— Tomei minha decisão, Grilogum!

O gnomo gigante sorriu.

— Decidiu irmos procurar sua irmã, a Magatec Gilda Moliarte, Miarina?

A fantasma deu de ombros.

— Fazer o que? Me incomoda o fato de ter que pedir auxílio, para aquela infeliz, mas se não tem outro jeito... — resmungou a bruxa no mesmo instante em que, um pequeno objeto voador, num primeiro momento, não identificado, transpassou-lhe corpo fantasmagórico. Surpresa, indagou: — Que passarinho mais estranho é esse?

O gnomo gigante Grilogum ao ver a entrada atabalhoada do pênis voador, alarmou-se.

— E-es-esse e-é... — Gaguejou...

O bigulinzinho alado parou diante do rosto da bruxa desencarnada, fosse um beija-flor. Apresentou-se:

— Oi! Eu sou o Pintossilgo!

A bruxa Miarina arregalou os olhos.

— O passarinho fala?

— É logico que falo! Falo um monte de coisas! Sou muito faladeiro!

— E que coisas gosta de falar?

— Gosto de falar de tudo, mas o que mais gosto, sabe o que é?

— O que você mais gosta, passarinho fofo?

— Mais do que falar, gosto de ouvir.

— E o que mais gosta de ouvir? — Quis saber, Miarina.

— Gosto de ouvir o seguinte chamado: Vem ni mim!

A aparição fantasmagórica surpreendeu-se com a resposta.

— E quem costuma lhe dizer: "Vem ni mim"?

— Um montão de buraquinhos.

— E buraquinhos costumam falar?

— Se os buraquinhos costumam falar eu não sei, só sei que os ouço dentro da minha cabecinha.

— Falando em cabecinha, sabia que você tem uma cabecinha muito bonitinha — admirou-se, enternecida.

— Você acha minha cabecinha careca, bonitinha?

— Eu acho!

— Você passaria a mão na minha cabecinha?

— Se pudesse, não só passaria mão na tua cabecinha, como também o abraçaria e, lhe encheria de beijinhos.

— Porque você me abraçaria e me encheria de beijinhos?

— Porque você é um passarinho muito fofo e diferente, aliás, tenho a leve impressão de já ter visto outro de sua espécie, em algum lugar.

— Faz tempo que não vê passarinhos da minha espécie?

— Pelo que me lembro...

— Tem muitos como eu por aí, embora, alado, acho que só exista eu em todo mundo.

— Os da tua espécie que não são alados, ficam presos onde?

— Os da minha espécie que não são alados, ficam preso no meio das...

— PINTOSSILGO! — Alarmou-se Grilogum.

— Só existe você de sua espécie alado no mundo, Pintossilgo?

— Acho que sim! Posso lhe fazer uma pergunta?

— É logico que pode.

— Além de beijinhos, você me daria uma chupadinha?

— Chupadinha? Porque você gostaria que lhe desse uma chupadinha? — Estranhou.

— É gostoso, até porque, meu papaizinho iria adorar.

— E quem é teu papaizinho, querido?

— Meu papaizinho querido é o gnomão Grilogum!

O fantasma da bruxa Miarina voltou sua atenção ao gnomo gigante. Confusa, indagou:

— Que história mais estranha é essa, posso saber? Desde quando você é "papaizinho" de um passarinho estranho, muito fofo, que ainda por cima, fala?

Grilogum sentia-se tão apavorado que, viu faltar-lhe a fala. As palavras, de uma hora para outra, teimavam em não sair de sua boca.

— Papaizinho fica tímido quando apareço em público.

— E porque teu, "papaizinho", fica tímido quando aparece em público?

— Sei lá! Só sei que sei! Você tem um buraquinho?

A bruxa espantou-se com a pergunta.

— Como assim? Não estou entendendo. Porque me pergunta se tenho um buraquinho?

— Ué! Todo mundo tem um buraquinho.

— Todo mundo quem, posso saber, criatura? — Indagou a fantasma começando a sentir-se incomodada com a bizarra prosa.

— Todo mundo tem um buraquinho nos fundilhos.

— Fundilhos, que fundilhos?

— No lado oculto da Lua.

— No lado oculto da Lua?

— Hahaha! Me confundi. Queria dizer: O lado oculto da bunda!

— PINTOSSILGO! — Bradou Grilogum.

— Ué! Estou falando alguma mentira? Toda bunda não tem um buraquinho? Espantoso seria se não tivesse.

Visivelmente irritada, respondeu Miarina.

— Se quer saber, tenho sim não um, mas dois buraquinhos e, um umbiguinho.

— Você tem dois buraquinhos? Como pode uma coisa dessas? Isso explica o eco.

— Eco, que eco?

— Ouvi: "Vem ni mim" em coro e, na hora, pensei que fosse eco. Mas não foi eco não! Foram dois buraquinhos suplicantes.

Aturdida, confusa pra dedéu, a bruxa tentava concatenar as ideias que pareciam desajustadas, enquanto, Pintossilgo, continuava matraqueando.

— Você tem dois buracos? Os dois buracos ficam na trazeira ou um na frente e outro atrás? Se bem que umbigo é um engana trouxa. Porque os umbigos fingem que são buracos, só que seus fundos, não são tão fundos como aqueles buraquinhos que, tem um fundinho bem fundo lá dento, tão lá dentro que a gente nem consegue chegar no fundo. Embora exista umbigo que nem buraco seja e sim, calombo. É como se o buraco tivesse uma corcova como os camelos. Alguns tem até pelos, coisa, aliás, muito da nojenta.

A pênis alado desembestou a falar, deixando a bruxa mal-assombrada, cada vez mais intrigada. Assim permanecendo até bater-lhe um insight. Boquiaberta, encarou Grilogum, depois Pintossilgo, novamente Grilogum...

— Esse passarinho...

— Não é o que está pensando, senhora.

— PINTOSSILGO! — Berrou.

— Sim? Miarina me chamou?

— Deixe-me olhar você mais atentamente.

— Pode olhar como também me dar uma chupadinha?

A feiticeira, desencarnada, desdenhou da pergunta feita.

— Acho que me lembro de já ter visto espécime semelhante. Já faz muito tempo. Vire de costas, quero ver se tem um buraquinho.

— Deus me livre ter eu um buraquinho na trazeira.

— Você adora buraquinhos na trazeira dos outros, não é, porque se incomodaria em ter um?

— Sei lá! Seria estranho, não acha?

— Hoje em dia já não estou estranhando mais nada. Quanto a você, olhando-o atentamente...

— Se já faz muito tempo que viu espécime semelhante a eu, teus buraquinhos estão em desuso?

— PINTOSSILGOOOOO! VOCÊ PODERIA CALAR ESSA TUA BOCA? RESPEITE A SENHORA! — Ordenou Grilogum.

— Nossa, papaizinho, porque dá brabeza?

— E você ainda pergunta, criatura?

Miarina encarou Grilogum.

— Esse passarinho, por um acaso, é o que eu estou pensando? — Indagou raivosa.

— Eu não sei o que a senhora está pensando. O que a senhora está pensando?

— O que estou pensando, cabra da peste desavergonhado, é como pode deixar o bicho solto por aí, ainda mais, com asas? Assanhado!

— Tenho que soltar o bicho para que possa fazer...

— AIIIII... — Berrou Pintossilgo ao ter sido abocanhado pelo gato.

Pênis e gato rolaram no chão. Se engalfinharam até que, por fim, Pintossilgo, de costas para o assoalho, tendo suas duas bolasas presas pelas patas do bichano... O felino encarou o bigulinzinho antes de...

O gato começou a lamber o Pintassilgo. Tão logo começou a lambição, Miarina percebeu que, o gigante gnomo Grilogum, começou a ter uns siricuticos. Começou a estrebuchar de pé, fosse pai de santo incorporando exu. A bruxa, desconfiada, com a pulga atrás da orelha, não conseguia entender bem o que estava acontecendo. Ficou abobalhada por alguns instantes até que...

— CAMBADA DE SEM VERGONHAS! MAS QUE RAIOS DE PORRA É ESSA? — Esbravejou.

O gato, diante do berreiro, assustou-se e foi embora. Pintossilgo, solto, tratou de procurar abrigo no seu cafofinho, no vão das pernas de seu papaizinho, já, Grilogum, esse respirou aliviado por sua senhora ser alma penada pois, caso tivesse corpo, nada o faria se livrar de umas boas chibatadas.

***

Estou chocado! Preciso de uma estrelinha urgentemente pois, não estou suportando tamanha indignação. Mas que capitulo mais imoral! Me deem um votinho para me acalmar ou explodirei de raiva! Aff! Se der para espalhar para todo mundo não lerem essa pouca vergonha, agradeço. Um beijo e, fique na paz!