
CAPÍTULO 6
Não abri o Instagram desde a noite passada, tinha medo de que Peter pudesse ter mandado outra mensagem. Eu não o segui de volta e nem pretendia, precisava esquecer que Peter Daley existia o quanto antes.
Naquele dia almocei com Bethany no restaurante universitário. A comida era boa e barata, então valia a pena comer lá de vez em quando. O lugar consistia de uma grande área coberta com mesas espaçosas espalhadas por toda sua extensão, a comida era servida por funcionários do restaurante, praticamente como acontece nos colégios.
Beny e eu sentamos em uma mesa com algumas de suas amigas da época da escola. Elas eram divertidas e simpáticas, mais ou menos como minha melhor amiga. Eu poderia passar horas lá conversando sobre as coisas mais irrelevantes sem me sentir desconfortável.
O assunto estava indo bem, falávamos sobre nossos cursos. Beny comentou que Economia não era bem o que ela esperava, mas que não desistiria agora, porque achava que poderia mudar de opinião no passar dos anos. Jill, uma garota ruiva repleta de sardas e que tinha o rosto rechonchudo, fazia Geografia e disse que estava amando o curso. Verna, outra ex-colega de Beny e que tinha a aparência parecida com a dela, exceto pelo cabelo incrivelmente escuro, pretendia mudar de curso, pois não se identificou com Administração. Quanto a mim, não tinha o que reclamar de Economia.
Tudo estava indo bem, até que Verna decidiu comentar sobre alguns rumores que se espalharam por sua turma.
— Eu tenho alguns colegas que estão umas cadeiras mais avançadas no curso. Eles disseram que Darla e Peter terminaram. Acreditam nisso? O casal perfeito da UP não existe mais.
Todas na mesa ficaram chocadas com a revelação, menos eu. No entanto, jamais diria que conversei com Peter na noite passada e ele me contou sobre o término.
Bethany me encarava descaradamente, devia querer ver minha reação depois de ouvir aquela revelação. Eu me mantive neutra, tentando não expressar qualquer sentimento.
No dia em que eu e Peter conversamos na despensa da cafeteria, Beny me fez um interrogatório antes da aula começar. Era óbvio que eu não contei a verdade para ela, apenas disse que Peter queria saber se eu havia dormido bem na noite em que me deu carona, pois eu parecia não estar nos meus melhores dias. Se ela havia acreditado, eu não tinha tanta certeza, mas pelo menos o assunto se encerrou naquele momento.
— Mas você sabe por quê? — questionou Jill.
— Peter falou para Darla que ele sabia das traições e que não era palhaço para ficar aguentando isso. Pelo que ouvi dizer isso aconteceu no corredor durante o intervalo das aulas. Muita gente viu a cena e pode confirmar.
Aquilo fazia sentido, ele havia mesmo dito que pretendia terminar com ela por causa das traições. E Peter estava certo, não era obrigado a manter um relacionamento com alguém que não sabia o significado da palavra comprometida.
— Eu não acho que seja só por isso — admitiu Verna — Aposto que ele está gostando de outra garota.
Naquele momento eu estava bebendo um gole de meu refrigerante, mas acabei engasgando ao ouvir a confissão e cuspi a bebida de volta ao copo irrompendo em um ataque de tosse. Beny, que estava sentada ao meu lado, deu tapinhas em minhas costas.
— Está tudo bem, Nilla? — perguntou preocupada.
Após alguns segundos me recompondo, limpei minha boca com as costas da mão e concordei com um aceno de cabeça.
Sequer sabia o porquê da minha reação, não era como se o que Verna disse fosse verdade. Foi apenas sua opinião, nada além disso. Mas não pude deixar de imaginar por alguns segundos que Peter realmente estivesse gostando de outra garota, e que fosse eu. Voltando a pensar racionalmente foi quando percebi o quão estúpido foi meu pensamento. Peter gostava de me irritar, apenas isso.
Confirmado que eu continuava viva, as garotas não perderam tempo em retomar a conversa.
— Disseram que a Darla chorou como um bebê — prosseguiu Verna, pelo jeito que falava parecia que ela assistiu a cena toda.
— E o que ela esperava? — questionou Beny — Não pode sair por aí traindo o namorado e achando que no final vai ficar tudo bem.
Todas acenaram a cabeça concordando com Bethany, inclusive eu.
— E quem será a próxima sortuda a namorar ele? Seria sonhar alto demais se eu disse que poderia ser eu? — perguntou Jill sorrindo perdida em seus pensamentos.
Beny fez menção de abrir a boca para falar algo. Pela cara que estava fazendo eu sabia exatamente o que era, foi por isso que chutei sua perna por baixo da mesa.
— Ai! — ela reclamou se abaixando para acariciar o tornozelo dolorido.
— O que aconteceu? — Verna questionou confusa.
— Nada — respondi pegando uma batata frita do prato de Beny e sorri como quem não tem culpa.
Eu sabia que Bethany estava louca para contar às amigas sobre minha praticamente inexistente relação com Peter Daley, mas não era algo que eu gostaria que fosse compartilhado com os outros. Rumores poderiam ser criados e eu não queria ter que lidar com eles. Meu foco naquele momento era exclusivamente a faculdade, e não deixaria que alguém me atrapalhasse.
Minha amiga entendeu o recado, pois se manteve calada enquanto o assunto Peter e Darla não acabasse.
Depois de mais alguns minutos terminamos de comer e nos despedimos das amigas de Beny, pois logo começariam as aulas do turno da tarde.
Eu empurrava minha bicicleta enquanto Beny caminhava ao meu lado. Estávamos indo em direção ao nosso Hall.
— Você está muito calada — comentei ao perceber que ela permaneceria o trajeto inteiro em silêncio.
Normalmente a loira não ficava quieta um segundo, era estranho ela não estar agindo daquela forma assim de repente.
Ela não olhou para mim quando respondeu.
— Por que você não me fala a verdade?
Parei de caminhar ao ouvir sua pergunta e a encarei confusa. O que ela queria dizer com aquilo?
— Que verdade? — questionei.
Bethany cruzou os braços antes de olhar para mim com cara de quem sabia que eu estava mentindo.
— Que você está começando a gostar do Peter — respondeu como se fosse óbvio.
— Eu... O que?! — exclamei atônita — Você só pode estar louca. Por que acha que eu ia gostar dele? A única coisa que aquele garoto sabe fazer é me irritar — tentei explicar.
Eu jamais teria um pingo de sentimento por Peter Daley.
— Não é errado você gostar dele, Nilla. Principalmente agora que está solteiro. Na verdade, é a oportunidade perfeita.
— Eu não preciso dessa oportunidade — falei voltando a empurrar minha bicicleta — Quanto mais longe eu puder ficar dele, melhor.
Bethany não perdeu tempo em acompanhar meu passo apressado.
— Não acha que ele está pegando no seu pé de propósito? Peter gosta de você, tenho certeza disso — ela afirmou, me deixando ainda mais incrédula.
— Peter Daley só gosta dele mesmo.
As palavras dele na despensa não saiam da minha cabeça, embora eu tentasse ao máximo não acreditar nelas para o meu próprio bem. Não tinha como aquele garoto gostar de mim, não rolou nada entre nós no dia da festa. Ele provavelmente tinha bebido e mentiu quando o questionei, por isso estava confuso sobre aquela noite.
— Bom — ela disse dando de ombros com um sorriso convencido no rosto, sua visão estava focada à nossa frente — Acredite no que quiser, mas acho que Peter não está vindo na nossa direção por mera coincidência.
Arregalei os olhos espantada, ela não poderia estar falando sério. Foi ao olhar na mesma direção que constatei ser verdade. O garoto caminhava tranquilamente com as mãos nos bolsos da típica jaqueta de couro, o cabelo estava perfeitamente penteado para trás com a ajuda de gel. Ver aquela cena só me fez pensar em uma coisa, sair correndo de lá. Foi exatamente o que eu fiz.
— Eu... esqueci uma coisa no restaurante — inventei a desculpa para Bethany — A gente se encontra na sala.
— Mas... — ela tentou argumentar sem sucesso, pois subi em minha bicicleta e pedalei o mais rápido que pude para longe deles.
Tive sorte de vestir uma calça naquele dia, pois jamais conseguiria pedalar tão apressadamente de saia. Talvez o destino não estivesse tão contra mim quanto pensava.
Dei algumas voltas no campus para passar o tempo e fui para a sala faltando dez minutos para o professor iniciar a aula. Bethany estava sentada no lugar de sempre, na segunda fileira. Me acomodei ao lado dela e tirei meus estojo e caderno da mochila enquanto ela me encarava.
— Vai me dizer porquê fugiu?
— Eu não fugi — falei evitando olhar pra ela, tinha medo que pudesse morrer apenas com um olhar.
— Ah, certo. É porque quando você viu Peter lembrou que esqueceu sabe-se lá o que no restaurante.
— Exatamente — concordei enquanto fingia procurar algo em meu estojo.
— Eu não caio nessa, Vanilla — ela disse em um tom sério que eu nunca escutara antes — O garoto gosta de você, dê uma chance a ele.
Respirei fundo e me voltei à minha amiga.
— Ele não gosta de mim, Beny. Não tem como. Caras como o Peter gostam das loiras gostosas, e eu estou longe de ser isso.
Era mais fácil Peter estar interessando em Bethany do que em mim.
— Se você quer saber, ele estava vindo em nossa direção porque queria te convidar para uma festa.
Arqueei as sobrancelhas surpresa.
— Peter sabe que eu odeio festas — argumentei.
— Por isso ele falou que era para você levar eu e o Douglas.
Neguei veemente.
— Sem chance. Eu não vou.
Bethany riu com minha resposta, me deixando intrigada.
— Ele disse que sabia que você diria não. Por isso me pediu para falar que te mostraria a marca dele — ela falou parecendo se divertir com aquilo — Fico me perguntando que marca seria essa e onde ela se localiza. Você é mais safada do que eu pensava, Vanilla Quinn.
Em poucos segundos meu rosto enrubesceu mais do que nunca.
Dei um tapa no braço de minha amiga e virei para frente torcendo que o professor começasse logo a aula, mas ele sequer havia chego na sala.
— Eu te odeio, Bethany — murmurei tentando apagar de minha mente imagens explícitas de Peter.
Eu não tinha parado para pensar na localização da tal marca de Peter, mas a mente pervertida de Beny estava me fazendo imaginar coisas que apenas me faziam ficar mais vermelha ainda. Eu a mataria quando tivesse a oportunidade.
A minha sorte foi que o professor chegou na sala, assim minha amiga não me perturbaria por algumas horas. Teria ficado tudo bem se ele não tivesse olhado para mim.
— Está tudo bem, senhorita Quinn? — o homem perguntou parecendo realmente preocupado — Seu rosto está um pouco vermelho
— Sim, senhor Emery. É só que estou com um pouco de calor — menti descaradamente.
Ao olhar ao meu redor, percebi que todos me encaravam de forma estranha, até mesmo o professor. Beny não parava de rir.
Foi então que percebi. Todos vestiam pesadas roupas de inverno, alguns até usavam mantas. Aquele dia estava frio, provavelmente um dos dias mais frios do ano, e eu afirmava estar com calor. Era evidente a minha mentira.
Daquele dia em diante Bethany poderia se considerar morta, pois ela estava na minha mira. Eu não deixaria barato.
Acabei perdoando minha melhor amiga pelo que me fez passar. Ela comprou um achocolatado para mim como um pedido de desculpas, o que eu não pude recusar.
A contragosto, aceitei ir para a festa de Peter, mas com a condição de que Doug também quisesse ir. A verdade era que eu estava curiosa para saber da marca de Peter, pois ele pareceu me afirmar com convicção de que era algo importante. Era claro que eu sairia correndo se mostrar essa marca envolvesse ele ter que tirar a roupa.
A tal festa seria na sexta a noite, então, segundo Beny, eu teria algum tempo para pensar em como ir vestida. Eu não pretendia usar nada especial, mas a loira insistia que eu devia ir toda produzida. Na cabeça de Bethany, Peter ia se declarar para mim na frente de todos e nós sairíamos de lá montados em seu cavalo branco, ou melhor, em sua harley-davidson. Eu adorava minha melhor amiga, mas as vezes ela fantasiava demais.
Por fim, combinei com ela de que no dia seguinte iríamos ao shopping depois da aula para comprar roupas. Eu daria um jeito de enrolá-la e sair de lá sem nada, até porque eu não tinha dinheiro para gastar com esse tipo de coisa. Todas as minhas economias estavam sendo usadas para pagar a faculdade e minha alimentação, o que sobrava ficava guardado para futuras emergências. Comprar um vestido não estava incluso.
Depois de me despedir de minha amiga, voltei pedalando para casa sem muita pressa. Eu gostava de usar aquele tempo para pensar, e nos últimos dias era o que eu mais vinha fazendo.
Quando terminei a escola, não imaginei que passaria por tudo isso. Na minha cabeça eu ia me concentrar apenas nos estudos até me graduar, e só depois pensaria em garotos. Mas a verdade era que Peter tomava conta de meus pensamentos mais do que eu gostaria. Se eu tivesse ficado sentada no sofá com Bethany naquela festa, certamente nada disso estaria acontecendo, pois Peter seria apenas o garoto babaca que atendi um dia na cafeteria. Eu nem saberia o nome dele.
No entanto, a realidade não era aquela. Sexta seria minha segunda festa desde que entrei na faculdade, o que não era de meu feitio. Nunca me dei bem com eventos sociais, preferia ficar em casa assistindo um filme ou estudando. Beny estava conseguindo me arrastar para o mundo dela, que era praticamente o de todos os jovens da nossa geração.
Minha insegurança era um problema e Bethany sabia disso, pois eu percebia suas tentativas de me animar, mas nem sempre elas funcionavam. Tudo o que sofri desde o acidente não seria apagado tão facilmente, não tinha nada que minha melhor amiga pudesse fazer. Eu ainda era a garota que carregava no rosto a marca da morte dos pais.
Hello, people.
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Vi Mello
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