Capítulo 29
— Eu juro, se mais alguém pedir uma reunião com você hoje, eu vou ter um ataque — Bernardo exclamou irritado.
— Do que você está falando? — perguntei tentando segurar a risada da sua expressão de bravo.
— Ezra, aquele lobo velho — ele resmungou — ele disse a todos os líderes, de todos os clãs, que eu sou seu assistente. Então, se eles querem falar com você, deveriam falar comigo antes. Mas ele não se conteve em só falar isso, claro que não! Ele passou os meus contatos, celular, email e até redes sociais, para TODOS OS CLÃS! Eu passei o dia todo recebendo mensagens e atendendo ligações, desde de criaturas te apoiando, até os que querem marcar uma reunião com você! Por Bowie, eu preciso de uma bebida! — ele disse dramaticamente.
— Sinto muito? — perguntei sem ter a mínima ideia do que falar.
— Não é sua culpa — ele bufou — Mas você tem reunião marcada para daqui a duas semanas, James disse que podemos usar o escritório de advocacia dele.
— Por essa eu não esperava — eu ainda estava muito aturdida com tudo aquilo — tem certeza?
— Gata, eu não passei por tudo isso, para você desmarcar nada! Sua agenda já está toda programada, até o Natal.
— Até o Natal? Agora quem precisa de uma bebida sou eu.
Theo, que estava do eu lado, com seu braço em volta da minha cintura, riu.
A festa ainda estava acontecendo, depois da dança com Vlad e Allegra, Theo e eu decidimos não nos soltarmos mais, já deu de bizarrice para uma única festa.
Quando Ebony e Wong já tinham vindo falar conosco, os lobos faziam reverência, mas eu impedi Theo de fazer.
— Você não — eu sussurrei para ele.
Theo apenas sorriu de canto e concordou.
Os lobos também beijavam o anel de Wong, um anel de prata com um brasão azul com uma meia lua prateada no meio.
— Espero que você não tenha esperanças que eu vá beijar isso aí — eu disse a Wong quando ele chegou perto de mim.
— Nem por um segundo — ele sorriu e me abraçou, depois abraçou Theo — esse é o anel do Alfa Marcado, cada Alfa possui um em um cor diferente e com uma fase da lua diferente, este foi feito pelo próprio Genn. Sabia que dizem que Azzare não gostava desse anel? Dizem que ela o achava feio — ele disse com humor.
— Bem, bonito ele não é — concordei com ela e Wong riu.
— Não esperava nada de diferente vindo de você.
A festa continuou, várias criaturas se aproximaram, algumas para me cumprimentar outras apenas para se apresentarem.
— Prazer, sou Eliseu — um homem se apresentou a mim. Ele aparenta ter por volta de cinquenta anos, pele e cabelos brancos e olhos azuis cristalinos.
— O líder dos Anjos Caídos — eu respondi ao seu aperto de mão — Sou Eve Acker e esse é meu lobo Theo Acker — eles também se cumprimentaram.
— Eu estava no jantar de Wong, meses atrás. Nós nos encontramos, mas não tivemos tempo de sermos apresentados, sinto muito.
— Tudo bem, tudo tem sido uma grande loucura ultimamente.
— Extremamente — ele concordou — eu marquei uma reunião com seu assistente, gostaria de discutir alguns assuntos com você, mas achei melhor me apresentar primeiro.
— Certo, aguardarei ansiosamente por essa reunião — respondi já com medo do que seriam esses tais "assuntos".
— Eu muito mais — ele piscou, então se virou e saiu.
🐺
— Por Deus — eu exclamei me jogando na nossa cama — eu só quero dormir por dias!
— Sinto em te dizer, mas só temos algumas horas para descansar — Theo disse se encaminhando na cama, até estar sobre mim — temos que voltar para casa logo, hoje é a noite da ceia do Dia de Todos Santos.
— Ah não! — choraminguei — isso não acaba? Eu preciso de férias do mundo sobrenatural!
— Sinto muito, mas sem chances — ele falou beijando meu pescoço — que tal um banho para relaxar?
— Hmm, eu gostei dessa ideia — praticamente ronronei — e você vai participar desse banho?
— Eu vou te dar o banho! — Theo me pegou no colo de surpresa, me fazendo rir, e me levou para o banheiro.
Algumas coisas valem a pena, mas tem coisas que valem tudo e Theo é o meu tudo.
Eu amo o jeito como um corresponde ao outro, amo como nos encaixamos, amo como um busca o prazer do outro porque o seu próprio depende disso. Eu o amo por completo.
Não somos perfeitos e nem casal modelo, mas temos um ou outro e é isso que importa.
— Você me deixa louco — ele gemeu na minha boca.
— Eu mal comecei — o provoquei e ele voltou a me beijar duro.
Estávamos em baixo do chuveiro, a água quente escorria por nós, mas o seu calor não era nada comparado ao o nosso próprio. Nós pegavamos fogo juntos e não víamos problema nenhum em sermos consumidos por esse fogo.
Mais rápido, mais forte, sempre intenso. Era isso o que nós éramos e eu amava.
Theo me carregou de volta para a cama, mas dessa vez foi porque eu não confiava nas minhas pernas.
— Não ria — eu resmunguei, me aconchegando a ele.
— Desculpa, mas é muito raro ver você, entregue e quietinha — ele disse beijando minha cabeça.
— Você está se divertindo com isso, não é? Pois bem — eu bocejei — durma sabendo que sua filha preferiu dormir com o Kit.
Não cheguei a contar até três, Theo saiu da cama resmungando e indo verificar Lua, que dormia no outro quarto.
Eve Wins.
Andei pela floresta, era a mesma onde eu tinha estado com Theo. A frente tinha uma caverna, a mesma onde tínhamos trocado de coração.
Eu estava com medo, meu coração martelava no peito (coração do Theo no caso, já que nós trocamos. . . Ah, você já sabe da história! ). Nas paredes haviam tochas acesas que jogavam uma luz bruxeleante no lugar. Em vez de ajudar, só tornava o lugar mais sinistro.
Um pequeno ganido atrás de mim, olhei confusa, um lobo cinzento veio até mim. Ele se aproximou e passou seu focinho na minha perna, até que abaixei e fiz carinho nele.
— Olá amigo, você está sozinho? O que foi? Está perdido? — ele parecia gostar do carinho. Eu não tinha a menor ideia do onde ele tinha vindo, eu só sabia que ele era realmente um lobo.
O lobo olhou para a caverna, ele parecia querer dizer algo. Então começou a me empurrar na direção da caverna.
— Ok, eu entendi que você quer que eu vá para lá, mas você vai comigo. Nem ferrando que vou entrar sozinha — o lobo pareceu me entender e concordar.
Entramos e fomos seguindo pelo local, as paredes tinhas os mesmos desenhos da última vez que estive aqui. E também tinha alguns (enormes) arranhões.
Cada passo era uma batida assustada do meu coração. O lobo cinza ficou do meu lado o tempo todo.
Chegamos até o paredão, onde o desenho da minha marca estava. E, quase me matando do coração, aquela velha senhora estava de pé, segurando uma tocha e me esperando.
— Quem é você? — eu perguntei depois de um tempo que ficamos nos encarando.
— Seu — ela apontou para o lobo, que parecia pronto para me defender.
— Ele não é exatamente meu, mas ficamos amigos — respondi.
— Você — ela insistiu.
— Eu não estou entendendo, do que você está falando? — perguntei — Que lugar é esse e quem é você?
— Quem é você? — ela repetiu a pergunta.
— Eu sei quem eu sou, eu não sei quem VOCÊ é — respondi revoltada. Só o que me faltava, ficar presa em uma caverna com uma louca.
— Você — ela iluminou, com a tocha que segurava, a parede atrás de sim. Em volta da minha marcar havia outro desenho, o desenho de um lobo — ele — ela apontou para o lobo do meu lado — é seu. Ele é você!
Acordei confusa, demorei para perceber onde estava.
Ele é seu?
Ele é você?
Do que aquela louca estava falando?
Theo ainda dormia, a casa estava silenciosa. Minha cabeça estava uma bagunça, eu precisava sair do quarto, dar uma volta, por os pensamentos em ordem.
Coloquei uma camiseta do Theo e sai do quarto. Fui no quarto que Lua dormia, estava dividindo a cama com Kit, os dois dormiam abraçados. Está explicado porque meu namorado estava quase surtando com isso.
Eu arrumei a coberta, beijei a cabeça da minha filha e sai daquele quarto. Fui até a cozinha, talvez um copo com água talvez me ajudasse.
Mas como a sorte não estava ao meu favor, dei de cara com Mumm-Ra.
— Hã, oi. Bom dia — eu disse meio sem jeito — só vim pegar água.
Ela olhou para mim, com aquela expressão de desprezo e voltou com seus afazeres, acho que estava batendo um bolo.
Eu me senti deslocada, era muito estranho tudo aquilo. Passei por ela e fui até o armário, ela me olhava de canto o tempo todo, como se eu fosse fazer algo de errado. Enchi meu copo de água e quando fui beber, percebi que ela resmungava coisas sobre mim e não pareciam ser coisas boas.
— Escuta aqui — eu disse batendo o copo vazio na pia — Porque você não gosta de mim? Cacete! Eu não fiz te nada e você age como se fosse errado eu estar aqui!
— E é — ele disse sem esboçar reação nenhuma.
— Perdão, como?
— É errado você estar aqui, mortos não deviam voltar.
— E quando foi que eu morri? — perguntei revoltada. Sonho com uma velha louca e agora tenho que conversar com outra, mereço!
— Muito tempo atrás, sua alma é muita velha — ela disse do mesmo jeito de antes — Eu sei que você é importante, Rainha, mas mortos não deveriam voltar. Você escolheu morrer, deveria ficar onde estava.
— Você está brincando com a minha cara?
— Por que eu brincaria com você, rainha?
— Você nem falava comigo minutos atrás, agora diz que eu não deveria estar viva e fica me chamando de Rainha? — exclamei irritada.
— É o que você é, Rainha.
"Isso é tudo devido a você, minha rainha"
Eu recuei assustada, até bater na pia. Aquilo era loucura, não era? Tinha que ser! Eu puxava o ar e parecia que não vinha o suficiente.
— Eu gosto do menino, vi ele crescer — ela continuou, sem perceber meu pequeno ataque de pânico — mas ele também não devia estar aqui.
— Theo? Você está falando do Theo? — perguntei revoltada — Dobre a língua para falar dele!
— Não estou ofendendo, sei que o Reizinho tem bom coração, você eu já não tenho tanta certeza — aquela múmia falou inclinando a cabeça e cerrando os olhos para mim — Estou dizendo a verdade, mortos não deviam voltar a vida, assim como os que já morreram não deveriam vagar por aqui ou como os que nunca nasceram não deveriam estar aqui.
— Do que você está falando, sua louca?
— Apenas aceite a verdade, a Rainha já foi viva. Você respirava, andava pela Terra, depois morreu. Agora voltou e nem sabe porquê.
— Foda-se! Vá a merda! — apontei o dedo para ela nervosa, Zoraide ainda se mantinha inexpressiva — Nunca mais fale de mim e, principalmente, do Theo! Você não sabe de nada!
— E você sabe?
A pergunta me acertou como um tiro:
O que eu realmente sei sobre mim?
— Eve — Theo entrou na cozinha e parecia assustado. Assim que ele me viu, correu até mim — Eu senti que havia algo errado com você, você está tremendo! O que houve? — mas eu mal respirava, como poderia falar? — O que você fez com ela?
— Nada, Reizinho — Zoraide respondeu — apenas respondi a pergunta dela.
— Theo, me tira daqui, eu preciso respirar lá fora — eu pedi.
— Certo, venha — ele não me deixou andar. Me pegou no colo e me levou para a parte de fora da casa — Como você está?
— Como eu estou? — eu queria gritar, mas também não queria acordar ninguém — Estou cansada dessa merda! Estou cansada das indiretas, dos sussurros, dos olhares e de velhas loucas!
— Velhas loucas? — ele perguntou confuso e eu bufei, então lhe expliquei todo o sonho e toda a "conversa" bizarra com a Zoraide.
— Eu sei que sou diferente, eu não sou idiota, eu tenho noção disso. Mas toda vez que eu tento entender, minha cabeça dói — eu bufei — Eu me sinto olhando através de uma parede de vidro fosco, é como se eu soubesse que toda verdade está do outro lado, eu consigo quase enxergar, mas eu não consigo chegar até do outro lado! — que beleza, as lágrimas estavam vindo — Que merda! Eu sei que sou diferente, sei que tem essa merda acontecendo comigo, mas eu não sei o que é e ninguém fala! Ficam com esses joguinhos estupidos e ninguém me explica qual o meu problema!
— Eve — Theo me abraçou forte — Você não tem problema nenhum! Você é perfeita do jeito que é!
— Theo, tem algo errado de comigo, sim — insisti — olha como eu sou, as coisas que eu faço, os sonhos que eu tenho! Theo, eu não esqueci que a velha da caverna disse que eu não sou uma Marcada, que eu sou uma Predestinada. Eu nem sei o que é isso!
Theo respirou fundo, ainda me mantendo. em seus braços.
— Predestinados são pessoas que foram escolhidas para serem parte importante de um plano feito por um ser maior e poderoso, alguém fora do nosso plano terrestre. Essas pessoas são selecionadas para o mudar a forma como conhecemos o nosso mundo.
— Como você sabe de tudo isso? — perguntei chocada.
— Porque eu também sou um.
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