Capítulo 1
— ORELHUDA! — eu disse com raiva, jogando minha pedra no lago — Era de se esperar que, depois de dezesseis anos, eles já tivessem criado um apelido melhor.
— Não fique mal com isso — Matheus disse, ele estava sentado na pedra, lendo — Sabe que eles são uns idiotas, não possuem um décimo da sua inteligência, por isso te provocam.
— São uns idiotas, imbecis! — eu atirei outra pedra, vendo-a quicar sobre a água — Como se me chamar de Elfo fosse uma ofensa!
— Também nunca entendi isso, seu pai É um elfo — ele disse, me olhando por cima do livro.
— Eles acham que essa minha "dualidade" — eu disse com ironia — é um problema, como se o fato de eu descender de duas raças fosse uma maldição.
— Eles são mesmos idiotas! Humanos não tem nada de muito especial, elfos sim, são legais — Matheus disse sonhador.
— Só você, naquela porcaria de escola acha isso — eu bufei.
Como deu para perceber, sou filha de uma humana com um elfo. Apesar de que meu ái é bem respeitado na cidade, ele é importante e trabalha na prefeitura, a minha situação é bem diferente. O pessoal da minha escola não lida muito bem com isso, eles acham que eu tiro boas notas porque sou "metade elfo", já que os elfos são conhecidos por sua grande inteligência.
Eu nem pareço muito com um elfo, meus cabelos são castanhos claros, começam lisos e terminam em cachos, diferentes dos outros elfos que possuem cabelos claros e lisos. Meus olhos são da cor do mel, os outros elfos tem olhos azuis, verdes, amarelos e roxos, nenhuma mel. Eu passaria fácil como uma humana comum, já que não tenho nenhum das outras características élficas, como a altura (apesar que sou tão forte quanto um elfo da minha idade, o que é bem mais que um humano normal. Mas isso não é aparente), a única coisa que me entrega, são minhas orelhas. Elas são levemente compridas e pontudas, como a de um elfo.
Orelhas que, normalmente, escondo com meu cabelo.
— Mas não é isso que está me chateando — eu disse, atirando outra pedra.
— São as cartas, não é? — Matheus é meu melhor amigo desde sempre, ele tem cabelos e olhos castanhos. As meninas da nossa escola sempre reparam nele, ficam falando do seu queixo e dos seus lábios finos. . . mas Matheus perdeu pontos na sua popularidade por andar comigo.
— Sim — eu respondi — elas chegaram hoje para os que passaram na prova.
Todo ano, todos os garotos de dezesseis anos que querem entrar para a "Escola de Dragões" tem que fazer uma prova. Obvio que praticamente todos os garotos, de todos os lugares, prestam essa prova, mas apenas duzentos são aceitos. Desses duzentos, apenas setenta e cinco conseguirão passar no Teste Final e entrarem para os "Cruzadores", o nome da Armada dos Cavaleiros.
Minha opinião? Eu acho esse nome meio besta!
— Se você pudesse entrar para a Escola, seria, com certeza a melhor Cavaleira — Matheus me disse — Mas não ligue, sabe que esses idiotas da nossa escola nunca passariam na prova.
— Eu sei — eu lancei outra pedra — mas é um saco! Eu tirei a maior nota na prova e tudo o que me disseram foi "Que pena que você é mulher".
Eu tinha pedido para fazer a prova junto com os rapazes, ninguém entendeu o motivo, já que eu nunca poderia entrar, mas me deixaram fazer, como uma brincadeira. Era quase uma caridade, um favor para garota estranha, porque o pai dela é importante. Mas, para a surpresa de todos, a "Orelhuda" tirou nota máxima, a melhor de todo o meu distrito, a melhor do estado. O avaliador disse que poucas vezes viu uma nota parecida com a minha, a última foi a de Sir Alexander, o atual líder dos Cavaleiros.
— Eu sei que você queria muito entrar, mas ser Cavaleiro não é tudo isso, tem muitas outras opções. Eu, por exemplo, estou pensando em seguir na área agronômica. Cada vez há mais plantações e precisamos. . .
— Matheus, corta essa! Você foi aceito, eu sei — eu falei me virando para ele — Você recebeu a carta hoje de manhã, não é?
— Eu. . .
— Nem tente mentir pra mim — eu ameacei, me sentando do lado dele — Sei que da nossa escola, duas pessoas foram aceitas. Uma eu sei que foi o Louis, já que ele fez questão de esfregar isso na minha cara hoje, tenho certeza que o outro foi você.
— Sim — ele respirou fundo e tirou um envelope amassado do bolsa da calça — mas é muito injusto, tudo o que sei sobre dragões, foi com você. Essa paixão por Dragões é sua, eu apenas fui contagiado. Aprendi a ama-los com você. . . não é justo que eu vá e você não!
— Matheus, eu fico feliz de que seja você, pelo menos eu sei que você vai fazer por isso por amor aos dragões, não pelo status ou pela fama. Você realmente quer isso.
— Mas ainda me sinto culpado. E você? O que você vai fazer?
— Ainda não sei — foi a minha vez de suspirar — minha mãe me disse que vai me apoiar em qualquer decisão, mas sei que ela sonha que eu trabalhe na casa de ervas, como ela. Meu pai disse que eu devia "aflorar" meu lado élfico e seguir algo na linhagem da família dele.
— Como o que? — Matheus perguntou divertido.
— Não sei, ele acha que pode desenvolver esse poder de cura — eu disse olhando para as minhas mãos — Meu pai disse que não são todos os Elfos agraciados com esse dom e eu devia desenvolvê-lo e usa-lo para o bem maior — eu imitei meu pai — Mas também me disse que me apoia incondicionalmente. Minha tia acha que devo seguir o exemplo dela e arrumar um marido rico que banque meus luxos — nós rimos disso.
— E o aplicador da prova, o que te disse?
— Que minhas notas são tão perfeitas e que meu conhecimento sobre dragões é tão notável, que eu poderia trabalhar para os "Cruzadores", eu seria uma excelente "Cuidadora de Cavaleiro" — falei fazendo careta e Matheus riu de mim, de novo.
Cuidadoras são as mulheres que, literalmente, cuidam dos Cavaleiros. Elas tem a função de garantir que sempre estejam bem, sempre bem alimentados, que nunca faltem nos treinos, que nunca deixem de estudar e cuidem de seus ferimentos. É tipo " Babá de Cavaleiro", mas é considerado uma grande honra. Cada Cuidadora é escolhida a dedo pelo próprio Cavalheiro, ele pode testar várias até achar a Cuidadora ideal, a que estará com ele para sempre. Quando se é escolhida, sua vida se volta para o Cavalheiro, mesmo que se case e tenha filhos, em primeiro lugar, sempre estará seu Cavalheiro. Qualquer pessoa que incomode uma Cuidadora, terá que sofrer a pena escolhida por seu Cavalheiro.
Há alguns casos de Cavalheiros que se casaram com suas cuidadoras, o primeiro que fez isso foi o Sir Marcus, pai de Sir Alexander. Isso foi uma grande revolução dentro da hierarquia dos Cruzadores, mas, assim como o filho, Sir Marcus, era o líder dos Cavaleiros e ninguém quis discutir com ele. Sir Alexander é o primeiro Cavaleiro filho de uma Cuidadora.
— Você quer ser Cuidadora?
— Não sei, mas é a coisa mais perto do meu sonho e eu vou poder viver numa casa que tenha um dragão, vou poder conviver com ele. . .— eu disse já sonhando.
— Se eu fosse seu Cavalheiro, deixaria você montar no meu Dragão — Matheus falou e eu comecei a rir do duplo sentido daquilo — Não foi isso que eu quis dizer!
— Eu sei! Você só tem olhos para a doce Angeline — Angeline é minha prima, desde que eu me lembre, Matheus é apaixonado por ela, mas a minha tia (irmã da minha mãe) nunca deixaria Angeline se envolver com o filho do ferreiro, mesmo que Angeline demonstre sentir o mesmo por Matheus — Sabia que se você se tornar Cavaleiro, minha tia vai dar a mão de Angeline a você prontamente, né?
— Eu não tinha pensado nisso. . . — ele falou, mas eu tinha certeza que tinha pensado sim.
— Se eu for Cuidadora, espero que seja a sua. Não consigo me imaginar engraxando as botas de alguém. . . Imagina se eu sou escolhida por um Cavaleiro arrogante?
— Você o mata com sua espada e foge com o dragão dele! — Matheus falou e nós rimos.
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— Foi se despedir do Matheus? — minha mãe me perguntou durante o jantar, já fazia dois dias que Matheus tinha recebido a carta, ou seja, já tinha partido para a Escola.
— Fui sim — eu estava sem fome, brincando com meu macarrão.
— E como foi? — minha mãe insistiu.
— O pai dele estava orgulhoso, já disse para todo mundo que seu filho caçula será um Cavaleiro. O irmão mais velho dele disse que está feliz pelo irmão e por assumir a ferraria sozinho. E a mãe do Matheus chorou muito, disse que não queria que o filho fosse embora e que a culpa era minha — eu dei de ombros.
— Sua? — meu pai perguntou divertido.
— Sim, ficou gritando que nunca deveria ter deixado o filho ser amigo de uma dividida e que fui eu quem colocou essas ideias de Cavaleiro na cabeça dele, porque. . .
— Dividida? Como assim "Dividida? — meu pai perguntou num sobressalto, me assustando. Eu senti um pouco de raiva na voz dele, o que era bem raro. Meu pai sempre foi muito pacifico.
— É assim como me chamam ás vezes. Dizem que eu tenho uma "dualidade", mas acho que nem sabem o significado dessa palavra. Normalmente é só Orelhuda, Sem Raça, Elfa Fajuta. . . esse tipo de coisas agradáveis.
— Melhor do que eu — minha mãe comentou — Normalmente sou a "P. . . do Elfo", "A que não foi capaz de arrumar um homem e achou um Elfo". . .
— Quem chama vocês assim? — Meu pai bateu a mão na mesa, me assustando de verdade.
— Muitas pessoas, amor — minha mãe respondeu.
— O pessoal da escola também fala que sou uma fraude, só tenho boas notas porque sou "meio elfo".
— Isso é um absurdo! É uma grande falta de respeito! — meu pai bradou.
— Tudo bem, amor. . . — minha mãe tentou falar, mas meu pai a interrompeu.
— Não! Não está tudo bem! Nunca me falaram tais coisas!
— Pai, eles não falam para você, porque você é importante. Mas sempre nos falaram essas coisas.
— Mas Elyse, isso é inaceitável! Temos que fazer algo contra isso! — meu pai estava bravo.
— Fazer o que, pai? — eu perguntei.
— Elyse, quando vemos algo errado acontecer e não fazemos nada contra isso, somos tão errados quanto quem faz — ele falou, já mais calmo.
— Amor — minha mãe o chamou — essas pessoas não entendem o que estão falando, apenas falam o que foram ensinadas a falar. Elas dizem que nosso amor é errado, mas não sabem explicar o porque é errado, então inventam desculpas.
— Eu sei. . .mas isso. . .é tão difícil pensar que minha própria família passa por isso.
— As pessoas zombam do que é diferente, porque elas mesmas não tem coragem de ser quem realmente querem ser. Sou muito feliz sendo a mulher de um Elfo e tendo uma filha "dividida" — minha mãe riu e eu acabei rindo também.
— Sim, mas. . .
— Nada de "mas", vamos mudar de assunto! — minha mãe disse, interrompendo meu pai — Alguma novidade no trabalho?
— Sim! — meu pai disse se lembrando de algo, então se virou para mim — Sei que ama Dragões, mas não vá se animar e querer sair por aí sozinha!
— Por que?
— Foi visto um Dragão Errante Negro por esses lados. . .
— Um Dragão Errante Negro? — eu gritei, quase cuspindo minha comida.
— Filha! — minha mãe me reprendeu.
— Desculpa — eu falei — Mas, pai, como assim? Quando? Onde?
— Na cidade vizinha, mas pelo caminho que acreditam que ele fez, não deve estar próximo de nós. Porém, não podemos nos descuidar. Há caçadores e Guardas atrás de pistas, se encontrarem qualquer coisa, os Cavaleiros serão notificados.
— Mas é tão sério assim? — minha mãe perguntou.
— Tá brincando mãe? Um Dragão Errante Negro é o dragão mais poderoso! Ele é filhote de um Dragão das Trevas com um Dragão da Noite! É o mais rápido e forte! Ele é o ápice dos dragões!
— E você, mocinha — meu pai apontou para mim — vai ficar bem longe!
— Pai — eu respondi — eu sou louca por Dragões, não para ser morta por um! Um Dragão Errante Negro é indomável.
— Um Dragão totalmente indomável? — minha mãe perguntou.
— Sim. Não há registro nenhum na história de alguém que tenha domado um Errante Negro, mas já houveram experiências e tentativas — eu explicava — dizem que Sir Marcus e Sir Alexander conseguiram cuidar de um que estava ferido, o levaram até a casa de Sir Marcus e trataram dele, até que ele se recuperou e foi embora.
— Mas esse era um filhote bem pequeno. O que foi avistado, pelo jeito, já é um adolescente, já esta formado, grande e bem instável. Por isso a preocupação de todos. Mas estão seguindo caminho do rio, acham que ele está a procura de comida e abrigo, deve estar ferido.
— Que pena, um ser tão grandioso quanto ele! — eu lamentei — Mas o que será que foi tão forte para ferir um Dragão desse porte?
— Não sabemos, mas, como ele é um adolescente, deve ter sido outro Dragão já adulto.
— Eu apenas fico imaginando, um Errante Negro deve ser lindo. . .
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Depois de três dias, ás buscas pelo Errante Negro ainda continuavam, mas estavam cada vez mais distantes de nós. Ouvi dizer que alguns Cavaleiros viram até nosso povoado, se nada fosse encontrado. Eu estava torcendo para que viessem mesmo, adoraria ver os dragões! E diziam que Sir Alexander viria também, o dragão dele era um Dragão de Ouro Imperial, muito raro e lindo!
Meu pai tinha me dado um livro élfico, falando sobre o poder de cura e de amenizar dores, disse que precisava estudar sobre isso. Eu possuía esse dom e precisava desenvolve-lo. Eu, normalmente ficava na Casa de Ervas, mas não conseguia me concentrar na minha leitura. Fui para a casa e me senti do mesmo jeito, não conseguia achar posição para ler, sentada, deitada, nada estava bom.
De repente senti uma vontade enorme de ir para a floresta, obvio que só iria até a parte permitida. Arrumei uma mochila com comida (acabei levando bem mais do que o necessário) e fui andar pela floresta, procurando um luar onde eu pudesse ler em paz.
Estava procurando a um tempo já, andando cada vez mais. A flamula amarela, que indicava até onde podíamos ir, ainda estava distante, eu poderia caminhar mais. Encontrei um troco de arvore caído, não era o ideal, mas serviria. Eu estava quase tirando a mochila das costas, quando ouvi algo, era como um assovio, mas também parecia um choro.
Eu nunca tinha ouvido aquilo ou nada parecido!
Andei procurando pelo som, poderia ser alguém em perigo, precisando de ajuda. Adentrei um pouco mais a floresta, mas eu olhei a flamula, ainda tinha alguns metros, se o som viesse depois daquilo, eu voltaria e chamaria por ajuda. Encontrei a entrada de uma gruta escondida na rocha de um pequeno monte, o som vinha de lá de dentro, talvez alguma criança perdida.
Mas não era choro de criança, era um assovio, uma lamentação que me cortava o coração, mas que eu não conseguia reconhecer. Dentro da gruta estava levemente iluminado, então fui tateando pela parede. Era estranho que tivesse vegetação ali dentro, o que queria dizer que de algum jeito o sol entrava ali e tinha alguma fonte de agua. As paredes eram úmidas, eu devia estar perto de uma nascente.
Mais a frente havia um espaço um pouco mais iluminado, olhei para cima e vi um buraco em formato de círculo. A vegetação ali em cima, era tão espessa, que qualquer pessoa que caminhasse por cima daquele monte, poderia não ver o buraco e cairia direto da gruta.
—AAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH
Lembra do buraco lá do teto? Tinha um no chão também.
É, eu não vi e caí direto.
Tentei me agarrar em alguma coisa, eu ia cair direto nas pedras, eu não sabia a profundidade, ia me machucar feio. Feri minha mão tentando me segurar, mas me agarrei a uma pedra. Tentei apoiar meu pé, eu estava pendurada pelos braços, agarrada a um pedra que parecia que ia se soltar a qualquer momento. Apoiei meu pé esquerdo, mas meu pé direito escapou, eu precisava subir, a saída não estava tão longe, talvez eu conseguisse escalar até lá.
O Assovio de dor soou mais alto, era algo abaixo de mim, eu tentei virar minha cabeça pata ver que ou que estava fazendo aquilo, o que foi muita estupidez da minha parte. A pedra que eu segurava se soltou e eu caí de novo.
Dessa vez caí direto e não tinha como segurar.
— AÍ!!!! — algo amorteceu minha queda, bati nessa coisa e rolei pelo chão arenoso, quase dando de cara numa parede de pedra.
Levantei zonza, sem entender onde estava por um momento, limpando meu rosto, olhei na minha frente, a parede de pedra devia ter uns cinco metros, eu estava presa numa espécie de foço, como eu ia sair dali?
Então ouvi um rosnado atrás de mim e congelei no lugar, até a respiração eu prendi.
O rosnado soou de novo e me virei devagar, bem ali, na minha frente, estava um dragão que me olhava de um jeito não muito legal.
Me olhando nos olhos, a poucos metros de mim, estava o Dragão Errante Negro.
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Sim, a trilha sono é só de musicas Animes, a explicação é simples?
Porque eu quero!
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
:*
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