que não havia humor suficiente para lidar com alguém como ela agora. Minha resposta pareceu atingi-la. O sorriso que me mostrava se desfez rapidamente.
- Ouvi algumas coisas, mas pensei que se você realmente precisasse iria me procurar, ou estou errada? - seu questionamento me levou imediatamente a pensar que realmente nunca precisei, eu tive tudo que precisava ao meu lado durante essa fase difícil.
- Realmente - respondi por fim.
- O que faz aqui? Você era a última pessoa que eu esperava ver hoje. - Totalmente recíproco acredite. A pianista me mediu com o olhar e parou a sua atenção no envelope que estava em minhas mãos.
- Exame de rotina. Tenho que ir, nos vemos - comecei a descer os últimos degraus, mas a não dela segurou em meu braço me impedindo de passar quando a alcancei.
- Pode me dar uma carona? Eu estou indo para minha casa, se você quiser...
- Não, eu realmente estou ocupado agora - a interrompi. - Tchau. - Não dei tempo para que ela se despedisse, caminhei a passos largos para meu carro desejando desaparecer da frente dela o mais rápido possível, minha cabeça estava cheia de outras coisas para perder tempo lidando com ela.
{...}
Estacionei o carro em uma vaga pública de frente para uma praça qualquer. Repousados sobre o banco do carona eu tinha dois envelopes de cor marrom. Um era o resultado do teste e o outro era a documentação que precisava assinar para reconhecimento de paternidade.
"- É só você assinar e está feito o reconhecimento de paternidade, amanhã mesmo eu levo para o cartório e a certidão estará em suas mãos."
Recordei-me das palavras do advogado Kim sobre a papelada que peguei hoje mais cedo em seu escritório. Analisei atentamente tudo que estava escrito, eu estava indo assumir a paternidade de um ser humano, a partir do momento em que assinasse esses papéis seria oficialmente pai daquela pequena, mas claro precisava ver o resultado do exame.
Só que não tive coragem.
Gastei bons minutos sentado olhando para o nada através do retrovisor e não sendo nada prático, simplesmente porque estava com medo de perder alguém importante para mim e me dei conta disso quando percebi que os nós dos meus dedos doíam de tanto apertar inutilmente o volante do carro estacionado.
Tensão, medo, angústia.
Busquei em minha memória onde foi o momento em que me apeguei por essa garotinha de forma tão irreversível ao ponto de sentir medo de perdê-la, talvez tenham sido seus sorrisos cheios de baba, ou seus olhinhos pretinhos e apaixonados quando me viam, ou fossem as primeiras palavras dela ou provavelmente tudo isso junto, somado ao sentimento de família que elas me causavam.
HyeRin e Cha AeRa eram uma espécie de família para mim.
Precisei perder tudo para ganhar elas, precisei ficar sem roupa, credibilidade, dinheiro, sem rumo, sem nada para enxergá-las em minha vida, coisa que eu não faria se nada de ruim tivesse me acontecido. Já me disseram que há males que vem para o bem, mas que porrada precisei tomar na cara para que o bem chegasse até mim né? Eu precisava levar um chute na costela para acordar?
Soltei um riso solitário e melancólico.
Sim, eu precisava.
Sim, eu precisa levar uma surra da vida (que não me poupou mesmo) para enxergar as coisas mais importantes da vida. Eu amava meu trabalho, amava a música, amava a minha vida, amava meu escritório perfeito e montado do jeito que sempre sonhei, mas me faltava algo. Lá no fundo eu sabia disso e através da música sempre cantei a minha solidão, mas elas duas preenchiam um vazio gigante de forma sorrateira e inexplicável. Um vazio que antes nem imaginei que existisse, mas que agora que estava preenchido percebi que sempre esteve lá e que tornavam meus dias de glória um pouco menos interessantes do que eram de fato.
Segurei o envelope da papelada da paternidade em minhas mãos e encarei o outro envelope sem o lacre com o resultado em cima do banco, mas eu não precisava dele para fazer a coisa certa e agora a certeza sobre isso me vinha sobremente. Eu não precisava de um resultado para saber, porque, apesar de ter negado muito, eu sentia. Não precisava ser um gênio, quando se trata de amor a inteligência não serve muito, porque amor não é uma ciência exata e nem todo o QI do mundo poderia aplacá-lo ou explicá-lo em sua perfeita plenitude, a cada dia eu aprendia isso um pouco mais. HyeRin e Cha AeRa me ensinavam esses tipos de coisas, sobre amar e sobre se entregar.
{...}
O relógio de pulso marcava exatamente 15:30, eu não tinha me atrasado e a Cha AeRa não ia querer comer meu fígado por fazê-la perder um dia de trabalho (de novo). Hoje eu pediria à ela para anunciar a sua demissão, já não era mais necessário se esconder aqui nesse bairro afastado e suburbano, estava na hora delas assumirem seus lugares de direito.
- Oh, você chegou! - A tia da Cha AeRa falou ao abrir a porta de sua casa e me ver na soleira da escada.
- Hm. A senhora tem um minuto para falar comigo? - A perguntei, aproveitando que já estava nos meus planos procurá-la mais tarde.
- Claro, entre - respondeu, mesmo que estivesse saindo ela retornou para dentro da pequena casa. Adrentei ao imóvel e mesmo que a senhora mais velha tenha feito o gesto para que me sentasse permaneci de pé, pois seria breve.
- Eu só queria pedir a senhora para ficar uma última vez com a HyeRin amanhã a noite, tenho planos de levar a AeRa-ah para jantar e bom... Gostaria que a senhora passasse a noite toda olhando a menina - coloquei meu tom mais cordial possível para falar com ela. A velha sorriu materna para mim.
- Suponho que seja uma surpresa, já que veio falar pessoalmente comigo - adivinhou.
- É, eu estou planejando algo - confessei. - Se não se importa...
- Não me importo, a sua filha é um anjo. Nunca vi criança mais doce. - Elogiou.
- Ela é mesmo! - Concordei. A mulher sorriu mais abertamente diante de minha resposta positiva.
- Confesso que eu não imaginava que a Cha AeRa-ah fosse conseguir, mas ela é danada! - Riu depois de falar. - Ah, é das minhas.
- Eu tenho que ir, não posso me atrasar. - anunciei e a senhora mais velha riu de novo. Em seguida abriu a porta para que eu saísse. - Obrigado por tudo. - Me curvei para cumprimentar a mais velha em forma de agradecimento e reconhecimento de toda a ajuda que ela havia nos dado ao longo desses 3 meses em Mapo-Gu.
Após receber um aceno de cabeça subi as escadas rumo a casa de cima, digitei a senha e encontrei ela pronta para ir trabalhar, vestida no jeans, que não era nenhum pouco habitual antes de nos mudarmos para cá, e a blusa social branca de seu trabalho, sentada no chão enquanto a HyeRin estava em pé batendo palmas para a TV.
- Essa menina assiste muita TV - falei só para irritá-la.
- Desculpa aí se eu preciso tomar banho para trabalhar e quem deveria estar aqui para olhar ela, não está! - Retrucou e eu soltei um riso satisfeito. Bobona previsível.
- Eu estava ocupado - falei. Não havia contado para ela o que fui fazer hoje de manhã, era uma surpresa que queria fazer para ela no momento certo.
- Eu tenho que ir trabalhar - anunciou ficando de pé e passando a pequena menina para mim, notei que ela estava bem mais pesada, está crescendo bem apesar de tudo.
- Sobre isso, já pode pedir a sua demissão. Estamos de mudança - tentei passar o menos de urgência possível, não queria que ela entendesse de cara minhas intenções.
- Como assim? - AeRa me encarou intrigada, tinha se apegado à esse emprego no café de uma forma que eu não entendia. Teria sido apenas ao emprego mesmo? - A gente combinou que só iria quando saísse o resultado do teste de DNA - AeRa levou a mão à boca surpresa com algo que provavelmente tinha deduzido ou lhe ocorrido sozinha. Sentei na cama com a HyeRin em meu colo. - Já saiu o resultado? - sussurrou a pergunta como se fosse algo proibido. Soltei um riso contido.
- Não. - Menti, pois tinha meus próprios planos para contar-lhe o resultado. - Mas sai na segunda, então nesse fim de semana já podemos começar a nos preparar para a mudança.
- Ah, nem vem. Não tem nem tanta coisa assim pra levar, afinal a gente chegou aqui quase sem nada - lembrou. Dei de ombros.
- São detalhes - falei preguiçosamente. - Chegou a hora de você se desvincular daquele trabalho. Qual a dificuldade? - queria saber o que ela iria responder afinal.
- Eu gosto de trabalhar lá - simplificou a resposta que implicava em muito mais que apenas trabalhar lá e eu tinha certeza disso.
- É mesmo? - debochei. - Porém eu e a HyeRin precisamos de você, 100% pra gente - soltei a isca para atraí-la até mim. Cha AeRa ficava com as bochechas vermelhas quando estava envergonhada e não podia ouvir um flerte um pouco mais intenso vindo de mim que logo ruborizava, era meu jeito de saber que estava indo pelo caminho certo com ela. Sinceramente não sabia direito como tínhamos acabado assim, só sei que eu gostava, além de ser divertido vê-la com os sentimentos totalmente expostos, era gratificante, porque eu sabia que ela era sincera, sem segundas intenções. Sentimentos puros e verdadeiros que eram como uma espécie de energia para mim e algo particularmente viciante.
- E-eu tenho que ir - tropeçou nas palavras, tentei segurar o riso aproximando meu nariz da cabecinha da pequena menina tragando seu cheiro de bebê. Cha AeRa nunca decepcionada, sempre me dava exatamente o que eu queria e eu gostava muito disso. - Até mais tarde. - Disse e logo em seguida saiu. Fiquei encarando a porta por um breve momento e depois soltei um suspiro.
- É divertido - soltei para mim mesmo sentindo meu coração bater com força. Ela exercia esse tipo de força sobre mim e não vou mentir, nem negar para mim mesmo eu gostava, fazia com que me sentisse vivo e com propósitos novos, minha cabeça martelada vários planos e um deles era sempre fazer de tudo para vê-la ruborizada daquela forma. - HyeRin-ah - me dirigiu a criança que prontamente respondeu me olhando. - A vida muda muito rápido, aprenda isso desde já, o que antes não era, agora é e é perfeito assim. - Eu sabia que ela não poderia entender a profundidade dessas palavras, mas elas me serviam muito bem, por muitos anos deixei escapar pelas minhas mãos a chance de ter aquilo que poderia preencher o vazio que eu nem sabia que existia, porém agora que estava ciente desse vazio e de como preenchê-los, eu não fugiria mais. Estava decidido a aceitar esse destino, estava decidido a aceitar essa felicidade que a vida resolveu me dar após tirar-me tudo. Definitivamente estava pronto.
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