Capítulo 34
Meu desespero era tão intenso que mal conseguia pensar em algo coerente para me tirar daquela situação. A vontade de sucumbir ao choro e me jogar no chão era quase irresistível, uma reação típica da antiga Meredith, mas a nova versão de mim mesma se recusava a ceder a esse impulso. "Talvez seja apenas uma brincadeira de mau gosto", murmurei para tentar me convencer, embora a dúvida ainda pairasse no ar. Sem conseguir visualizar soluções melhores, respirei fundo e abri a porta. E então, um palavrão escapou dos meus lábios quando me deparei com Leon encostado no batente. Seus olhos estavam cravados em mim, e o sorriso que ele esboçou foi como um golpe direto no meu peito. Um sorriso que, em tempos passados, me fazia derreter de amor, mas agora só conseguia evocar uma onda de fúria. Por mais que tentasse manter a compostura, a visão dele ali me deixou furiosa e vulnerável ao mesmo tempo.
— Finalmente meu amor. Achei que não abriria a porta para seu futuro marido. — Disse Leonidas ajeitando sua postura.
Ele parecia mais sombrio agora, e eu me questionava se essa escuridão sempre esteve presente nele, ou se era algo que só agora eu conseguia enxergar claramente. Seus cabelos já não estavam mais meticulosamente arrumados como costumavam ser, e seus olhos vermelhos me assombravam, cercados por círculos escuros que sugeriam noites mal dormidas há anos. Suas roupas, agora todas em tons sombrios, abandonaram qualquer vestígio de cor, até mesmo o vermelho que antes ele tanto apreciava. "Ou será que até isso era uma farsa?", me perguntei, deixando a dúvida pairar no ar. Seria inadequado dizer que Leon parecia ser a personificação da escuridão, quando parecia mais plausível afirmar que a escuridão emanava dele mesmo. A única coisa que permanecia inalterada em Leonidas era seu hábito de sempre estar perfumado, uma ironia cruel que contrastava com sua aura sombria. Um canalha, um traidor, mas ainda assim cheiroso.
— Não seja idiota. Acha mesmo que ainda me casarei com você depois de tudo?
Minha voz carregada de ironia enquanto tentava esconder o medo crescente que ele despertava em mim.
— Me desculpe, querido, mas você nunca foi bom no quesito humor. — Acrescentei, forçando um tom de leveza em minhas palavras. No fundo, eu sabia que aquela era uma situação muito mais séria do que qualquer piada poderia encobrir.
Não vou dar o gostinho a ele de perceber que, por mais mínimo que seja, sinto medo dele. "Eles sentem o cheiro podre do seu medo." Não vou deixar que ele sinta.
— Você está diferente Meredith. — Observou-me atentamente, passando os olhos de cima a baixo, como se estivesse avaliando minuciosamente meu visual.
Seus olhos percorreram meu corpo, demorando-se nos detalhes: minhas calças, o corpete ajustado, e até mesmo o corte recente nos cabelos. Era evidente que aquela mudança no meu visual era algo totalmente novo para ele, e a expressão em seu rosto revelava uma mistura intrigante de surpresa e desconfiança.
— O que está fazendo aqui? — Perguntei sem humor, quebrando seus devaneios ao me observar atentamente de cima a baixo.
— Vim buscar o que é meu. — Disse sorrindo.
— Não sou sua. — Respondi.
Leon soltou uma gargalhada que ressoou no quarto como um eco sombrio, como se minhas palavras fossem a coisa mais engraçada que ele já tinha ouvido. No entanto, cada risada dele parecia carregar uma energia sinistra, enviando arrepios pela minha espinha. Seu riso tinha um tom diabólico, e eu lutava para disfarçar o medo crescente que se agitava dentro de mim. Se antes eu conseguia manter uma fachada, agora era uma tarefa hercúlea, diante daquela risada que parecia ecoar até nos recantos mais escuros da minha mente.
— Mas é claro que é. — Simplesmente disparou ao cessar seu show de horrores.
O encarei em silêncio, perdida por palavras. Só podia concluir uma coisa: Leon estava doente, não havia outra explicação plausível para o seu comportamento.
— Venha comigo! — Disse, enquanto suas mãos já agarravam meus braços.
— Não vou a lugar nenhum com você, Me Solte! — Tentei me desvencilhar de suas mãos, mas foi em vão.
Leonidas prendeu meus braços para trás com tanta força que por um instante pensei ter quebrado.
— Eu já me cansei de brincar de gato e rato com você, meu amor. Não me faça te machucar. Agora, você virá comigo, querendo ou não. Entendeu? — Disse Leon, sua voz soando como a de um animal raivoso.
Sem pensar duas vezes, o impacto da cotovelada no nariz de Leon foi tão forte que o fez soltar-me por um momento. Porém, antes que eu pudesse reagir, as mãos fortes de Hugo me seguraram com firmeza, impedindo-me de escapar. Meu coração acelerou de medo e revolta quando me vi diante de Leon, sangrando do nariz e com um olhar ameaçador. Antes que pudesse me defender, ele se aproximou de mim e, com um movimento brusco, desferiu-me um tapa no rosto que fez ecoar pela sala, deixando-me atordoada. Eu senti uma mistura de dor física e emocional, minha mente gritando para lutar e resistir, mas meu corpo estava paralisado pelo medo. Minhas mãos tremiam de raiva e impotência enquanto eu tentava conter as lágrimas que ameaçavam escapar. Encarei Leon com uma fúria contida, desejando poder retaliar da mesma forma, mas sabia que estava em desvantagem. Hugo segurava-me com tanta força que deixava marcas em minha pele, seus olhos frios e inexpressivos observando a cena com indiferença. Eu tremia, desejando desesperadamente poder usar meu poder para me libertar daquela situação humilhante. Mas mesmo com toda a minha força e poder, eu não era páreo para os dois homens que me seguravam. Eu sabia que precisava ser mais inteligente, mais astuta, se quisesse encontrar uma maneira de escapar ilesa. Mas naquele momento, sentindo-me vulnerável e ferida, tudo o que eu queria era poder afastar aqueles que tentavam me machucar. E eu não descansaria até conseguir. O encarei com uma vontade enorme de pegar algo pontudo e o furar todo, chamando meu poder tentei fazer algo que machucasse Leon e Hugo juntos.
— Nem pense em fazer isso. — Disse Leon como se tivesse captado meus pensamentos.
Fiquei paralisada.
— Você acha mesmo que eu estou por fora dos assuntos sobre a mais nova futura rainha dos dois reinos? — Me perguntou.
— Você é nojento. — Soltei raivosa.
— Que pena amor resposta errada. Hugo! — Após Leon dar uma ordem a Hugo, que para mim era desconhecida, tudo se obscureceu.
...
Abri os olhos lentamente, mas a escuridão persistia em me cegar, envolvendo-me como um manto sombrio. Minha garganta queimava em uma aridez insuportável, a saliva deixava um sabor metálico de sangue em minha boca. Esticada sobre uma superfície desconhecida, minha mente lutava para decifrar o que me envolvia, enquanto minhas mãos e pés, cruelmente amarrados, clamavam por liberdade. O corpo latejava em dor, cada músculo protestando contra o confinamento imposto.
— Olá amor. — Disse Leon ao meu lado, com uma voz assustadoramente suave.
— O que você fez comigo? — Perguntei com cuidado, evitando aplicar muita força, já que cada movimento era uma pontada de dor.
— Só estou te ensinando uma lição por ter fugido de mim. Você nunca mais se afastará de mim, meu amor. — Respondeu, piscando de maneira sinistra.
— Hugo! Mais uma dose. — Concluiu Leon, ordenando a Hugo que puxasse uma alavanca em um aparelho do outro lado da sala, ou onde quer que estejamos.
Assim que ele puxou, senti uma dor excruciante atravessar todo o meu corpo, como se fosse um fogo consumindo cada centímetro de mim. Era como se tivesse dez animais selvagens me atacando simultaneamente, ou um lobo da noite que equivalia a mais de dez bestas ferozes juntas. A dor era tão intensa que meus gritos pareciam não ser suficientes para aliviá-la, e a cada segundo que passava, parecia que meu corpo estava sendo despedaçado em pedaços.Eu me contorcia e me debatia, tentando encontrar uma posição que aliviasse um pouco a agonia, mas nada parecia funcionar. Lágrimas misturadas com suor escorriam pelo meu rosto, enquanto eu tentava me concentrar para suportar a tortura que estava sendo infligida a mim. Meus pensamentos eram um turbilhão de emoções conflitantes - ódio pela pessoa que me causava tal sofrimento, medo do que ainda estava por vir, nojo pela situação em que me encontrava, e desespero pela incerteza do meu destino.
Leon finalmente levantou as mãos em direção a Hugo, que ria sadicamente da minha agonia, ordenando-lhe que parasse. Com um gesto brusco, ele desamarrou minhas mãos e meus pés, tentando me colocar de pé. Mas minhas pernas tremiam tanto que mal consegui sustentar o peso do meu próprio corpo, e a fraqueza que me dominara segundos antes me fez desabar novamente, desmaiando em meio à dor lancinante que ainda ecoava em minha mente.
...
Pela segunda vez no dia, abri os olhos e tudo estava embaçado. Agora eu estava encostada em uma parede de pedra, jogada no chão frio de uma cela. Tive que me esforçar para conseguir me sentar, pois não tinha forças e tudo doía. Soltei um gemido ao sentir a dor e tentar me mover. Olhei ao redor e vi que meus únicos companheiros eram os ratos.
— Ora, Ora. Vejo que a boneca acordou. — Disse Hugo do outro lado da cela.
— Vá se ferrar. — Falei em um sussurro. Ele riu.
— Sabe Meredith eu nunca gostei de você, na verdade eu ficava contando as horas para receber ordens de te machucar, mas pelo visto Leonidas ainda te quer viva. — Ele falou de forma monótona e desprovida de emoção.
Hugo anda de um lado para o outro, raspando a faca nas barras de ferro com um olhar ameaçador. Eu o encaro silenciosamente, desejando profundamente poder usar meus poderes para incendiar seu corpo inteiro.
— Saia Hugo! — Vociferou Leon surgindo. — Agora!
Ele está irreconhecível desde a última vez que o vi. Seu semblante está mais limpo, os cabelos cuidadosamente arrumados e a roupa impecavelmente engomada. No entanto, os olhos vermelhos e as profundas olheiras são evidências incontestáveis de suas tribulações. Hugo deixou o local às pressas, sem proferir uma palavra, sem questionar. Sua partida abrupta deixou um ar de inquietação no ambiente. Leon retira um novelo de chaves do bolso, escolhe a certa e habilmente destranca o cadeado, abrindo a porta da cela com um rangido sinistro. Meu olhar o encara, carregado de incerteza e temor. Ele adentra o recinto e, sem hesitar, tranca-nos lá dentro. Agora, somos apenas nós dois, e uma onda de apreensão percorre meu corpo, alimentando meus receios sobre suas intenções. Ele se aproxima com uma expressão sombria, agachando-se diante de mim. Estende as mãos em minha direção, e um instinto primal de sobrevivência me impulsiona para trás, ignorando as lancinantes dores que se espalham por meu corpo castigado. Num átimo, ouço o tinir das correntes. Meu olhar se dirige à minha perna direita, e só então percebo o que ele fez: estou presa às correntes que se estendem até a parede de pedra. Olho para Leon, uma mistura de incredulidade e raiva borbulhando dentro de mim. Como ele pôde?
— Eu não vou te machucar. — Disse Leon se aproximando novamente.
Sem alternativa senão confiar que não me faria mal, vi-me obrigada a acreditar em suas palavras. Ele delicadamente segurou meu rosto, deslizando os dedos sobre os machucados que marcavam minha pele.
— Você é louco. — Sussurrei, tirando suas mãos de mim.
— Sou louco por você.
Leonidas me olhava tão fixamente que transparecia claramente sua fissura por mim; mal conseguia piscar naturalmente, seus olhos estavam cheios d'água. Soltei um riso ironicamente.
— Você acha que eu sou assim tão idiota para acreditar em você? — Perguntei.
— E por que não acreditaria Meri?
— Não me chame assim! — Enfureci.
— Eu te amo. — Se declara.
Seus olhos vermelhos, que me fitam intensamente neste momento, se enchem ainda mais de lágrimas. Será que ele realmente acha que isso é alguma espécie de piada? Será que me considera tão tola a ponto de acreditar nisso?
— Mentira! Tudo o que você quer é me eliminar para satisfazer sua sede de poder. Você ama o poder, Leonidas, e não precisa se dar ao trabalho de fingir para mim, porque eu não acredito em você! — Disse, jogando as palavras em sua direção com firmeza.
— Isso não é verdade... — Ri alto em resposta a Leonidas, mas o gesto provocou uma dor aguda em meus ossos, como se estivessem sendo pressionados por dentro.
— Eu ouvi você Leon. Você estava conversando com o Hugo e com o Dempsey que antes eu nem sabia que era governador de Lós. Não ouse abrir a boca para dizer tantas mentiras.
— Meredith, eu disse aquilo no calor do momento, das emoções. Não vou te matar. Percebi o quanto você é importante para mim quando você se foi. — Disse ele, fitando-me intensamente.
— No calor do momento? Faça-me o favor Leonidas até parece. há algumas horas atrás você estava a me torturar. — Eu não acredito que estou tendo essa conversa absurda com ele.
— Não, apenas te dei uma lição por ter fugido de mim. — Retrucou.
— Isso só pode ser brincadeira. — Murmurei, quase para mim mesma.
— Eu tenho um plano maravilhoso, Meri. Veja, podemos ficar juntos. Eu posso recuperar a pele do lobo da noite, depois nos casamos e realizamos sua coroação. Você se torna rainha e nós dois governamos BrownWood, SunFifth e MoonFifth. Ficaremos poderosos, meu amor, ninguém nos segurará. Seremos eu e você contra todos.
Silêncio.Encarei-o, incrédula de que ele realmente acreditasse que esse plano absurdo poderia dar certo.
— Você é doente. — Foi a única coisa que me saiu. — Você só me quer porque é através de mim que você receberá poder. — Falei.
— Eu quero poder, Meredith, muito poder, não nego. Mas também quero você, mais do que qualquer coisa nesta vida. — Respondeu ele, aparentemente desesperado.
— Você precisa de ajuda Leonidas. — Desviei meu olhar do dele, incapaz de encará-lo por mais tempo.
— Não! Eu preciso de você. — Ele segurou meu rosto com as duas mãos e me encarou profundamente.
Em um gesto rápido e inesperado, ele me beijou. Fiquei sem reação.
— Não sentiu nada? — Perguntou reparando em minha expressão de nojo. — Isso é impossível Meri. Ei olhe para mim! Você me ama lembra? — Por um breve momento se desesperou mais uma vez.
— Não Leonidas. Eu não te amo. A pessoa que um dia eu amei nunca existiu. — O respondi.
Leon se levantou, passou as mãos pelo rosto e pelos cabelos, e então riu.
— Por que você é assim Leon? Você estragou tudo, porque fez tudo isso? — Perguntei curiosa.
— Você quer saber? Eu vou te contar. — Disse, se aproximando novamente. — Sabe de uma coisa bem engraçada? — Começou. — Minha mãe nunca gostou de mim. Ela preferia dar atenção ao filho de uma criada falecida do que para mim. E olha que ironia: ela não era a rainha maravilhosa que todos pensavam que ela era. Ela tinha um caso com outro homem, mesmo estando com meu pai, que era outro idiota que não dava a mínima para mim e vivia dizendo que eu era um fraco. E, quanto ao amante de minha mãe, sabe quem ele era?
Uma pausa longa e infinita se estende, como se Leonidas estivesse lutando para encontrar as palavras.
— O rei de Sansalom...
Meu coração congelou.
— Um belo dia. — Continuou. — Eu escutei uma discussão entre meus pais e descobri que além de trair meu pai, minha mãe tinha tido um filho com o amante e fingido o tempo todo que ele era filho de uma criada que havia falecido. Logo depois, descobri a história da lenda do Sol e da Lua e vi uma oportunidade de me vingar, de mostrar que não era um fraco inútil. Decidi me tornar poderoso e mostrar para todos que eu não era o filho bastardo, mas sim o outro herdeiro ilegítimo. Conquistei a confiança de alguns homens de meu pai e a vingança já começou por aí. — Ele riu. — Depois, tive a brilhante ideia de sabotar o navio onde eles fariam viagem para BlackWhite. Não queria que meu trono passasse para o outro, então, se ninguém soubesse, eu não teria o que temer. Pena que seus pais foram juntos... Não, espera. Foi ótimo eles terem morrido assim. Você não ficaria sabendo da história e eu poderia me dar muito melhor. Mas o infeliz do Nicolay tinha que aparecer.
Leon contou toda a história como se fosse a coisa mais normal do mundo, seu sarcasmo cortante ecoando pelas palavras. Ainda estou tentando digerir tudo, mas é complicado demais. Leon planejou tudo nos mínimos detalhes, mas uma coisa me martela a cabeça desde a hora em que ele começou a falar.
— Quem é seu irmão Leon?
— Não tenho irmãos. — Ironizou.
— Você entendeu o que eu quis dizer. — Eu já tinha uma ideia da resposta, mas desejava ouvir diretamente da boca dele, com suas próprias palavras.
— Nicolay, Meri. Nicolay é meu meio irmão. — Ele respondeu com uma expressão sombria.
É claro que a vida tinha que me presentear com mais essa. Pensei que não poderia ficar pior, mas adivinha? Sempre pode.
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