Capítulo 16 | Ciúmes
A volta para casa foi silenciosa. O jogo havia sido intenso, mas nada comparado à tensão que pairava entre Louis e Harry desde a situação no camarote. Não houve risadas descontraídas no caminho, nem brincadeiras sobre os lances mais bizarros da partida.
Apenas um silêncio carregado de pensamentos não ditos.
Sei que a essa hora, querido leitor, você deve ter se assustado com a mídia escolhida, mas segurem o coração, ainda, não é uma discussão calorosa...
Ao chegarem, Harry seguiu para a cozinha, ocupando-se em fazer um chá, ele não tinha bebido nada além de uma cerveja. Ele abriu o armário e dedilhou os dedos pelos sachês soltos, fingindo uma imensa concentração para escolher o chá, tentando ignorar o nó apertado em sua garganta.
Louis, por sua vez, acabou acendendo um cigarro próximo a varanda da sala. Ele estava tentando não pensar no que havia acontecido, mas era quase impossível de ignorar o que ele estava sentindo. A sensação de ver seu Harry grudado a outro homem foi extremamente dolorosa.
Depois de alguns minutos, Harry quebrou o silêncio, já com seu chá quente em sua xícara, ele se sentou a uma poltrona na sala enquanto mantinha o seu olhar baixo.
— Olha... Me desculpa pelo que você ouviu. O Liam é bobo e exagerado às vezes. É claro que você não estava com ciúmes de mim...
Louis, que estava escorada na porta de vidro da varanda, suspirou antes de responder.
— Mas eu estava mesmo com ciúmes de você.
Ele disse sem olhar para Harry, a voz firme, mas carregada de constrangimento. Harry parou no meio do movimento, a frase ecoando em sua mente. Por um momento, ele nem soube como reagir. Ciúmes? Louis? Daquele jeito?
— Você estava com ciúmes do Harry Kane?– sua voz saiu baixa, quase hesitante.— Mas por quê? Eu jamais ficaria com um amigo seu...
Louis soltou um suspiro longo, finalmente virando-se para encará-lo.
— Estava. Você e ele estavam próximos, ele começou a te abraçar o tempo todo, ele estava atrás de você e eu não gostei.
Harry sentiu seu coração derreter um pouco, mas tentou se segurar. Ele queria entender, mas, ao mesmo tempo, sentia-se confuso.
— Eu... Eu não entendo.
Louis arqueou uma sobrancelha e cruzou os braços.
— O que você não entende, querido?
Encostando-se no balcão, Louis parou de tragar o seu cigarro, focando toda sua atenção em Harry.
— Eu já te disse. Não gosto de dividir o que é meu. Mas é claro que não vou te proibir de ficar com ninguém... Só te peço que saia com pessoas que eu não conheço. Não quero ter que dividir o que é meu com alguém próximo.
Harry inspirou fundo, sentindo que precisava ser sincero.
— Bem, uma hora você diz coisas assim, e na outra você me lembra que temos quartos separados. Eu... Eu sei que isso tudo é de mentirinha e que logo eu vou ganhar meu green card, mas hoje Liam tinha razão... Eu...
Louis o observou por um instante, e então suspirou.
— Eu te falei isso desde o início. Não gosto de dividir o que é meu. Sei que temos um relacionamento falso, mas estamos nos relacionando de forma amorosa e sexual, e eu sou ciumento. Você é meu. Moramos juntos, mas estamos em quartos separados porque a sua mãe me pediu, e, quando você quiser ficar com outra pessoa, eu imaginei que fosse querer a sua privacidade. Como não temos algo sério, não vou te proibir de nada. Só te peço que seja seletivo com quem escolher.
Houve um breve silêncio antes de Louis acrescentar, num tom mais baixo.
— Por mim, você não iria embora depois de conseguir o seu green card. Gosto da sua companhia, gosto que esteja morando aqui... Eu estava me sentindo muito sozinho depois que perdi a minha mãe. Essa casa é grande demais só para mim e para o Clifford.
Harry sentiu seu peito apertar. Mais uma vez, não era exatamente aquilo que esperava ouvir. Ele queria algo mais direto, mais definitivo. Mas talvez estivesse esperando demais.
— Eu sou seu, mas posso ficar com outras pessoas, assim como você também pode... É isso?
Louis franziu o cenho.
— Por que está me perguntando isso? Você não quer ficar com outras pessoas?
Harry desviou o olhar, passando a língua pelos lábios antes de responder.
— Só quero entender direito o que você está dizendo... É isso, não é?
Louis inclinou a cabeça, analisando-o.
— Me diga o que você quer.
Harry prendeu a respiração por um instante. Ele queria Louis. Queria estar com ele de verdade, sem essas regras estranhas e sem essa sensação constante de que tudo era temporário. Mas não conseguia dizer isso. Não queria parecer bobo, nem vulnerável demais.
Por isso, desviou.
— Quero entender como isso vai funcionar... Se não somos nada e não temos nada, então talvez devêssemos pegar leve em algumas coisas.
Louis fechou os olhos por um segundo, respirando fundo.
— Acha que estou pegando pesado, não é? Você deve estar me achando um maluco por impor essas coisas... Me desculpe.
Harry o encarou por alguns segundos antes de murmurar.
— Não... Só... Esperava ouvir outra coisa.
Louis não respondeu de imediato, e o silêncio que se seguiu pareceu ainda mais pesado.
— Mas, tudo bem. Eu te aviso quando trouxer alguém aqui, sem problemas. Só preciso saber... Você vai contar a verdade para os seus amigos?
Louis balançou a cabeça.
— Não. Todos vão continuar pensando a mesma coisa, que o nosso casamento é real.
Havia algo na maneira como ele disse aquilo que fez Harry apertar os lábios.
— Isso é um problema para você?
— Não... Mas pode se tornar quando você ficar com outra pessoa na frente deles. Ou vice-versa.
Louis arqueou uma sobrancelha.
— Eu não vou ficar com outra pessoa na frente deles. É com isso que você está preocupado?
Harry hesitou, sem saber bem como responder.
— Eu não estou pensando nisso agora.– Louis acrescentou, desviando o olhar.— Harry, eu não sou nenhum tarado que fica atrás de pessoas o tempo inteiro. Acabamos de chegar de viagem e eu estou de boa.
Ele fez uma pausa antes de continuar, o tom mais leve, quase cansado.
— Nem mesmo estou saindo de casa para conhecer alguém. Com a Champions League, estou atolado de trabalho e vou precisar viajar de novo.
Harry apenas suspirou, sentindo-se ainda mais frustrado. Não era a resposta que queria ouvir. Mas talvez ele estivesse esperando por algo que Louis não estava disposto a dar.
E, por isso, desistiu.
— Certo. Eu... Eu vou subir e descansar um pouco.
Louis assentiu devagar, ainda parecendo perdido em pensamentos.
— Está tudo bem... Eu subo daqui a pouco.
Ele ficou ali parado, ouvindo o som dos passos de Harry desaparecendo pelo corredor. O silêncio voltou a preencher a casa, e Louis percebeu que não gostava dele tanto assim.
Por isso, depois de alguns minutos, subiu também.
Sem pensar muito, foi até o quarto de Harry e se deitou a sua cama. Ele não disse nada. Não precisava.
Harry já havia entrado no banho. O vapor quente do chuveiro envolvia o banheiro, tornando o ambiente ainda mais abafado, mas Harry não se importava. Ele deixou a água cair sobre seus ombros, tentando, sem sucesso, relaxar.
Seu corpo podia até aliviar a tensão, mas sua mente continuava acelerada, repassando cada palavra da conversa com Louis.
Ele havia entendido o que Louis quis dizer. Não gostava de dividir o que era "dele", mas, ao mesmo tempo, não queria assumir nada.
Não havia um "nós" de verdade, apenas regras estranhas que ele próprio impunha e expectativas que ele fingia não ter. Harry estava tentando compreender as coisas do jeito certo, tentando se encaixar nesse relacionamento de mentira sem se perder no meio, mas cada vez ficava mais difícil.
Porque Louis era o problema. Louis sempre seria o problema.
Harry sabia que, para Louis, aquilo era casual. Um acordo conveniente que, por acaso, envolvia sexo, ciúmes e uma convivência estranhamente íntima. Mas, se era só casual, então por que Louis não queria vê-lo com outras pessoas? E, pior ainda, por que aquilo o incomodava tanto?
Respirando fundo, Harry fechou os olhos, sentindo a água escorrer por seu rosto. Ele não tinha o direito de se sentir assim, tinha?
Desde o começo, Louis nunca prometeu nada além do que já estavam vivendo. Nunca insinuou que aquilo poderia ser algo maior. Ele mesmo sempre reforçava que era um casamento falso, que tudo tinha um prazo de validade. Então, por que Harry ainda esperava ouvir algo diferente?
Porque ele queria Louis.
Mas Louis parecia não querer ninguém de verdade.
Harry mordeu o lábio e desligou o chuveiro, sentindo um frio repentino assim que o vapor começou a dissipar. Pegou a toalha, mas demorou a se secar. Em vez disso, sentou-se na beirada da banheira, pegando o celular para ligar para sua mãe.
Era o único momento do dia em que ele se sentia verdadeiramente ancorado. Falava com ela todas as noites, religiosamente, como se aquela ligação fosse a única coisa que o mantivesse firme. Bem, isso depois que Louis a despediu com um valor extremamente confortável.
A conversa foi breve, cheia de perguntas sobre sua rotina, sobre Harvard, sobre como ele estava se adaptando. Harry sorriu, disse que estava bem e garantiu que tudo estava tranquilo, mesmo que dentro de si houvesse um turbilhão de incertezas.
Ele nunca falava sobre Louis. Nunca mencionava os sentimentos confusos que cresciam cada dia mais.
Depois de desligar, ficou ali por mais alguns minutos, encarando seu próprio reflexo no espelho embaçado. Quando saiu do banheiro, vestindo apenas uma camisa larga e uma calcinha confortável, sentiu seu corpo congelar por um instante.
Louis estava ali, deitado em sua cama, esperando por ele. Harry evitou um suspiro.
Será que Louis mesmo não se entendia?
Louis sentou-se na cama, observando Harry dos pés à cabeça antes de soltar um longo suspiro. Seu coração bateu um pouco mais rápido ao vê-lo daquela maneira—despreocupado, pele úmida do banho e usando apenas aquela maldita calcinha que sempre o deixava louco.
— Vamos para o meu quarto?– perguntou, tentando soar casual, mas incapaz de disfarçar o desejo em sua voz.
Diferente de todas as outras vezes, Harry não sentiu aquela empolgação automática com a sugestão de Louis. O desejo sempre vinha fácil, natural, mas, depois daquela conversa, algo dentro dele parecia apagado.
Ele queria fingir que estava tudo bem, mas não conseguia simplesmente ignorar o gosto amargo que ainda estava preso em sua garganta.
Ele olhou para Louis, tentando não demonstrar muito, e então murmurou, em um tom gentil.
— Acho que estou um pouco cansado... Só quero deitar um pouco.
E, sem esperar resposta, caminhou até a cama, puxando os cobertores como se já se preparasse para dormir sozinho.
Louis piscou uma vez, surpreso com a resposta. Harry quase nunca recusava suas investidas, e aquilo o pegou desprevenido.
Mas, diferente do que qualquer um poderia esperar dele, ele não insistiu, nem provocou. Apenas observou Harry por um instante e então respondeu, com um tom leve e sincero.
— Então eu vou dormir aqui com você.
Ele não queria apenas transar. Louis já havia aceitado há algum tempo que gostava da companhia de Harry, mesmo sem sexo envolvido. O mês que passaram viajando juntos tinha sido uma prova disso. Todas aquelas noites dormindo de conchinha, os toques inconscientes durante a madrugada, o conforto silencioso que encontravam um no outro.
Ele não precisava de mais nada naquele momento além disso.
Harry apenas assentiu sem dizer nada e se acomodou na cama, sentindo o colchão afundar quando Louis se deitou ao seu lado. Em poucos segundos, já sentia o corpo quente do outro contra suas costas, o braço deslizando ao seu redor de maneira automática.
Era o que ele sempre queria—o toque, o aconchego, a segurança de Louis o envolvendo como se aquilo fosse natural. Como se ele realmente pertencesse ali.
Mas, naquela noite, por mais que gostasse da sensação, demorou mais do que o normal para pegar no sono.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro