ꕥ 9 - Coração de Gelo ꕥ
Os dias passavam rapidamente, a vida acadêmica não era muito fácil e provavelmente nunca me acostumaria com isso ou pararia de reclamar do quão difícil era ser universitário em um país tão exigente como a Coreia do Sul. Estar sempre cheia de trabalhos, seminários e ainda trabalhando no jornal universitário, tudo isso consumia muito tempo e eu não via a hora de finalmente estar formada e talvez ter algum tempo de qualidade, talvez.
Queria que estar na faculdade fosse como nos filmes americanos, festa, badalação, sexo e muito tempo pra ser um jovem estereotipado, imaturo, bobão e inconsequente.
— Argh! — ouço Mi-ah resmungar fechando o notebook com força.
— Ok, tá na hora da senhora colocar pra fora o que tanto te chateia ou vai precisar comprar um notebook novo, já que esse aí não vai aguentar as pancadas que tá levando — saio da minha cama e pulo na dela no segundo seguinte.
— Não é nada — diz muxoxa.
— Coitado do notebook que tá apanhando por nada, né? — ironizo. — A julgar pela sua expressão é com o Jimin. Tô errada? — Analiso um pouco mais sua expressão tristonha. Mi-ah não me olha e isso confirma meu questionamento. — Desembucha — ordeno.
— Jimin anda… Ocupado demais para gente, pra tudo — minha amiga me encara. — Você acredita que ele está cogitando largar a faculdade e ir morar mais no centro para ficar mais perto dos trabalhos? O dinheiro que está entrando é muito bom e ele não vê necessidade de se formar, já que a profissão atual não tem nada a ver com a sua formação. É claro que eu sou totalmente contra e brigamos por causa disso — fala tudo de uma vez.
— E? — suspeito que tenha mais.
— Não me acostumei muito com o assédio que recebe agora. Acredita que uma menina abordou ele no momento em que estávamos comendo só pra tirar uma foto? O que ele é, um idol? — parece indignada com isso.
— Jimin tem milhões de seguidores nas redes sociais, ele dita tendência na moda, é influente e muito bonito. Acho normal que as pessoas parem para querer conhecê-lo, afinal faz parte de quem ele escolheu ser. Eu sei que é difícil, mas você poderia tentar relevar né? Infelizmente faz parte e a tendência é piorar — não sei se é reconfortante o que digo, mas acho que a realidade é sempre o melhor caminho.
— Nunca achei que as coisas tomariam essa proporção — diz.
— Seja racional, vocês não precisam brigar por causa disso. Sério, hoje é sábado, era pra estarem juntos, você e Jimin não vivem um sem o outro, ao invés de brigarem, encontrem um jeitinho de ficar bom pra todo mundo — digo. — Quanto a faculdade concordo com você, não importa quanto dinheiro ele esteja ganhando, não se sabe o futuro. Influencer não é profissão estável, vou dar uns bons tapas nele e fazê-lo por a mente no lugar.
— Você está indo ver o Jungkook hoje? — pergunta.
— Esse é outro da agenda lotada, mas combinamos de assistir um filme hoje, já que o inspetor não está no prédio — arqueio a sobrancelha. — Aposto como o Jimin vem bater aqui — a cutuco no braço com meu cotovelo.
— Você acha? — pergunta.
— Tenho certeza — sorrimos de forma cúmplice.
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Procuro algo confortável, mas estiloso para vestir. Deixo meu cabelo solto porque sei que Jungkook gosta assim e gosto de me arrumar de uma forma que arranque elogios dele, apesar do mesmo sempre fazer isso independente da forma como me ver vestida, até porque sua frase mais corriqueira atualmente é:₩ linda, porém mais ainda sem roupa.
Estamos perto de completar nossos primeiros 100 dias juntos, já que decidimos contar a partir do dia em que transamos pela primeira vez e segundo o próprio Jeon Jungkook, foi o dia e momento em que ele se apaixonou por mim, então estou animada para sairmos e comemorarmos nossos primeiros 100 dias, mas enquanto essa data não chegava íamos nos encontrando vez ou outra pra gastar um tempo juntos e namorar um pouco.
Tudo está indo bem desde que oficializamos nosso namoro e sinto que, apesar de ainda ter receio pelo conjunto da obra, estou cada dia mais confortável em estar com Jungkook e me permitir gostar verdadeiramente dele, descobrir seus melhores lados e os piores também, claro. Mas namorar com o tatuado está sendo uma experiência para além do que eu mesma esperava.
Tenho sempre um sorriso bobo no rosto ao lembrar de nossos momentos e meu coração sempre inflado no peito ao pensar nele e todos os seus maravilhosos e imperdíveis detalhes.
Caminho animada em direção ao seu dormitório, estou cheia de saudade e quero poder estar em seus braços o mais rápido possível.
Digito rapidamente uma mensagem avisando que já cheguei e estou na entrada do prédio lhe esperando. O tatuado demora um pouco para visualizar a mensagem, mas acho normal para seus padrões. Alguns bons minutos se passam até que ele aparece em frente ao prédio usando seus largos moletons e me olhando como se não esperasse a minha visita.
— Qual o motivo da visita surpresa? Tô esquecendo algo? — pergunta selando nossos lábios rapidamente ao me ver. Seu cabelo ainda está loiro, com alguns centímetros de raiz aparecendo, repartido de lado ele tem uma mecha escondida atrás da orelha, mostrando seus inúmeros piercings ali. Me perco um pouco em seus detalhes que são sempre tão lindos, mas não deixo a pergunta passar despercebida.
— Como assim? Combinamos de nos ver hoje! — respondo. — Você esqueceu? — pergunto de volta. Jungkook encara o vazio de boca aberta porum momento, provavelmente tentando resgatar as memórias do dia em que combinamos de nos ver hoje, mais conhecidos como terça passada.
— Ah, é verdade. Me perdi no tempo jogando e esqueci, fazia tempo que não pegava uma partida longa assim — coça a cabeça parecendo envergonhado. — Se quiser pode entrar, claro, você é bem vinda, mas vai precisar esperar eu terminar a partida, porque já fiz os caras ficarem em casa só pra jogar comigo hoje — o encaro perplexa. Ele esquece nosso encontro e ainda terei que esperar se quiser ficar com o bonito hoje? Sorrio ladino desacreditada.
Jeon Jungkook é mesmo inacreditável e me vejo seguindo ele pelos corredores vazios do dormitório no sábado a noite em direção ao seu quarto.
O espaço é praticamente do mesmo tamanho que meu quarto, tem camas desarrumadas e um cheiro forte de âmbar e couro picante, lembro bem que esse cheiro é do perfume do Jimin, porque ele sempre anda muito perfumado e pelo visto o cheiro estava impregnado no quarto dos idiotas.
— Cadê o Jimin? — pergunto percebendo que ele não está no quarto e pelo cheiro do perfume forte a sua saída parecia recente.
— Saiu faz pouco tempo, acho que foi ver a Mi-ah — responde sentando na cadeira confortável de frente para o computador e colocando os fones de ouvido. — Gatinha não vou demorar muito, prometo. Essa é a minha cama — aponta para a cama ao lado da mesa do computador, sento na cama encarando as suas costas. Jungkook estava perfeitamente concentrado no que fazia enquanto conversava sobre estratégias com seus amigos.
Esse jeito dele me irritava às vezes. Mas respirei fundo, nem tudo dava para ser do meu jeito e eu tinha que aceitar, Jeon Jungkook tinha muitos defeitos, apesar de lindo e gostoso. E esses defeitos eram irritantes demais.
Minha bunda já doía pelo tempo que estava sentada, mais de uma hora havia passado e nada da partida infinita acabar, fiquei de pé olhando os detalhes aleatórios do quarto completamente entediada com a espera. Estava cansada de ficar sem fazer nada.
No geral Jungkook e Jimin não eram tão bagunceiros, só meio desorganizados, mas nada muito diferente de mim mesma, por isso não iria julgar, ser jovem, morando "sozinho", precisando se virar financeiramente porque nem todo mundo era filho de pais ricos e ainda tendo que estudar (a pior parte por sinal) não era fácil, sobrava pouco tempo pra ser viciado em limpeza, não tava justificando, mas estava sim justificando a bagunça.
Ri do meu último pensamento, percebendo de repente o quão solitária eu estava ali, mesmo com Jungkook ao meu lado. Estava totalmente errado ter que ficar esperando que ele acabasse algo que começou porque esqueceu do compromisso comigo, quem deveria ser a prioridade aqui? Eu ou os amigos?
Percebi com pesar que estava acontecendo de novo, Jungkook estava me largando sozinha mais uma vez como fez na festa. Me pede pra vir e não liga pra mim.
Catei a minha bolsa e sem falar nada marchei para fora do quarto, bufando pelas narinas. Jungkook iria me pagar por me fazer passar por isso e me sentir dessa forma, como qualquer uma sem importância.
Uma mão segurou meu braço me virando e impedindo que continuasse meu caminho. Não precisava de muito pra saber quem era. Não olhei para ele.
— Pra onde você vai sem falar nada? — Jungkook perguntou.
— Qualquer lugar longe daqui — respondi com os olhos ardendo de vontade de chorar. Mas segurei as lágrimas travando o maxilar com força.
— Por que? Eu já tava acabando — diz parecendo não ter nenhuma noção do quanto aquilo tudo me chateou.
— Volta pra porcaria do seu jogo e me deixa em paz — puxo meu braço em um solavanco me desvencilhando dele. — E nem ouse vir atrás de mim — ameaço dando as costas para ele e caminhando apressadamente para fora do prédio.
Assim que atravesso a rua olho para trás apenas para constatar que o Jeon realmente não veio atrás de mim, por que ele não estava vindo? Eu realmente não significava nada? Jungkook era tão idiota ao ponto de pensar que somentando não vindo atrás de mim as coisas se resolveriam? Me afastei o mais rápido de pude a fim de voltar para meu dormitório, tinha sido um erro vim aqui hoje, aliás tinha sido um erro dar um chance para Jungkook e mesmo sabendo que daria com a cara na parede e que éramos um erro, doía muito sentir isso.
O teto do meu quarto perfeitamente branco nunca me pareceu tão monótono. Nem o spiner que girei por mais de meia hora tirou o meu tédio ou a sensação de frustração em meu peito.
Eu devia ter ido atrás dela? Meu coração dizia que sim, eu devia ter ido, mas ela disse pra não ir. MiCha usou uma expressão realmente assustadora pra dizer que não fosse atrás dela, então porque eu sentia que deveria ter ido? Se uma mulher diz pra não ir é porque ela não quer que você vá mesmo, certo?
— Se você tivesse olhos de raio laser já teria furado o teto com certeza — ouço Jimin falar deitado na cama ao lado.
— Tô pensando se eu deveria ter ido ou não — assumo.
— Atrás da MiCha? Cara já faz uma semana e você ainda tá nessa? Você não foi, então do que adianta se perguntar se deveria ou não ter ido? — pergunta. E tem razão, não fiz o que achei que deveria fazer, agora não adiantava mais chorar pelo leite derramado. MiCha não respondeu às minhas mensagens, aliás nem visualizou. Não atendeu minhas ligações e nem quis falar comigo quando fui lá pessoalmente em seu dormitório.
Vacilei.
E o pior foi que, na hora, nem percebi que tinha feito merda. Fazia tanto tempo que não jogava que simplesmente esqueci da MiCha e a irritei profundamente, pelo visto. Estávamos indo tão bem e eu estraguei tudo.
— Preciso fazer alguma coisa, qualquer coisa pra ter o perdão dela — digo obstinado sentando na cama. — E você, não vai fazer nada para se conciliar com a Mi-ah? — pergunto.
— Não sei como consertar isso — admite e suspira — tem uma coisa que aconteceu e não sei como olhar pra ela depois disso.
— O que rolou? — fico imediatamente curioso.
— Eu sai com outra garota — arregalo os olhos ao ouvi-lo, Jimin levanta a mão me mandando esperar. — Naquele dia em que a MiCha veio aqui fui me encontrar com a nova assessora que arrumei pra administrar meu trabalho, só que ela deu em cima de mim e eu gostei e… — Jimin suspira de novo — nós quase nos beijamos. Foi por pouco, Mi-ah não tava facilitando pra mim, estávamos brigando direto, eu tava cansado e achar uma garota com as ideias tão iguais as minhas me deixou vulnerável e quase trai a Mi-ah. Foi por muito pouco — ouço tudo em silêncio, não sei o que dizer então falo a primeira coisa que me vem à mente;
— Cara você tá fodido — Jimin ri sem humor.
— Falou o que tá super bem na fita — rebate, rio junto sem humor. — Eu não traí ela, mas senti vontade e tô me sentindo muito culpado por isso.
— Você tem que falar pra Mi-ah — sugiro. — O relacionamento de vocês é bonito porque é muito sincero, sempre tive inveja disso, via você e ela super amigos, companheiros, cúmplices que contavam tudo um pro outro e me perguntava quando isso aconteceria comigo. Com a MiCha ainda não consigo ser assim, mas é onde quero chegar — divago em meus pensamentos até perceber que Jimin põe as mãos no rosto, escondendo as lágrimas. Jimin era muito chorão.
— Mas se eu contar ela vai me deixar — conclui limpando as lágrimas.
— Não acho que você tem o direito de decidir isso, uma vez que não contar a verdade já estará escolhendo o fim por vocês dois, então se você escolher contar a verdade, talvez a Mi-ah-ssi não te deixe, já que você deixou ela escolher. Talvez — percebo que sou melhor com o relacionamento dos outros do que com o meu próprio e preciso consertar isso ou Jimin ficará bem com a namorada e eu não estarei bem com a minha.
— Mas se eu não contar, a Mi-Ah não irá saber e não vai terminar comigo — reflete.
— Mas indiretamente você já terá quebrado o que tem de mais bonito sobre vocês dois, a confiança e cumplicidade — rebato. — Mais cedo ou mais tarde o preço por ter quebrado isso vai aparecer, daí sim você terá perdido ela de vez — pego meu celular vasculhando o telefone da garota de quem falamos. Mas não é pra resolver os problemas do Jimin e sim os meus. Digito uma mensagem rápida perguntando se ela pode me dizer onde MiCha está ou onde posso encontrá-la. Preciso estar diante da minha namorada pra saber como derreter seu coração, uma vez que pelo celular não irei conseguir. — Faz o que você quiser, o toque eu já te dei. Agora eu não irei ficar parado, senão seremos dois solteiros e eu não tô afim disso não — visualizo a resposta de Mi-ah já traçando meu plano pra derreter a coração de gelo.
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Confesso que não esperava encontrar MiCha em um local tão movimentado, ainda mais para estudar. Encarei a enorme e moderna fachada do enorme prédio da COEX suspirando na sequência, gostava daqui, cheio de muitas atrações principalmente para os turistas, mas estava sempre muito lotado.
Meu destino era a famosa Starfield Library, segundo Mi-Ah a MiCha estava estudando aqui hoje. Caminhei por entre as pessoas até adentrar ao enorme espaço com prateleiras exuberantes e arquitetônicas, se tivesse trazido minha câmera com certeza tiraria lindas fotos aqui, mas esse não era nem o propósito nem o momento. Precisava mostrar para MiCha que eu reconhecia que tive uma atitude imbecil e me desculpar sinceramente com a mesma, mesmo que isso fosse muito difícil para mim reconhecer o meu erro e me desculpar. Minha namorada invadiu meu coração de uma forma tão radical que me fazia sentir vontade de me desculpar das formas mais inusitadas possíveis só para poder tê-la em meus braços novamente.
Varri o local com os olhos procurando pelo meu alvo, estava lotado e aconteceu um recital bem no centro do saguão, com direito a microfone, palco, plateia e tudo mais. Olhei para a marquise no segundo andar e a avistei sentada em uma poltrona no canto, imersa em um livro. Peguei a escada rolante que beirava a enorme estante de livros dos mais variados, para chegar até ela.
Caminhei sorrateiramente para que não me percebesse, me coloquei atrás da mesma e pude perceber que lia enquanto ouvia música. Tirei um fone de sua orelha e falei:
— Starfield Library? Tanto lugar no campus para estudar e veio até aqui? — pelo eco do fone de ouvido pude ouvir que ela ouvia uma música atemporal, Hoobastank The Reason. — Não sabia que curtia pop rock americano clássico dos anos 2000 — puxo assunto assim que a garota me olha. Seu olhar me desconcerta quase que imediatamente, está carregado de censura, mas também de tristeza. Esperava surpresa, mas minha namorada não parecia surpresa em me ver.
— O que faz aqui? — pergunta.
— Tava só passeando pela COEX — sentei no banco ao lado da poltrona. — Brincadeira, vim atrás de você já que não me atende nem visualiza minhas, trinta mensagens? Quarenta? Não me lembro, já perdi as contas — de repente fico um pouco tagarela, estou nervoso e intimidado diante da beleza descomunal da garota por quem sou completamente apaixonado, amo quando usa o cabelo solto e esconde uma mecha atrás da orelha, tenho vontade de passar a mão ali, mas ainda não era o momento. Meu coração bate rápido prontinho pra se entregar pra ela.
— Não tenho nada pra falar com você Jungkook — fecha o livro com força e fica de pé. Fico em pé também.
— Por favor. Se vai terminar comigo ao menos me deixe falar — quase imploro, não vou tirar sua razão de estar brava, porém não precisava ser tão dura. MiCha suspira pesado forçando a postura e concorda. Falar a palavra término era um gatilho doloroso, mas não tive outra escolha, precisava que ao menos ela me ouvisse para, quem sabe assim, não perdê-la de vez.
Encarei o motivo de toda a minha frustração bem diante de mim. Não conseguia acreditar que Jungkook tinha vindo mesmo atrás de mim, mesmo que eu estivesse no coração da cidade me escondendo de todos em um lugar super movimentado, onde ali, eu era apenas mais uma e ninguém se importava comigo. Lugar perfeito pra ouvir música e me sentir a mais miserável de todas as pessoas enquanto sofria pelo idiota tatuado por quem me apaixonei de forma incondicional. Não importava o tanto que doía, continuava apenas sentindo a sua falta e pensando no Jeon como se dependesse dele pra respirar. Odiava esse sentimento com a mesma força que me tomava por inteira. Pensei que ignorá-lo fosse a solução dos meus problemas, mas apenas doía mais.
Minutos antes de Jungkook aparecer bem diante de meus olhos, Mi-Ah me avisou que havia dito a ele onde eu estaria. Felizmente o Jeon perdeu o fator surpresa, assim eu ainda poderia manter minha pose de chateada, mesmo que meu coração batesse tão forte e desesperado para estar perto dele. Eu estava sendo dramática, eu sei, talvez fosse a TPM ou talvez fosse Jeon Jungkook e tudo sobre ele e seu cabelo longo e loiro que me fazia cair de joelhos diante de sua beleza.
— Aqui é tão bonito, não é? — pergunta aleatório olhando em volta enquanto tamborila os dedos sobre a mesa do café que escolheu para conversamos dentro da própria livraria.
— O que veio fazer aqui Jeon Jungkook? — espero que ele tenha ideia do que veio fazer aqui e que não me venha com falácias pra tentar me desdobrar, dessa vez mesmo querendo muito, não cederia aos seu charme. Jungkook me magoou muito e não era a primeira vez.
— Vim pedir desculpas, perdão ou qualquer outra coisa que seja suficiente pra você voltar a falar comigo — responde. Seus olhos são tão inocentes e intensos que me perco por um segundo na galáxia que brilha em suas orbes. Senti tanta falta desse idiota com olhar inocente, como uma corça acuada diante de seu predador. Jungkook usa um conjunto jeans descolado que lhe dá um ar de celebridade e deve ser esse o motivo de algumas pessoas olharem para ele enquanto seus olhos estavam fixos em mim.
— Pode falar — incito. Um pouco ao fundo ouço palmas vindas do saguão da livraria, onde as pessoas recitavam poemas e trechos de livros no microfone em um pequeno palco.
— Fui um idiota — concordei. — Não deveria ter te deixado de lado. Nada é mais importante que você, eu estava estressado e precisava desestressar entrei no jogo e esqueci do mundo. Me perdoa, nunca mais vou fazer isso — sua voz é quase de súplica e na verdade tenho vontade de rir porque não me sinto bem ouvindo o que diz, palavras são totalmente vazias e não servem de nada se não vem acompanhadas de ações e Jungkook já tinha me deixado na mão mais de uma vez, eu não tinha esquecido o episódio da festa em que me pediu pra ficar e se foi. Ele estava sempre me deixando para trás e essa sensação era a pior que existia. Porque não me passava segurança nenhuma, era como ficar na beirada de um precipício confiando que ele seguraria em minha mão para não cair, o problema é que o Jeon já tinha me deixado cair duas vezes, quantas mais eu teria que cair até não aguentar mais? Quem me garante que amanhã ele não faria igual de novo? Ou pior?
— Mais alguma coisa? — pergunto séria, seus olhos ficam ainda maiores e quase redondos enquanto me olha de volta confuso. Não quero terminar com ele, essa é a verdade mais incólume em minha vida, mas não me sinto segura e essa também era outra verdade incólume. O tagarela Jungkook de antes abre a boca, mas não consegue falar nada. — Palavras lançadas ao vento sem nenhuma ação não valem absolutamente nada. Jungkook sua boca fala uma coisa e você faz outra, como posso confiar em você assim?
Meu namorado tira as mãos de cima da mesa e recompõe a postura me encarando. Pareceu ter sido pego de surpresa por minhas palavras. Nos encaramos naquele lugar barulhento entre o silêncio de meu questionamento. Posso sentir em minha pele o quão forte foi o baque daquela constatação. Não daríamos certo, isso era óbvio e provavelmente Jungkook perceberia isso em breve. Estávamos esperando coisas muito diferentes um do outro. O rapaz platinado dá de ombros.
— Não sei — responde meu questionamento. — A única coisa que eu sei é que sou louco por você.
— Mas não é suficiente se continuo me sentindo dessa forma, não quero que você mude por mim, quero que você seja feliz sendo você mesmo e sério, se for pra ser assim pra mim não dá. Então não tem como pedir pra que você mude sendo que não quero que faça isso porque pedi, não vou ser como a sua ex. Não vou ser como ninguém que te magoa por exigir coisas de você — muitos nãos em uma mesma sentença que justificavam como me sentia negativa sobre nós. Eu gostava demais de Jungkook para magoá-lo com minhas exigências e sentia que o tempo todo estava pedindo e exigindo coisas a ele. Jungkook era um cara legal, só não sabia se relacionar de forma saudável porque conviveu com a toxicidade e eu sabia que ele não fazia por mal, mas ficaria me sentindo triste só pra estar perto do mesmo?
— Não sei o que dizer — confessa.
— Nem eu — encerro o assunto. Ficamos em silêncio por mais um momento olhando para lados opostos. Eu odiava isso, odiava gostar tanto dele e não conseguir acertar os pontos. Odiava precisar tanto dele perto de mim e só me sentir mais distante. Odiava não conseguir consertar isso.
Rapidamente fiquei de pé, catei minha bolsa e o livro que carregava comigo e virei as costas para ir embora, tudo doía de uma forma inexplicável e esse silêncio do que não pode se resolver estava me matando. No fundo esperava que ele viesse atrás de mim e magicamente resolvesse tudo, mas sabia que isso não aconteceria, o Jeon estava tão perdido quanto eu. Peguei a escada rolante principal a fim de sair dali o mais rápido possível.
Parei por um momento antes da saída, limpando as lágrimas que me cegavam, precisava arrumar minha postura antes de sair para o centro comercial movimentado. Respirei fundo três vezes engolindo o choro.
— Kwon MiCha — ouço alguém me chamar no microfone da livraria. Me viro para a direção oposta onde estou, tendo a visão do palco onde acontecia o recital, Jungkook estava em pé no palco segurando o microfone. — Me perdoa, por favor? Ou ao menos ouça a minha sinceridade — Com o celular perto do microfone começou a tocar uma música e de repente todo o ambiente foi preenchido pela voz doce, enrolada e melodiosa do Jeon.
Jungkook cantava Off My Face, fiquei estática embasbacada em total choque assistindo ao seu pequeno show. Não consegui acreditar que ele estava fazendo aquilo no meio da Starfield Library lotada. As pessoas em volta o olhavam e filmavam, caminhei a passos lentos em direção a ele até parar atrás das cadeiras de frente para o palco que estavam ocupadas pela plateia do recital. De perto enquanto cantava olhando para mim, pude sentir como se estivéssemos só nós dois ali. Todas as pessoas haviam sumido e éramos apenas nós na enorme livraria enquanto Jungkook se declarava em forma de música para mim. Naquele pequeno momento enquanto cantava me vi perdida em nossas memórias, e como me sinto viva quando estamos juntos. Jeon Jungkook ganhou meu coração e corpo de uma forma muito repentina e tentei tanto lutar inutilmente contra isso. As vezes me sentia mal por algo que acontecia, por ele não atender a minhas expectativas ou por simplesmente sermos diferentes, mas toda essa chateação era maior que a forma como ele me fazia sentir a paixão?
Cada toque, beijo, sussurro, abraço, momento em que sorrimos e rimos juntos. Tudo era tão mais intenso. Meus sentimentos por ele corriam em minha veias, ardendo, queimando tudo em um fluxo perfeito e infinito. Invasão visceral Jeon.
Se estávamos perdidos em como nos acertarmos, ao menos fazíamos isso sendo intensos juntos. A quem eu queria enganar? Seria apenas questão de tempo até estar em seus braços de novo, porque a cada novo segundo que se passava ficava mais difícil abrir mão dele e de tudo sobre ele. Eu ficava chateada, mas logo passava e a saudade dele tomava conta de tudo me fazendo rapidamente repensar sobre desistir. A dois passo de desistir, mas a um passo de ficar.
Ao terminar de cantar algumas pessoas aleatórias o aplaudiram enquanto Jungkook apressadamente se aproximava de mim com as orelhas tão vermelhas que dava para ver de qualquer distância e um enorme sorriso no rosto.
— Eu sei que palavras não são suficientes as vezes, então espero que agir tenha resolvido de alguma forma e derretido o seu coração de gelo malvado — sua voz estava um pouco trêmula e Jungkook gaguejou mais que o normal para concluir seu pensamento.
— Você é louco, Jeon Jungkook — constato sorrindo totalmente afetada por ele, tudo bem, éramos um erro, mas o que eu podia fazer se gostava tanto de estar toda errada?
— Por você — sorri entortando o lábio e mostrando os dentes que o deixavam tão fofo — Prestou atenção na letra da música? Ela diz tudo o que sempre quero falar pra você e não consigo — diz.
— A última coisa que eu fiz foi prestar atenção na letra da música, desculpa — sorrio para ele.
— Então isso significa que terei que cantar de novo, ali no palco? — brinca.
— Não sei idiota, pode ser no meu ouvido, mas ai não garanto que vou prestar atenção de novo — entro na brincadeira.
— Gostei, podemos estar sem roupa enquanto isso? — Rolo os olhos rindo do tatuado que me faz ficar arrependida e depois me arrepender de estar arrependida.
— Cala a boca Jungkook.
— Tá, mas vamos sair daqui porque essa gente toda tá olhando pra nós e não consigo te beijar com uma plateia tão grande nos encarando — brinca e sorrio de novo.
Tudo bem, por essa vez não conseguiria fingir que não fui afetada. Jeon Jungkook era o erro que eu mais gostava de repetir, como um vício. O vício no meu champanhe favorito. Meu erro preferido, o que me fazia perder o chão, também o que me dava as melhores experiências e me colocava nas situações mais inusitadas. Por mais que às vezes doesse eu ainda o queria e arrumaria forças de algum lugar para continuar errando, porque errar nunca me pareceu tão certo.
☆Oieeee, do nada eu broto pq sou aleatória mesmo. Quanto tempo... tava com saudade de 50.000₩, mas confesso que foi difícil desenvolver oq aconteceria a seguir, me perdi?? Não sei kkkk só sei que a luz no fim do túnel surgiu e cá estamos nós com um capítulo que planejei assim, mas saiu assado kkkkk
Gostaram?
Esses dois são muito intensos e complexos. E o Jimin e a Mi-ah?
Mi-ah deve continuar com o Jimin ou não? Dissertem!
Pessoal meu segundo livro físico está disponível para compra em formato de pré venda, que tal darem aquela forcinha para uma autora nacional que esta tentando trilhar a carreira de escritora profissional?? O livro tá lindo e a história acredito que a maioria de vocês conheçam. Deem amor pra Provodencia do Destino por favor!!!
Deem amor pra esse capítulo também, não esqueçam de deixar a estrelinha. Até ano que vem 💜
Brincadeirinha rsrsrrs até breve, amo vocês.
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