
ᥫ᭡ 040
VOCÊ JÁ SE SENTIU ESTRANHO por estar feliz de mais?
Passou-se mais de um mês. É mágico, entre Hyunjin e eu está tudo incrível, nossa sintonia é impecável. Mas, como sempre, eu fico numa insistência em procurar algo de errado, porquê estou tão feliz que chego ao ponto de não acreditar que é real. E quem procura demais, sempre acha.
É com os meus amigos o problema. Alguns dias atrás eu notei um comportamento suspeito vindo deles, não parou desde então. Eu fico com Hyunjin por um tempo, quando volto vejo de longe eles conversando, ao me aproximar é que param de falar. Seja qual for o ambiente, quando me junto à eles, torna-se um silêncio absoluto. Não consigo entender o que há de errado, mas me incomoda e muito.
Não é o meu único problema.
Eu achei que contar sobre o que está rolando com Hyunjin para os meus amigos e minha mãe seria a pior parte, mas sempre tem um pós. Quando paramos de tentar esconder do colégio foi que o meu tormento começou. Por onde quer que eu passe, há alguém fofocando sobre nós, seja positivamente ou não. Eu já ouvi de tudo, seja que ele e eu não combinamos, ou que preferiam quando eu estava com Chris. Há todo tipo de comentário, estes são os menos intensos.
Ontem ouvi que o que temos não durará mais de uma semana, fiquei pensando muito sobre isso. Fazem aproximadamente três meses desde que nos acertamos, mas parece que se passaram três semanas, ou menos. Talvez o fato de estarmos indo tão devagar esteja nos atrasando, faz parecer que estamos na mesma por séculos.
Quando penso no tempo que estou enrolando ele, não paro de pensar em como Hyunjin se sente. Desde o princípio ele deixou claro quais são as suas intenções comigo, fui eu quem pediu para ir com calma, mas agora parece que sou a única querendo acelerar o passo. Acho que ele se acomodou, por culpa minha. Será que ele me achou tão complicada que está desistindo aos pouquinhos? Não, ele teria desistido no segundo encontro, não depois do quinto.
— Você está ouvindo alguma coisa do que eu estou falando? — Felix me pergunta, estalando os dedos na frente do meu rosto. Volto do meu transe.
— Não. Desculpa, o que você dizia?
Meu melhor amigo suspira. Está por tanto tempo falando que se frustra quando descobre que eu não prestava atenção em nada. A única coisa que ouvi de verdade foi ele mencionar o fim do ano letivo e seguir com uma série de reclamações que eu não me obriguei a continuar escutando.
— Eu disse que não adianta quantas vezes você me obrigue, não vou nesse baile ridículo — ele declara.
— O baile de formatura? — questiono. Ele confirma. — Meu Deus, Lix. Isto será em dois meses, você já está sofrendo por antecipação.
— Sim, estou. Eu não vou ser obrigado a convidar uma garota — ele se opõe. — Eu não sou hétero. Por que eu devo ceder à pressão de uma sociedade heteronormativa?
— Então vai sozinho, ou você pode ir comigo — tento convencê-lo do contrário. É o nosso último ano na escola, ele tem que ir à formatura.
— Sozinho? Não, aí já é muita humilhação — ele diz. — Não sei o que seria mais humilhante: ir sozinho ou de vela para você e Hyunjin?
— Felix, não me estressa — suspiro. — Então não sei, por que você não vai com a Lily? Vocês dois são amigos e acho que ela também está chateada por não ter ninguém para ir. A namorada terminou com ela, ela está super triste.
— Sério? Eu não sabia... — ele fica surpreso e chateado pela garota. Mas é claro que não sabia, é uma mentira. Porém, como elas estudam em escolas diferentes, irão a bailes diferentes. Estou ficando boa nisso de mentir, mas eu não deveria me orgulhar disso. — Vou falar com ela.
Eu volto a mexer na minha comida, e digo "mexer" porquê é só isso, não consigo comer. Fico pensando e pensando sobre Hyunjin e eu. Estamos bem, mas poderíamos estar melhores. Penso que estou mais que pronta para dar o próximo passo, mas posso ter estragado tudo.
Eu acho que o afastei um pouco nessa de "ir com calma", involuntariamente. Eu desejo tanto tornar-me oficialmente a sua namorada, mas tenho que aceitar que a ausência de um pedido é resultado das minhas escolhas. Ou talvez eu deva largar estes esteriótipos heteronormativos — como diz o meu irmão — e fazer eu mesma o pedido.
— Qual é a da cara azeda? — meu irmão pergunta. Este sim consegue comer, e muito.
— Estou aqui pensando em algumas coisas — digo, mas não explico claramente. — É sobre Hyunjin e eu — adiciono mais uma informação.
— Se quer a minha benção, eu aprovo — ele diz, como se fosse algo importante. Yongbok falta tatuar na testa que torce por nós. — Agora, falando sério, o que está incomodando?
— É que... — fico incerta sobre me abrir ou não. Lix é o meu melhor amigo, mas não sei se falar sobre certos detalhes da minha vida amorosa é o correto. Mas é Yongbok, meu melhor amigo e irmão, então dane-se. — Estou chateada com algo que eu fiz. Quando ele e eu começamos este rolo, eu disse que não queria tornar tudo sério tão rápido. Eu pedi que fossemos com calma, sabe? Mas agora acho que estamos indo devagar de mais.
— Devagar se vai a longe.
— Não, devagar se chega tarde.
— Está com medo de ir mais devagar e as coisas esfriarem? — ele pergunta, certeiro. Bok tem um faro especial para estes assuntos.
— Sim, eu estou.
— Vocês ficaram apenas se secando por quase sete anos, Jiyoon. Acredite em mim, as coisas não vão esfriar com vocês.
— Estou sendo uma boba, não é? — fico constrangida.
— Não, não está — ele me defende. — Você gosta muito de Hyunjin e agora está pronta para assumir isto de verdade, para todo mundo, transformar em algo sério. Você só precisa dizer a ele.
— Você está certo.
— Não é surpresa para ninguém.
Eu não como, mas consigo beber a caixinha de leite. Fico mais tranquila com esse assunto, ainda não está resolvido, mas não me custa nada ter um pouco de esperança. Ele gosta de mim, não mede esforços para demonstrar isso, é claro que ele ainda pensa em mim assim, fui eu quem escolheu isso.
Eu respiro e me concentro no momento presente. O celular de Felix anuncia uma mensagem, eu olho na direção do barulho. Ele olha para baixo — onde o celular está — e digita algo, todo misterioso. Eu fico instantaneamente curiosa.
— Quem é? — pergunto.
— Ahn... Seungmin — ele não me convence. Fica nervoso, para mentir ele consegue ser pior que eu. Há algo muito suspeito acontecendo aqui.
— O que ele quer?
— Não é nada... — ele mente, o conheço bem o suficiente para saber que está mentindo.
Eu me estresso, mas tento não deixar isso transparecer. Sei que está escondendo algo de mim. Normalmente isso não me incomodaria, mas eu sinto minhas costas enrijecerem quando acontece. Ele também está fofocando sobre mim?
Me levanto da mesa como se nada me abalasse e digo a Felix que vou dar uma arejada. A verdade é que não quero ficar tão perto e acabar explodindo, posso estar sendo apenas paranóica.
Nos corredores, eu caminho sem rumo apenas para tentar colocar a cabeça no lugar. Passeio deslizando meus pés pelo chão, como se estivesse chutando algo; o ar. Agora entendo de onde surgiu a expressão "louco de pedra". Bem, é uma das interpretações.
Quando algo me irrita muito ou vejo as coisas fora de ordem, passo a pensar em números. A matemática é a única coisa que não muda, é igual no mundo inteiro. Eu estava apenas contando os passos que dava quando vi Seungmin e Jisung conversando perto dos armários. Resolvo ir até eles.
— Annyeong (아녕)... — eu os cumprimento com um acenar.
Eles ficam igual Yongbok, suspeitos. Jisung guarda o celular rápido, como se estivesse fazendo algo ilegal e aquilo servisse de prova. Os garotos se calam e fingem um assunto qualquer.
— Olá, Jiyoon. Você precisa de algo? — Han pergunta, mas vejo nos seus olhos a vontade de fugir.
— Vocês, por acaso, viram o Hyunjin? — questiono, mas a minha dúvida era outra.
— Não — eles respondem.
Eu resolvo sair e dar privacidade a eles. Saio dali antes que me chateie mais.
Então vai ser assim hoje? Vai todo mundo me tratar como se tivessem medo de mim ou simplesmente como quem não quer ficar perto? Talvez o problema seja comigo. Será que eu fiz algo que chateou todo mundo sem perceber e ninguém veio me contar?
Acho que posso ter feito algo de errado. Não sei, me parece a única explicação. Todo mundo fica estranho perto de mim, eu só posso ter feito algo, mas o quê?
Caminho, caminho e quando percebo estou na área externa do colégio. Resolvo sentar-me em um dos bancos ao lado da pista de corrida, fico de pernas cruzadas, vendo as garotas do clube de atletismo correrem durante o tempo livre.
Fico de longe apenas observando a minha amiga Lily a correr, ela está tão concentrada que nem me nota aqui. Mas até eu mantenho-me concentrada na corrida, é tanto que tomo um susto quando me dou conta de que Hyunjin está sentado do meu lado. Não tenho a menor ideia de quando ele chegou.
— O que aconteceu? — ele pergunta.
— Como você sabe que tem algo acontecendo? — interrogo. É incrível, eu nem disse algo e ele sabe que não estou bem.
— Eu leio mentes.
— E sério? E no que eu estou pensando agora? — questiono.
— Jiyoon, você sabe que eu não posso falar esse tipo de coisa em horário nobre — Hwang faz uma gracinha. Eu o empurro com o ombro. Ele conseguiu, me fez rir. — O que está te chateando, querida? — ele pergunta.
— São só os meus amigos, tem algo estranho com eles.
— Sempre teve algo estranho com eles — Hwang brinca. — Mas o que há de novo?
— Eu não sei nem explicar... — respiro fundo. — Sinto um afastamento da parte de alguns. Eu chego perto e, de repente, param de falar, mudam o assunto. Até mesmo Felix está esquisito comigo.
— Você tem certeza? — ele questiona. — Pode ser apenas uma coincidência.
— Não sei, se for coincidência o universo quer me deixar loca — digo, mas a coincidência é uma possibilidade. Talvez eles só tenham alguns assuntos pessoais que não me envolvem e querem manter em segredo. Vou esquecer isso.
— Vamos tentar não pensar nisso agora — ele sugere. — Nós ainda iremos sair hoje à noite, não é?
— Ai meu Deus! Eu me esqueci completamente! — recordo dos nossos compromissos de sexta-feira, é dia do encontro. — Me desculpa por ter esquecido. Como pude esquecer o dia do encontro?
— Sim, e é só isso que tem de importante hoje.
— Eu estou esquecendo de algo? — questiono. Céus! O que está acontecendo com a minha cabeça?
— Eu vou te lembrar em breve. Mas não importa agora, vamos para a aula?
Eu concordo e me levanto. Hyunjin e eu caminhamos juntos pelos corredores em direção à nossa sala, é quando eu me lembro que preciso do livro de física para a aula de hoje e mais algumas anotações. Paro imediatamente e peço a Hyunjin para esperar comigo enquanto eu procuro as coisas.
Nós vamos até os armários e ele se apoia no de Taehyun, que fica ao lado do meu. Eu coloco a senha no meu, tiro o cadeado e então abro. Mas, quando faço isso, dezenas de origamis de coração caem no chão aos meus pés. Meu coração palpita assustado. No fundo do meu armário vejo uma polaroid de Hyunjin e eu no nosso primeiro date e uma mensagem que diz "Feliz 100 dias".
Eu olho para Hyunjin, ele que está sorrindo feito bobo e eu também. Toco seu rosto com delicadeza e o dou um beijinho, rápido para não sermos pegos — não que eu tenha me preocupado das outras vezes, mas foram escondidos e este não.
— Eu sei que é um aniversário meio bobo, mas eu queria te fazer uma surpresa para lembrar. Se você abrir cada um dos 100 corações, vai encontrar uma mensagem que escrevi em cada dia para você.
— Não é bobo, é muito fofo — eu digo. Me sinto um pouco culpada por esquecer. — Você pode pensar que nós somos os únicos.
— Os únicos bobos a comemorar os cem dias desde o primeiro beijo — ele completa e sorri.
— Hyunjin... — eu me aproximo dele, entrelaço meus braços ao redor do seu pescoço. — Cada momento ao seu lado é motivo para se comemorar.
— Não está dizendo isso só para que eu me sinta menos idiota, não é? — ele questiona.
— Estou dizendo porquê é verdade. Eu adorei todos os dias em que estivemos juntos, cada um! — o beijo. — Agora você me ajuda a pegar os origamis?
— Sim, é claro.
Ele e eu passamos a juntar todos os corações que caíram e demos um jeito de colocar tudo no lugar em que estavam antes. Quando chegar em casa, irei arrumar um lugar especial para guardar. Não penso em abrir tão cedo, eu não saberia refazer os corações de volta.
— Me sinto mal por ter esquecido — confesso enquanto caminhamos em direção à sala de aula.
— Não precisa se preocupar com isso.
— Mas eu quero fazer algo — e já sei exatamente o que é. Hwang Hyunjin, me aguarde. — Eu também vou te preparar uma surpresa, Hyunjin.
— Eu já estou curioso — ele diz, todo sorridente. — É um dia especial, então vou te fazer algo especial também.
— Algo especial? O que é? — pergunto, mas ele insiste em dizer que é surpresa. Acho que não vou conseguir nenhuma informação com ele.
— Jiyoon... você está disposta a faltar aula consigo amanhã? — ele sussurra para que nenhum professor ou aluno enxerido ouça.
— Hwang Hyunjin me chamando para faltar aula? — isto é novidade. Quem diria, não é mesmo? — É claro que sim.
— Ótimo, então eu te pego amanhã cedinho, no horário das aulas — ele diz. Mas, por mim, ele me pega a hora que quiser, onde quiser e como preferir.
— Sobre esse encontro, como eu devo me vestir? — questiono já pedindo uma dica de para onde vamos.
— Nada de spoiler!
— Mas eu preciso saber se tenho que me arrumar como da vez que fomos no restaurante do seu tio, se é algo mais tranquilo como a vez que fomos no parque de diversões, ou da vez que ficamos apenas na sua casa assistindo Netflix. Também tiveram as vezes em que fomos naquele show e patinar no gelo.
— Nós vamos estar sozinhos, não precisa se preocupar tanto com o que vestir. Fique confortável.
— Isso tudo é meio vago, mas eu me viro.
— Você não tem que se preocupar. Se quer se preocupar com algo, se preocupe com o teste de física da semana que vem.
— Já é na semana que vem!? — eu fico apavorada. Me esqueci completamente deste pequeno detalhe.
— Sim, é. Mas não se preocupe, eu te ajudo a estudar.
— Gomawo (고마워)¹~ — eu arrasto a palavra e dou um selinho no Hwang. — Mas o que você acha de fazer a prova por mim?
— Jiyoon... — ele nega com a cabeça, rola os olhos e volta a andar.
— Qual é, Hyunjin? Você faz a sua, decora as respostas, troca comigo e preenche! Easy, easy! — eu praticamente grito enquanto tento o alcançar pelos corredores. Até penso em suborno, seu pagamento seria com beijinhos.
Ele nunca, nunca aceitará isto.
Glossário
Gomawo (고마워)¹: Obrigada (o); informal.
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