ꕥ 17 - Primeiro emprego e caminhos cruzados ꕥ
Meu primeiro emprego, oficial.
Algo que almejei por muito tempo, mas adiei para focar nos estudos e que devido os últimos acontecimentos precisou ser adiantado para ontem, quer dizer em figura de linguagem porque começo mesmo hoje. O mais rápido possível!
Claro que o dinheiro era sem dúvidas minha maior motivação, porém, só de pensar em estar com a mente ocupada, aprendendo coisas novas, conhecendo pessoas e colocando minha capacidade em prova me deixava animada. Um respiro para minha mente atordoada.
No sábado quando acordei ele não estava mais lá, sim, como sempre, infelizmente, não tive a sorte de acordar com uma amnésia alcoólica, mesmo tendo misturado toda porcaria que vi pela frente na noite anterior ao sábado. Lembro bem de vomitar nos pés de Jungkook, de provocá-lo enquanto tomava banho de forma vergonhosamente e receber um não redondo quando pedi para transar com ele. Minha dignidade desceu pelo ralo junto com a água do banho naquele momento e me humilhei até a última instância para ter aquilo que, nem tão secretamente assim, desejo com todas as forças. Ser dele novamente.
Mas felizmente ele negou e o odeio por ter feito isso, seu jeito gentil, cavalheiro e cuidadoso acabou me fazendo gostar ainda mais do tatuado idiota e odeio isso. Que homem perderia essa oportunidade? Um homem de caráter e princípios verdadeiros que colocou a minha integridade moral à frente dos próprios desejos.
Mentira, não odeio ele, só o amo com mais força, não consigo esquecer nossos lábios unidos, nossos corpos colados, o calor de seu abraço e como me sinto ridiculamente segura quando estou com ele, mesmo que sua ausência traga toda a insegurança de volta, quando estamos juntos é a coisa mais certa que existe. Somente o idiota tatuado preenche os espaços vazios que ficaram em minha vida.
Pensei em ligar, pedir desculpas, mas fingir que esqueci era uma solução menos humilhante. Não sei se estou pronta para lidar com toda a exposição que sofri diante dele. Jungkook sabe com perfeição que o amo como se não tivesse um só segundo desde a última vez em que estivemos juntos, ele sabe. E sei que é o mesmo com ele, se não me amasse não teria feito as coisas que fez.
Me encaro no espelho amarrando o cabelo em um rabo de cavalo alto, soltando os fios ralos da franja, dei um jeito na pele passando maquiagem e sorri para mim mesma no reflexo. Feliz? Não, mas preciso continuar tentando.
Meu trabalho será de acordo com meus horários da faculdade na semana. Às vezes entro de duas até às dez, às vezes entro de oito até às duas, vou intercalando com a outra recepcionista da academia para que possamos cumprir a nossa grade universitária normalmente. Felizmente um emprego que paga bem e que me permite seguir a rotina que já seguia.
Hoje entro de duas às dez.
— O bom de ter uma amiga trabalhando na academia é o descontinho camarada — Mi-ah diz assim que saio do banheiro.
— Disponha — brinco. Mi-ah decidiu começar a frequentar a academia. Desde sábado ela anda meio estranha, nos desencontramos na festa e ela só apareceu no sábado meio dia, sem explicar nada. — Até agora você não explicou o que rolou na festa depois que eu saí — implico. Pego minha bolsa e vou para o hall de entrada do quarto calçar meu tênis.
— Não lembro, já disse — diz se aproximando de mim para fazer o mesmo.
— Ah vá, realmente do nada você apagou, acordou e chegou aqui depois do meio dia e não lembra de nada? Me poupa né? — Mi-ah está usando a mesma estratégia do, se finjo que não lembro, não aconteceu. Tenho certeza disso. — Será que…? — algo me ocorre rapidamente, se Jungkook estava lá na festa, talvez outra pessoa também tenha estado.
— O que? — pergunta ao fechar a porta do nosso quarto.
— O Jimin também tava lá na festa? — Questiono indo em direção ao elevador.
— Que Jimin? Não sei de Jimin nenhum — encaro minha amiga com a sobrancelha erguida, claro que tinha Jimin sim, a cara que faz não nega. Mi-ah me olha de volta. — O que?
— Mentira que você transou com o Jimin — acuso fingindo incredulidade e rindo na sequência. Ela abre a boca como se estivesse extremamente ofendida com o que digo.
— Claro que não — rebate.
— Como sabe se você não lembra? — provoco ainda rindo enquanto caminhamos para fora do prédio. Vamos direto para onde meu carro finalmente está estacionado. Pude pegar ele hoje de manhã e mesmo que a academia seja bem próxima da faculdade, vou de carro pelo horário que vou sair.
— Não esqueci de tudo, isso eu tenho certeza que não aconteceu. Ai vai encher o saco do Jungkook vai MiCha — Mi-ah parece irritada com minhas provocações o que faz com que fique muito claro que toquei em sua ferida.
— Queria eu ter esquecido de tudo — destravo o carro para que possamos entrar.
— Você é muito cabeça dura — diz.
— Olha só quem fala — rebato.
— Merecemos estar na merda, somos duas filhas da puta — Mi-ah fala séria e solto uma gargalhada com o que diz.
— Eu não mereço estar na merda, tá? Mas confesso que estou por escolha própria.
— É só você estalar o dedo que o Jungkook volta correndo mais rápido que o The Flash com dor de barriga — brinca estalando os dedos.
— Jungkook merece alguém que seja capaz de amar ele corretamente. Estou aprendendo a lidar com meus próprios sentimentos pela primeira vez e ele quer alguém cem por cento disposta a se jogar, eu ainda estou na beira do precipício com medo. Não posso ficar impedindo ele de viver suas próprias vontades e experiências por causa do meu medo — Acho que é a primeira vez que falo em voz alta como verdadeiramente me sinto sobre essa situação. Solto um suspiro pesado estacionando o carro pois já chegamos.
— Pois não dou muito tempo para que vocês voltem, escreve aí. Vocês nasceram para ficar juntos e eu ainda vou ser madrinha desse casamento.
— Tá bom madrinha de casamento, agora vou trabalhar e você vai se divertir fazendo exercício para criar carne nessa bunda — digo mudando de assunto.
— Bom primeiro dia de trabalho — ela vem em minha direção e me dá um abraço rápido. — Boa sorte.
— Obrigada — sorrio tentando me animar, vou ocupar a mente e esses espaços vazios serão aos poucos preenchidos, tenho certeza disso.
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O trabalho é relativamente simples. Atender telefone, fazer matrículas, encerramentos, receber pagamentos, mandar mensagens de cobrança de mensalidade nas horas de pouco movimento, administrar o guarda volumes e repor os estoques no banheiro sempre que solicitados, toalhas, sabonetes, shampoo, essas coisas que tem em academia e por último, mas não menos importante arrumar a agenda dos personais que fazem atendimentos personalizados.
Em pouco tempo consigo me adaptar às funções e já começar a me sentir à vontade. Percebo que muitos estudantes da faculdade frequentam essa academia, mesmo que tenhamos uma no próprio campus. Jungkook inclusive costumava treinar boxe lá, mas não era tão completa como essa em que trabalho agora, que tem artes marciais, dança, boxe, natação entre outras atividades.
Muitos rostos conhecidos passaram por mim, no início fiquei envergonhada por conhecer tantas pessoas ali, mas depois fui me soltando. Não há motivo para vergonha, é só um trabalho como qualquer outro.
— Oi você é a menina nova, né? — um dos personais se aproxima do balcão e sorrio para ele.
— Sim, Kwon MiCha — me curvo rapidamente para cumprimentá-lo.
— Oi, Kang SungMin — diz. — Eu tenho um aluno para hoje no último horário, coloca na agenda pra mim por favor. Esqueci de por na sexta, mas ainda bem que lembrei.
— Claro, coloco sim, qual o nome do aluno e horário, por favor? — procuro na planilha o nome do personal até achar.
— Das 20:30 às 21:30, Jeon Jungkook, boxe personalizado — congelo onde estou com os dedos parados sobre o teclado do computador. Não pode ser verdade! — Anotou? Jeon Jungkook — relembra. Solto o ar que prendi vagarosamente digitando o nome no horário e o que o aluno vai fazer. — Já pode deixar agendado, quarta e sexta também. Sexta feira passada ele veio aqui arrumar os horário fixos.
— Tudo bem, vou pôr — digo.
— Obrigado. Bom trabalho. — Como vou ter um bom trabalho se não tenho um minuto de paz nessa vida? Nem no meu primeiro dia eu escapo.
— Bom trabalho — devolvo a gentileza e deixo meu corpo rígido amolecer se apoiando no balcão quando vira as costas para mim. Mas que inferno, Jeon Jungkook está em todo lugar e não consigo fugir dele, mesmo que eu queira muito.
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Gostaria de dizer que tive paz para seguir meu primeiro dia de trabalho normalmente, mas não tive. Não estou nem um pouco pronta para lidar com Jungkook depois de sexta a noite e as coisas que eu disse e fiz.
Somente a ideia de estarmos no mesmo ambiente, cara a cara, me perturba. Não somente porque estou com vergonha, mas porque sinto ainda mais saudade dele, queria que pudéssemos dormir abraçados todas as noites, nunca mais me desgrudar dele, sentir o calor de sua pele, o cheiro natural que emana, enterrar minha narinas em sua nuca, roçar a ponta do nariz em seu pescoço, depositar infinitos beijos na pintinha embaixo de seu lábio e contornar com os dedos as tatuagens idiotas que o definem tão bem.
Pensei que aqui seria uma zona segura para não pensar tanto nele, nem sofrer tanto por sua ausência em minha vida, mas a vida dá seu jeito de nos pôr frente a frente e as feridas não saram jamais. Pelo visto não importa o tanto que tente, não consigo fugir de Jeon Jungkook e estou fadada a sofrer por esse amor que me consome das carnes até a última medula óssea do meu corpo.
Quando o relógio bate exatamente 20:00 horas estou sozinha na recepção. A movimentação ainda é considerável e não consigo nem pedir pra ir ao banheiro, pois tenho demandas para atender.
Sei que a qualquer momento ele chegará, mas tento me manter ocupada como posso para não sucumbir ao nervosismo de estar diante de si. Me distraio arrumando a agenda dos personais de amanhã, desmarcando horários e encaixando outros quando pela visão periférica vejo alguém se aproximar do balcão. Não olho, talvez se eu só ignorar ele passe direito.
— Boa noite — a voz familiar até demais para mim, me acerta como um suave, indesejado e inesquecível soco no estômago. Fecho os olhos rapidamente antes de voltar a minha atenção para ele.
— Boa noite — os olhos que sempre me olham como uma presa preste a ser devorada por ele, estão arregalados e surpresos. Acho que sou a última pessoa que Jungkook esperava ver aqui.
— MiCha? — sussurra e tenho vontade de rir, ele não consegue disfarçar o quanto está surpreso. Na sequência da um sorriso ladino tão bonito e injusto que tenho vontade de socá-lo. O Jeon usa uma regata preta que deixa todas as tatuagens em seu braço direito à amostra. Sinto ciúmes disso, os traços em sua pele são linhas que só eu poderia conhecer com perfeição. — Oi.
— Deseja alguma coisa? — Tento me manter profissional a medida do possível. Nem respirar direito consigo com o coração batendo tão rápido como está agora.
— O que…? — o tatuado franze as sobrancelhas confuso, daquele jeito que eu acho lindo de morrer. — O que faz aqui?
— Eu trabalho aqui — respondo rapidamente.
— E aí Jungkook-ssi — o personal se aproxima do balcão e troca um toque de mãos com Jungkook. — Pronto pras sequências?
— Ah… Sim? Só preciso deixar minha mochila no guarda volumes porque não vai caber lá no armário — explica rapidamente ao personal.
— Tá bom, te espero lá na sala 2 — avisa. Jungkook deixa o homem se afastar e então se volta para mim.
— Um guarda volume, por favor? — pede.
— Tem preferência por algum? — pergunto.
— Meia nove, gosto desse — a malícia em sua voz me arrepia inteira, nem de longe ele está falando de guarda volumes.
— Aqui o seu meia nove — debocho lhe entregando a ficha com o número e pegando a mochila que me entrega.
— Obrigado, a gente se vê — dá duas batidinhas com os dedos no balcão antes de me dar as costas e sair com seu andado boçal e super hetero predador pela academia. Jungkook nem percebe, mas enquanto anda metade das pessoas na academia o observam. Sua postura ereta e os braços torneados chamam atenção, principalmente das garotas.
Solto o ar que estava prendendo esse tempo todo que estive diante dele, até o fim do expediente pelo visto ainda vai ser longo.
Confesso que estou cem por cento arrependido de ter me matriculado na academia fora da faculdade. A estrutura lá é melhor e vou ter um personal só para mim, mas nem tenho força pra levantar da cama e sair.
Só que preciso desesperadamente descarregar a minha energia até estar esgotado. Antes fazia isso de outras formas bem mais divertidas e prazerosas, mas sem a garota que gosto aqui comigo, não tenho nem vontade de pensar em sexo com outra pessoa. Não posso deixar ela saber dessa arma secreta, mas acho que a MiCha estragou a minha vida sexual, porque estou totalmente viciado apenas nela, no corpo dela e no prazer que só ela me dá. Nem quero saber de mais ninguém e se não quiser voltar pra mim, como vou fazer? Vou passar o resto da vida sem trepar?
Balanço a cabeça tentando afastar os pensamentos, pensar em MiCha e sexo na mesma frase não vai me ajudar a chegar na academia e preciso mesmo por essa tensão e energia para fora.
Convencido de que cheguei no meu limite, levanto da cama rapidamente, desligo a caixinha de som que tocava música baixinho, cato minhas coisas, calço o tênis e caminho preguiçosamente em direção a academia.
Passo pelas portas e vou direto para o balcão guardar a minha mochila, porque no armário que reservei ta cheio deixei toalha, luvas e outras coisas para tomar banho após o treino.
— Boa noite — digo enquanto dou a chegada no meu celular antes de largá-lo na mochila.
— Boa noite — a resposta que vem até mim é de uma voz conhecida e ao olhar para seu rosto sou tomado pelo choque. Não acredito no que meus olhos vêem, porque definitivamente não era alguém que eu esperava ver.
— MiCha? — O que ela faz aqui? Atrás desse balcão maquiada da forma mais bonita e injusta que já vi, com o cabelo amarrado em um rabo de cavalo que mostra seu pescoço bonito e o sinal que eu amo que fica perto do lóbulo de sua orelha. — Oi.
— Deseja alguma coisa? — soa profissional, quase como se eu não fosse alguém conhecido. Dia desses tava toda nua na minha frente pedindo pra fode-la e agora vem agir como se não me conhecesse, sério!?
— O que…? — ignoro que me ignora e resolvo matar minha curiosidade. — O que faz aqui?
— Eu trabalho aqui — responde rapidamente.
— E aí Jungkook-ssi — meu personal se aproxima do balcão e trocamos um cumprimento rápido de mãos. — Pronto pras sequências?
— Ah… Sim? Só preciso deixar minha mochila no guarda volumes porque não vai caber lá no armário — explico a fim de me livrar dele rapidamente.
— Tá bom, te espero lá na sala 2 — avisa. Assim que ele se afasta a uma distância relativamente segura, volto para minha ex namorada novamente, estou feliz em vê-la apesar de estar surpreso e nem consigo acreditar em como tudo se encaixa sozinho para que nossos caminhos se cruzem naturalmente. Eu não sabia que ela está trabalhando aqui, ainda assim, acabei vindo parar na mesma academia que ela.
— Um guarda volume, por favor? — peço.
— Tem preferência por algum? — pergunta educada. Tenho, na verdade, preferência por beijar você inteira, tem como?
— Meia nove, gosto desse — brinco com ela, eu disse que não a deixaria passar e não vou. Não mesmo.
— Aqui o seu meia nove — debocha me entregando a ficha do guarda volumes e pega a minha mochila. Sorrio para ela me divertindo. Por enquanto esse é o único meia nove que eu vou conseguir, por enquanto.
— Obrigado, a gente se vê — dou leves batidas no balcão antes de me afastar dela. Dou mais uma olhadela para trás para checar que ela é real mesmo, que está aqui mesmo e em minha mente tento bolar algum plano para não deixar essa oportunidade de ouro passar. Preciso aproveitar o momento para nos aproximar novamente.
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Poderia dizer facilmente que nunca me senti tão pressionado em um treino como hoje
Literalmente perdido e sem foco no que estava fazendo, meus pensamentos giravam e voltavam diretamente para a garota na recepção. Sabia que ela estava de olho em mim, pois eu estava de olho nela.
MiCha olhava disfarçadamente em minha direção e aproveitei a oportunidade para jogar meu charme barato. Sei como gosta do meu corpo, então limpei o suor da testa levantando a camisa e mostrando o abdômen contraído aproveitando que graças aos exercícios estava bem definido, passava vez ou outra as mãos pelos cabelos os empurrando para trás e até mesmo para beber água usava de uma lentidão exagerada, um pateta tentando seduzir visualmente a garota mais bonita dessa cidade.
Cada passo milimetricamente pensado para seduzi-la com meu corpo.
Gostaria de exercer sobre si metade de todo poder que exercer sobre mim, estou praticamente de joelhos implorando para que me aceite em sua vida, somente porque não aguento a tortura que é ficar longe dela. Não sei se meu joguinho de sedução vai funcionar, mas preciso tentar.
— Gostou da recepcionista nova? — ouço o SungMin sunbae-nim falar e o encaro. Estamos em uma pequena pausa para beber água.
— A MiCha?
— Conhece ela? — pergunta olhando na mesma direção que eu olho agora.
— Se eu conheço? Ela é a minha namorada — respondo. Convenhamos, MiCha vai voltar a ser a minha namorada, tenho certeza disso. Então não vou deixar brecha para nenhum engraçadinho tentar se aproximar. E se tem um cara que gosta de pegar geral esse cara é personal, então já quero deixar marcado que essa ele não pode ter.
— Sério? Não sabia — observa alheio. — Mas é bom você focar aqui, tá errando muitas sequências, na próxima te dou um soco de verdade — brinca, pois já tinha me acertado duas vezes hoje quando não desviei no momento certo.
— Vai sonhando — sorrio enquanto tomo mais um gole de água pensando no que posso fazer para chamar a atenção de MiCha e não deixar essa oportunidade que a vida nos deu de dividir o mesmo ambiente, passar.
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Quando passei pelas portas da academia para ir para casa, MiCha não estava na recepção. Provavelmente fazendo outra coisa, passei o olhar rapidamente pela academia, mas infelizmente não a encontrei.
Suspiro chateado por não conseguir colocar meu plano de provocá-la em prática, mas não penso em desistir tão facilmente. Sento no batente de mármore da entrada da academia e resolvo esperar que saia, está frio, não trouxe casaco, provavelmente vou pegar um resfriado por causa disso, mas acredito que vale a pena a tentativa.
Lá se vão meia hora até que finalmente ela cruza as portas da academia que já está com as luzes fechadas. Parece distraída enquanto mexe no celular e nem nota a minha presença, que perigo! Mais de Dez da noite distraída assim no telefone quando tem um cara esperando por ela, imagina se eu fosse um maníaco maluco?
Felizmente sou só maluco.
Por ela, claro.
— Você demorou pra sair — constato ficando de pé, minha ex namorada toma um susto, quase deixando o celular cair e me olha surpresa.
— Que susto Jeon Jungkook! — parece brava com o susto que tomou. Contenho o riso.
— Desculpe, não queria assustá-la.
— O que ainda faz aqui? — pergunta sem demora.
— Ah, é que hoje o treino foi puxado, minhas pernas doem e pensei em receber uma carona, já que andar seria cansativo — explico de forma teatral, passando as mãos pelos músculos da coxa. — Sabe como é, o primeiro dia de treino é sempre o mais puxado.
— Não, não sei — rebate. — Você mora a dez minutos daqui andando. Pelo amor.
— Pois deveria saber, afinal você trabalha em uma academia, informação extremamente relevante para as suas funções. Vai que alguém precisa de ajuda após o primeiro dia puxado de treino, né? E dez minutos andando é muita coisa quando as pernas doem, tenha mais compaixão — argumento e ela ergue uma sobrancelha me desafiando.
— Quer dizer então que devo sair oferecendo carona para os alunos que sofrerem no primeiro dia de treino? — questiona e penso um pouco na ideia estúpida que acabei de dar. — A compaixão tem que ser para todos não é mesmo?
— Não é uma ideia muito boa, imagina colocar um estranho no seu carro tarde da noite? Ainda bem que não sou estranho e você pode fazer isso sem se preocupar — tento reverter a situação. Ela cruza os braços.
— Sério mesmo Jeon?
— Adoro quando você me chama de Jeon — sei como ela fica desconcertada quando sou direto. A forma como paralisa sem saber como reagir já entrega o quanto a afeto.
— A-ah va-vamos logo então, ainda tenho coisas para fazer quando chegar no dormitório — sorrio satisfeito com o que diz enquanto coloco minha mochila no ombro.
Ela caminha na minha frente em direção ao carro vermelho que está há poucos metros de nós, sou tomado pela lembrança da primeira vez que entramos nesse carro juntos, ela me chamando de mandão porque queria dirigir para Busan, ela muito mais baixa que eu conseguia mandar muito mais em mim e eu obedecia sem pestanejar.
— O carro ficou ótimo, nem parece que se esborrachou todinho no poste — dou um tapinha no capô analisando a lataria novinha.
— Nem me fale, ainda bem que não deu perda no motor, aí sim eu estaria fodida — diz enquanto abre a porta do carro.
Sento no banco do passeio sendo tomado por tantas lembranças de nós dois. Nas últimas semanas não tinha esperança nenhuma de algo assim acontecer de novo, mas cá estava eu, dentro do carro dela.
No som toca um pop do início dos anos 00', algo que particularmente já me acostumei, porque MiCha gosta muito de pop e rock dessas décadas passadas, mas fora a música apenas o som do carro é ouvido. Não tem trânsito, pois estamos a minutos do dormitório. Gostaria de ter algo para falar, mas sinceramente não tenho ideia de que assunto começar, falar da sexta passada, ela bêbada e as coisas que eu queria que tivessem acontecido? Não mesmo! Acho que seria indelicado.
Então resolvo falar a primeira coisa que vem à minha mente, depois de sexta passada.
— Decidi colocar um piercing na sobrancelha — digo aleatório enquanto olho para a garota que dirige tensa sob meu olhar. Ela me olha rapidamente de canto de olho.
— Sério? Acho que vai combinar com você — diz e sorrio, MiCha no fim sempre compra as minhas maluquices e sempre arranja jeitos de me encorajar. Se fosse uma certa outra pessoa surtaria muito e tentaria me impedir a todo custo. Cara é com essa mulher que eu quero casar!
Falta só ela entender isso também.
— Fazia um tempo que eu queria fazer, tava pensando em fazer um no lábio também, mas isso eu vejo depois, primeiro quero experimentar o da sobrancelha — tagarelo para que o silêncio não volte.
Mas antes que ela possa dizer qualquer coisa o carro para. Estamos diante do prédio do meu dormitório, de carro realmente era muito rápido.
— Chegamos, poupou aí 5 minutos das suas pernas cansadas — debocha e solto uma lufada de ar em forma de riso antes de olhar para frente através do parabrisa. Algumas poucas pessoas passam pela rua, é tarde da noite de uma segunda feira.
— Obrigado pela compaixão — brinco de volta.
— Não tem de quê. Você me ajudou quando precisei na sexta passada. Nada mais justo — relembra e gosto muito que não esteja apenas fingindo que não lembra de nada.
— Fiz o que tinha que fazer, não precisa agradecer. Apesar de que foi… Tenso — não vou ser inconveniente e culpá-la por me torturar, até porque no fim, acabei meio que procurando por isso. Mas a verdade é que foi tenso, até mesmo sair de sua cama ao amanhecer, antes que acordasse e me expulsasse de seu quarto a chutes no traseiro.
Eu queria ficar, queria muito acordar ao seu lado e tomar café da manhã, lhe arrancar vários beijos e fazer amor com ela sóbria, mas achei que apenas lhe dar espaço era o melhor. Não foi fácil, parte de mim luta diariamente para não encurrala-la e lhe tirar todos os beijos que me pertencem, mas não somos mais nada um do outro e não tenho direito nenhum de fazer isso.
Me resta apenas esperar que me dê esses beijos por conta própria.
Agora, o máximo que posso fazer é provocá-la e alimentar meu frágil e inseguro ego com isso.
— Ter vomitado no seu sapato não foi muito legal — completa.
— Não, isso foi o de menos. História para contar na roda de amigos daqui uns anos — tento amenizar um pouco o clima, mas não há mais muito o que ser dito.
Ficamos nos encarando, lado a lado, posso ouvir a minha própria respiração mais pesada que o normal. Meu peito infla na expectativa de tê-la tão próxima a mim — sóbria —. Há algumas semanas atrás jamais poderia imaginar tal coisa. Pensei que a havia perdido para sempre, que não tinha mais volta, mas aqui estamos, as chances são mínimas, mas existem e não posso fingir que não.
MiCha me olha nos olhos e parece procurar por algo que não consigo decifrar. Não consigo conter meu próprio impulso de me inclinar em sua direção, aproveitar a nossa conexão e deixar que nossos corpos falem o que os nossos corações sentem e ela não recua.
Repouso minha mão atrás do banco do motorista para ter um ângulo melhor, mas o ato a assusta e a tira do transe em que estamos, olhos nos olhos, MiCha nos desconecta e encara o parabrisa segurando o volante com força. Paraliso no local em que estou.
— A-acho melhor eu ir — diz ofegante.
Solto uma lufada de ar em formato de riso muxoxo.
— Tudo bem — digo. Vejo minha ex e futura namorada de novo virar o rosto vagarosamente para me olhar e nesse momento decido que não vou sair sem um mínimo beijo. Quando seu rosto se volta totalmente em minha direção, impulsiono o restante do meu corpo e selo nossos lábios.
Não demora muito, é rápido e meio desajeitado, mas faz meu coração explodir em faíscas de emoção só de tocar seus lábios com os meus.
— A gente se vê — digo com o rosto ainda próximo dela, que não recuou, nem reagiu, só me encarou de volta.
Dou uma piscadela em sua direção e rapidamente saio de dentro do carro. A vejo dar a partida e sair me encarando através do retrovisor do carro. Levo minha mão ao peito onde meu coração bate tão rápido que é até mesmo difícil de respirar.
Me sinto vivo, como há algumas semanas não sentia e Kwon MiCha é a razão dessa sensação gostosa, isso só me faz querer mais e mais. Nem sabia que meus sentimentos podiam se expandir dessa forma.
— Agora preciso pôr um piercing — digo a mim mesmo caminhando vagarosamente pela calçada rumo ao meu dormitório, mas com a certeza de que dormirei muito bem essa noite, pois amo Kwon Micha, não irei desistir dela jamais e sinto que de alguma forma as coisas caminham para que tudo dê certo entre nós.
Boatos de que Jungkook não vai dormir essa noite matutando como ganhar a MiCha de volta kkakakakaka, mas só ele que não percebeu que nunca nem perdeu? Fica o questionamento!
Oi meus amoreeeeeesss como vocês estão? Fizeram o Enem hoje? Felizmente faz anos que não sei nem oq é isso, só desejo sorte para cada um, vocês vão conseguir!!
Oq acharam do capítulo? Tá começando a ficar divertido esses flertes deles né não? MiCha tá confusa, mas o gostosão do Jungkook vai tratar de desconfundir ela, ou confundir mais, sei lá kkkk
60mil visualizações aaaaaaaaa, fico tão feliz com cada conquista, obrigada pelo carinho imenso com 50.000₩, já posso começar com o rumo aos 100k??
Comentem muito pra animar essa autora que está passando por uma fase muito difícil na vida 💜, me deixem saber oq estão achando, vou responder todo mundo prometo.
Amo muito vocês, bjos e até o próximo capítulo.
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