Capítulo 2
Me ferrei!
Não podia ser um Dragão verde ou um azul, que são bem comuns na região? Não podia ser qualquer outro tipo de dragão? Até mesmo um Ouro Imperial, eu saberia o que fazer, mas não! Tinha que ser justo um Errante Negro, um Dragão que NINGUÉM, nem os próprios Cavaleiros, sabem lidar!
Ele me avaliava de jeito que eu não sabia se estava me medindo para saber se eu era uma ameaça ou para saber se eu valia a pena como um petisco, um lanchinho do meio da tarde.
— O. . .oi? — eu disse e ele rosnou na minha cara!
Ferrou!
Eu o observei, ele devia ter um pouco de mais de altura e quase cinco da ponta da cabeça até a ponta do rabo. Era um adolescente mesmo, quando chegasse a forma adulta teria o dobro de altura e ganharia uns metros a mais de cumprimento.
— Você está machucado? — eu perguntei e me senti uma idiota. O que eu esperava, que ele me respondesse?
Dei a volta nele, ele mão tirava os olhos de mim, parecia que me atacaria a qualquer momento. Uma de suas asas estava machucada e seu rabo estava preso em uma pedra.
— Calma, que eu só quero ajuda-lo — eu disse olhando para ele, tentando me aproximar, mas ele rugiu na minha cara de novo — Calma! Eu não vou te machucar. . . eu só quero te ajudar. . . eu posso te ajudar. . .é só você me deixar. . .
Ele virou de costas pra mim!
Dragão mal educado!
— Hey! Eu estava falando com. . . deixa pra lá — andei até a sua asa, ela parecia ferida, mas não estava quebrada, isso era bom. Eu a puxei, para ver se ela abria e se estava com mais algum ferimento, aí o dragão me bateu com a outra asa! — Quer parar? Eu só quero te ajudar!
Juro que ele bufou pra mim!
Quando puxei de novo, ele soltou um lamento de dor e rosnou pra mim. Ignorei, se ele quisesse me matar, já tinha me matado. . . eu acho. . .
Esfreguei minhas mãos, para aquece-las. Eu já tinha feito isso várias vezes, mas nunca com um bicho desse tamanho, normalmente eram esquilos, pássaros, no máximos cachorros.
Encostei as palmas das minhas mãos na asa ferida, ele tentou puxar de volta, mas eu não deixei. Logo minhas mãos se aqueceram, eu conhecia o processo. Aquilo era fácil e comum, eu amenizava dores, ás vezes a ponto do ferido não senti-la mais. O Dragão Mal Educado me olhava estranho, ainda desconfiado, mas logo eu sentiu os efeitos tranquilizantes e pude ver em seus olhos a diferença que estava sentindo, a dor dele diminuía a cada segundo. Eu conseguia saber a intensidade da dor, era bem alta, eu estava amenizar o máximo possível, mas parecia que nunca era o suficiente. Comecei a me sentir cansada, cada vez mais cansada. Usar todo aquele poder num animal daquele tamanho, estava me deixando exausta, mas era só mais um pouco, eu aguentaria só mais um pouco. Aquele Dragão estava sentindo aquela dor a dias, eu podia aguentar um pouco mais por ele.
Quando eu acabei, minhas pernas não aguentaram meu peso e eu caí, me sentindo desmaiar. Não caí no chão porque o Dragão me segurou com a cabeça e essa foi a ultima imagem que tive antes de apagar.
*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*_*
Acordei meio tonta, sem saber onde estava. Eu estava encostada em algo macio, até confortável, mas eu não estava presa num foço com um. . . Dragão!
Me sentei rápido e dei de cara com aqueles olhos amarelos. . . Sim, gritei! Mas ele me deu susto enorme!
— Aí! — eu reclamei quando ele baforou na minha cara — Você me assustou!
Eu estava deitada na deitada na pata do dragão, quem diria que escamas de dragão poderiam ser tão confortáveis? Sempre imaginei que seriam ásperas e grossas. As escamas desse dragão eram bem escuras, de tão pretas, quase azuis, mas sua barriga era mais clara, quase cinza.
— Que bom que você resolveu ser simpático. Obrigada por me segurar — eu disse tentando acariciar seu focinho, mas ele desviou — Eu só queria agradecer! — ele voltou seu olhar para mim, de um jeito bem feio — Mas você não ter me comido já é um grande feito, obrigada por isso também. Como está sua asa?
Porque eu perguntava? Eu ainda esperava que ele respondesse?
Me levantei e toque sua asa, dessa vez ele deixou sem problemas. Parecia bem melhor e já tinha começada a cicatrizar, o problema era sua cauda presa a rocha.
— Hey — eu disse para ele que começou a cheirar meu casaco — está com fome? Eu tenho um pouco de comida na minha mochila, será que você gosta de geleia de morango?
Peguei na minha mochila, eu tinha feito quatro lanches, levado uma maçã, uma pera e uma pequena garrafa de suco. Quando sai de casa achei que fosse exagero, agora eu desejava ter trazido mais.
Obvio que eu não quis dar na boca dele, metade de mim cabia na boca dele!
Deixei três lanches e as duas frutas perto dele, comi o meu e tomei suco olhando para a cauda dele, como eu a soltaria?
Ainda estava muito fraca e não tinha me alimentado direito, mas o dragão também estava mal. Eu conseguia sentir, por mais louco que fosse isso, que ele estava preso a dias ali na caverna, aquilo devia ser angustiante.
— Talvez, seu eu conseguir derrubar essa pedra aqui em baixo, a de cima, que é a que te pretende, role para baixo — eu disse pensando, o dragão parecia me entender. Por mais esforço que eu fizesse, não conseguia mover a pedra. Eu me sentia cada vez pior, mais cansada, mas não podia desistir do dragão — Hey, me ajuda aqui, empurra aqui comigo — eu disse, mas não acreditei que ele fosse me realmente me ajudar.
O Dragão colocou sua pata perto da mão, enfiando suas garras num pequeno vão entre a parede e a pedra, eu mal conseguia acreditar, de algum jeito, ele me entendia!
Empurramos a pedra juntos, com a força dele, ficou muito mais fácil, logo a pedra se moveu para o lado. Joguei meu peso contra a pedra que prendia o rabo do dragão e ela se moveu, foi pouco, mas o suficiente para que ele puxasse sua cauda e se libertasse.
— Isso! — eu comemorei, mas quase caí, precisava descansar — será que rola uma carona até lá em cima?
Ele me olhou daquele jeito estranho dele, então me agarrou com uma pata e pulou contra a parede.eu achei que ele não fosse conseguir voar, já que sua asa estava ferida, mas ele voou.
Eu sempre sonhei em voar com um Dragão, certo que sonhava em fazer isso montada nela e não sendo segurada na para dele, mas estava valendo.
O voo durou poucos segundos, só o tempo de chegarmos até a parte de cima da caverna.
— Muito obrigada — eu disse para ele — Sabe, as pessoas tem medo de você, mas não acho que você é uma fera ou algo assim. Apenas ninguém soube como te tratar ainda, não é?
Passei minha mão pelo seu focinho, ele recuou na primeira tentativa, mas eu insisti e ele acabou deixando.
— Você é muito lindo! Muito mesmo! Agora eu tenho que ir para casa, foi muito bom te conhecer!
Me virei e fui pra casa, quando já tinha andado alguns metros, olhei para trás e o dragão estava no mesmo lugar, me olhando.
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Cheguei em casa na hora do jantar, minha mãe me perguntou onde tinha estado, mas inventei uma desculpa, não quis contar do dragão para ninguém, eu queria guardar aquela história só para mim. Talvez eu contasse para o Matheus quando ele voltasse da Escola de Dragões.
— Gostou do livro, filha? — meu pai me perguntou.
— Livro? — Droga! Eu tinha deixado o livro na mochila, no fundo do foço! Eu ia ter que voltar com uma corda no dia seguinte para tentar pegar o livro de volta — Sim, claro. Muito interessante.
— Espero que considere usar seu dom para coisas maiores — ele disse sorrindo, Pai, você não faz ideia!
Eu fui dormir assim que acabou o jantar, ainda estava muito cansada. Deitei e dormi quase instantaneamente, mas não deixei de sonhar.
Sonhei com dragões e voos.
No dia seguinte acordei no horário normal, mas não pretendia ir para a escola. Arrumei minhas coisas e sai quase que escondido, eu precisava da minha mochila de volta. Eu tinha uma corda e um gancho na minha sacola, aquilo ia ter que servir. Demorei para achar a gruta de novo, eu estava quase entrando quando me senti vigiada, olhei ao redor, mas não vi nada.
Entrei na gruta e fui caminhando devagar, com medo de cair de novo, então algo gélido tocou minhas costas. Dei um pulo já gritando e me virei rapidamente. O dragão estava ali e, eu juro, parecia se divertir com o meu susto.
— Não faça isso! Quer me matar do coração? — ele continuou me olhando — O que está fazendo aqui, achei que já tivesse ido embora — o dragão sentou sobre as patas e ficou me olhando, olhou para a sacola em minhas mãos, depois para mim de novo — Isso aqui? É porque deixei minha mochila lá no fundo, ontem e tenho que pega-la de volta.
Ele revirou os olhos para mim?
O dragão levantou voo, se jogando no foço e voltando com a minha mochila na pata.
— Ah. . . obrigada. . . e como está sua asa? Me deixe ver — estava bem melhor, a dor tinha voltado, mas era só um pouquinho.
Repeti o processo de amenizar sua dor, era o mínimo que eu podia fazer por ele.
— Precisamos batizar você, não dá para eu continuar te chamando de "Dragão". . .Hey, to falando com você! — mas o Dragão estava fuçando na minha sacola com o focinho — Você quer mais sanduiche de geleia? Eu tenho mais, mas esse é de geleia de uva, tudo bem?
Peguei os dois lanches que tinha na minha sacola e joguei para ele, que pegou no ar, quem diria que dragões gostassem de geleia?
— Me desculpa, só tenho esses, mas tenho mais em casa, se você quiser. . . calma! — ele começou a empurrar com o focinho, acho que queria mais.
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— Acho que vou te chamar de "Geleia", o que acha? — eu estava na floresta, lendo mais um livro, encostada na barriga do Dragão, que eu ainda não tinha conseguido achar um nome para ele. Já fazia quase uma semana desde que nos encontramos pela primeira vez, ele e eu nos tornamos amigos. Mesmo que ele fosse mal humorado ás vezes, ele adorava geleia e todo dia eu trazia um pouco para ele, mas não podia ser muito, ninguém sabia que dos nossos encontros.
— RRRRRRRRRRRRR — ele fez, isso queria dizer não.
— E por que não? Você adora geleia! Ta bom, que tal Morango? A sua geleia favorita é a de morango. Se bem que você é azul, então deveria ser Mirtilo. . .
— RRRRRRRRRRRRR.
— Ok, nada de frutas. . . Você é difícil de agradar. . . nenhum nome você gosta, você vai dar um colapso na minha mente — eu ri.
— SSSSSSSSSSSSSSSSSS — esse era o "sim" dele.
— O que? Você gostou desse? Colapso? Jura?
— SSSSSSSSSSSSSSSSSS.
— Ok, então vou te chamar de Colapso. . . sabe que é um nome meio bobo para um dragão, né? — ele apenas me olhou e bateu uma asa, fazendo um vento bem na minha cara e me enchendo de terra — Você não sabe brincar!
— SSSSSSSSSSSSSSSSSS.
Ele era um muito divertido e tinha se tornado meu melhor amigo, Matheus me mandava cartas, mas eu sentia muito a sua falta. Colapso estava me ajudando muito, eu me sentia em paz com ele.
— Olha Colapso, Matheus me mandou mais uma carta, quer que eu leia?
— SSSSSSSSSSSSSSSSS.
— Ok.
Elyse
Aqui é uma loucura, temos testes e treinos todos os dias, o Grande Circuito do Dragão, que é onde faremos a prova final para os Cruzadores, é bem complicado. Acredito que muitos daqui não conseguiram completa-lo. Ontem eu completei pela primeira vez dentro do tempo, estou otimista agora.
Você tiraria isso aqui de letra!
Ontem, Sir Alexander em pessoa veio nos assistir treinar. Sorte que eu só vi quando já tinha terminado o percurso, de não acho que teria ficado nervoso. Quem cuida disso é Sir Torin e eu já fico nervoso, imagina com Sir Alexander. . .
Na verdade, eu nem o reconheci, só soube que era ele porque o Sir Torin o apresentou a todos nós no final do treino. Sir Alexander parece ser bem mais novo do que é!
Sir Belfort também estava junto, ele é muito alto e muito forte, quase sumimos perto dele!
Minha segunda carta é para Angeline, você poderia entregar a ela? Tenho certeza que se mandasse para sua casa, sua mãe não entregaria. Sua tia é muita chata!
Estou com saudades, mas a prova final se aproxima, logo saberei se posso ser um Cavaleiro ou não.
Até breve.
Matheus.
— Sabe Colapso, meu maior sonho sempre foi ser uma Cavaleira de Dragão, poder montar em um, voar bem alto, sentir o vento no rosto. . . deve ser incrível! — eu disse suspirando — Mas eu não posso.
— SSSSSSSSSSSSSSSSS.
— Não, não posso não. Somente homens podem ser Cavaleiros, eu sou uma garota. Matheus tem sorte, ele vai ser um Cavaleiro incrível! Ele é inteligente, dedicado. . .
— RRRRRRRRRRRRRRRRRR.
— O que? Eu já disse que não posso ser Cavaleiro!
— RRRRRRRRRRRRRRRRRR.
— O que foi Colapso? Não estou te entendendo! Eu te disse que só GAROTOS podem ser montar Dragões e eu sou uma GAROTA! Eu. . . AAAAAAAHHHHH!!!!
Colapso me agarrou com a pata e me jogou em suas costas, então levantou voo.
Eu demorei para conseguir me ajeitar, estava com medo de cair, mas a minha vontade de ver tudo aquilo era maior. Quando consegui me arrumar, me sentando entre dois espinhos das suas costas e me segurando neles.
A sensação era incrível, indescritível!
O vento batia no meu rosto, quase me arrancando lágrimas, meus cabelos chacoalhavam ao vento, meu coração estava acelerado e eu tinha um sorriso enorme no rosto. Aquilo era liberdade pura!
— Consegue ir mais rápido? — eu gritei para Colapso.
— SSSSSSSSSSSSSSSSS.
Ele acelerou ainda mais, eu vi tudo lá embaixo como um borrão, puxei levemente seus espinhos e ele entendeu que era para subir, não podíamos ser vistos lá embaixo. Colapso subiu até as nuvens, passando dentro delas, estávamos numa mar branco e frio, mas era divertido.
Estiquei minha mão, sentindo a nuvem entre meus dedos, era gelado e tão diferente do que eu achei que seria. Isso me fez rir muito.
Colapso subiu ainda mais, ficando acima das nuvens, era espetacular aquela visão.
— Obrigada! — eu o abracei, ele tinha parado no ar, apenas batendo suas asas para nos manter no lugar — Muito obrigada! Você é o meu melhor amigo!
— SSSSSSSSSSSSSSSSSSSS.
— Isso foi "Sim, você também é minha melhor amiga" ou "é, eu sei que sou bom"? — eu perguntei para ele. Colapso soltou aquele som que eu acredito ser sua risada.
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