
ᥫ᭡ 029
EU FERREI COM TUDO. HYUNJIN E eu estávamos tendo uma relação agradável pela primeira vez na vida e eu também estraguei isso. Passei a minha noite inteira pensando no assunto e tudo o que eu concluo é que sou uma completa maluca, para falar o mínimo.
Não consigo entender os meus próprios sentimentos. Se é impossível, então eu gosto dele; se me irrita, então o odeio; se o entendo, então simpatizo; se ele se aproxima, então eu o beijo. O que eu deveria fazer? Como posso escrever sobre os sentimentos de alguém se tampouco tenho a total compreensão dos meus?
Sempre foi difícil estar perto dele, senão por o admirar, por odiá-lo ou, a versão mais recente, o beijar. Eu nunca fui tão impulsiva quanto agora, no passado costumava pensar mais antes de agir, porém há algo nele que me torna imprudente. Quando o vejo, não penso em outra coisa. Estou entrando em um beco sem saída, não há escapatória.
Ele é o melhor amigo do meu ex, o também cogitado como pivô do fim do relacionamento. Hwang é bonito, poderoso, proibido. O "não poder" é inquietante, tentador, como o fruto da árvore proibida. Me martirizo por querer pecar, apenas para ter os lábios de Hyunjin aos meus como outrora.
Hwang fugiu de mim quando o beijei ontem, então já sei que foi um grande erro. Ele disse: "É exatamente por isso". Está aí mais uma das coisas que não entendo. Foi tão ruim assim? Não paro de pensar no assunto. O "você confunde tudo" talvez seja a prova de que estou tomando as escolhas erradas.
Estamos em sala, no mesmo lugar. Olho em volta e noto alguns me olhando torto e cochichando, o sermão que eu dei parece ter durado pouco, perdeu efeito na mente deles. Eu não tenho tempo para baboseiras de pessoas sem passatempo, prefiro ocupar minha mente com o que sei de verdade, a aula de história.
Para falar a verdade eu não sou uma grande fã da disciplina, mas a maneira como o nosso professor explica deixa tudo interessante. Ele é o único didático, há sempre algo de interessante nas suas classes. O senhor Cho é um professor que bate de frente com o ensino "decoreba" das escolas coreanas.
É sempre uma "choradeira" quando a sua aula acaba, todos aqui tem muitas coisas boas para dizer sobre ele. Já o nosso diretor, este não parece gostar muito dos métodos "modernos de mais" do nosso professor, como assim diz.
— Retomando o que dizíamos... — Felix puxa o assunto de quase uma hora atrás. — Você. Beijou. O. Hyunjin — ele diz pausadamente, para manter o impacto, bem baixinho para que os dois da frente não possam ouvir.
— Vem, vamos conversar no refeitório — estico meu braço em sua direção e o entrelaço ao seu, juntos nós vamos até a fila do refeitório, pegamos nossa refeição e em seguida para a nossa mesa. Não quero nem pensar em falar disso perto dos dois.
— Você beijou ele ou não beijou? — meu melhor amigo pergunta antes de comer. Prioridades.
— É que... sim — eu respondo. — Mas, eu queria que fosse apenas uma boa memória para guardar, uma perfeita.
— E por que não seria...? — Lee gesticula com a mão para que eu continue a falar.
— Além de ser em uma hora totalmente inoportuna? E de ele ser o melhor amigo de Chan, com quem eu acabei de terminar? — questiono, como se já não fosse pouco. — Tem mais que isso, mas eu não vou te contar porquê com certeza vai ficar me zoando.
— Ah, não! — ele faz birra. Yang Jiyoon, eu te conto cada detalhe da minha vida e você não pode dividir um segredinho comigo? — ele me coloca contra parede. Tem momentos que eu não sei quem é mais dramático, ele ou eu.
— Você não vai rir ou me zoar por isso? — pergunto para me assegurar primeiro. Ele nega com a cabeça.
— Já disse que não vou — ele confirma agora com palavras. Mas a carinha não me engana. — Agora desembucha.
— Foi repentino, eu não resisti e o beijei — dou a pior desculpa de todos os tempos. — Ele me correspondeu, mas pouco tempo depois ele parou o beijo e foi embora.
O maldito cai na gargalhada.
— Me desculpe — ele pede ainda rindo. Nossa, como eu quero socar a cara dele. — Você sabe por que ele fez isso?
— Não tenho ideia de absolutamente nada que acontece na minha vida — eu deito o rosto na mesa. — Nós estávamos discutindo porque, aparentemente, eu fiz algo de errado enquanto estava bêbada e esqueci. Ele não acredita que não me lembro, acha que estou fingindo.
— E como tudo isso culminou em você o beijar? — ele pergunta, está perplexo que depois de tantos anos veio a acontecer logo agora, com tanta coisa rolando.
— Apenas aconteceu. Ele ficava falando e falando, estava tão perto e tão irresistível naquele uniforme de basquete que acabei não resistindo.
— Meu Deus, que loucura! — Felix exclama, boquiaberto. — Ainda bem que eu não sou você, pois não saberia onde enfiar a cara depois que ele saiu e te deixou sozinha.
— Eu queria saber o que fazer — digo. — A minha relação com Hyunjin parece uma planta dorme-dorme, está bonita e vigorosa até que algo a toque. Parece que estou sempre pisando em ovos com ele, qualquer coisa faz com que nos desentendemos.
— Sabe o que eu acho? — ele pergunta. Tenho até medo, pois costuma estar correto nas suas análises. — Que tem sentimentos de mais aí. E não estou falando somente de você, há algo muito forte rolando entre vocês dois. Mas isso não quer dizer necessariamente que seja algo positivo.
— Você está insinuando que Hyunjin gosta de mim, ou que ele me odeia? — eu pergunto.
— Isso é ele quem deve te responder, irmãzinha. Não eu.
— Então você sugere que eu deva perguntar? — interrogo. Agora são três me deixando confusa.
— Calma aí, apressadinha — ele pede paciência, nunca tive. — Vamos inverter as posições. O que você responderia se ele te fizesse a mesma pergunta? — ele questiona.
Fico em silêncio. Não posso omitir este sentimento contínuo pelo Hwang, mas tudo já é muito complicado para que eu me envolva em algo assim. O melhor amigo do meu ex é = a zona proibida.
— É o que estou dizendo, Flash. Mesmo que você pergunte, ele ainda pode ficar nervoso, se pressionado pode não ser honesto. Vá com calma! — ele aconselha.
— Pelo que vejo, o melhor é que eu fique como estou — concluo, mas esta não é a melhor posição do jogo. Estou quase fora dele, tomando cartões amarelos o suficiente para ser expulsa. — Cada vez que tento fazer algo para consertar, acabo piorando tudo.
Meu irmão diz que já está bom de falar e pensar em besteiras por hoje, ele me obriga a comer. Eu tento deixar isso de lado e continuo as atividades com os hashis. Estou com fome de mais para perder o apetite hoje por pensar muito, as caminhadas com Seungmin estão me deixando com mais fome ao decorrer do dia.
Todos sabem o quanto eu reclamei no início, mas agora me sinto acostumada. Acordo sempre alguns minutos antes do meu despertador e espero ele tocar para que eu desligue e me levanto para arrumar-me e sairmos. Até que não está sendo ruim, mantenho um ritmo saudável, tenho mais disposição e ainda passo um tempo fofocando com os meus amigos assim que o dia começa.
Quando vejo no relógio do refeitório que está perto de acabar o intervalo, Felix e eu devolvemos a louça suja e vou adiantando para a sala enquanto o meu irmão sai com Lily, ela o pediu ajuda com umas caixas para levar até a sua sala de aula.
Chego de frente à nossa sala mas não entro, paro ao lado da porta e checo algumas mensagens. Respondo uma da minha mãe perguntando sobre o fim de semana e dizendo que estará comigo na sexta-feira sem falta, então desligo o celular. Cruzo os braços chateada comigo quando percebo que não faltam cinco minutos para tocar e sim quinze. Agora tenho que ficar mais dez minutos aqui e não há ninguém nos arredores.
Me animo quando de longe avisto rostos conhecidos, mas dura pouco. São Chan e Hyunjin, o primeiro vem pisando firme no chão, com o rosto vermelho e aparenta estar furioso, enquanto este último vem tentando falar algo mas o outro não o escuta.
— Annyeong¹ (아녕)! — cumprimento os garotos, mas eles apenas passam reto.
Os dois entram com pressa e eu os observo pela janela. Chan e Hyunjin conversam tão alto que posso ouvir daqui, ou melhor, discutem. Parece uma briga, coisa que nunca imaginei vindo dos dois. Resolvi que iria dar meia-volta e sumir, pois como diz minha mãe: "Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher". Mas quando ouvi o meu nome, me senti na obrigação de ver do que se trata.
Eu entro na sala e os dois ficam em silêncio. Hyunjin me olha com vergonha, já Chris fica encarando as paredes. Nenhum de nós se atreve a dizer mais nada, então acho que terei que perguntar. Provavelmente eu entre em mais uma confusão, já estou ficando acostumada.
— Vocês dois estão brigando? — finjo que não ouvi o meu nome no meio disso tudo.
— Jiyoon, é melhor você sair, não é um bom momento — Hwang aconselha-me. Eu deveria tê-lo ouvido.
Ele pede que eu saia, sinto o desespero nos seus olhos. Até ele deseja sumir daqui. A energia pesada é notável e parece que ficará ainda pior, Christopher está irreconhecível, parece furioso. Nunca o vi assim em toda a minha vida. Há algo aqui, só espero que não seja culpa minha.
— Vai lá, Hyunjin, tira a sua namorada daqui... — Bang diz, está com a voz aterrorizante de tão calma.
É, acho que é por culpa minha.
— Do que você está falando? — pergunto como se já não soubesse, mas é melhor me fingir de louca do que virar uma.
— Vocês pretendem negar que estão juntos? — Chan interroga. Ele ainda está com está ideia na cabeça? Bem, pelo menos agora ele tem motivos para pensar.
— Yujin nos viu ontem, Jiyoon — Hyunjin conta. — Eu descobri que é ela quem anda espalhando boatos sobre nós este tempo inteiro, parece que ainda está obcecada por mim.
— Ela fez o que!? — eu me altero também. — Eu entendo que ela esteja obcecada por você, mas o que eu tenho a ver com isso?
— Ela ainda está com aquela ideia maluca de que nós dois estamos juntos.
— Vocês já acabaram ou precisam de tempo para ensaiar uma justificativa para aquilo? — Bang Chan diz profundamente magoado. — Tem fotos de vocês dois se beijando, eu não só ouvi como também vi — ele exibe a imagem em seu celular.
— Eu ainda mato essa garota! — sussurro. — Eu não vou inventar desculpa alguma. Eu confesso, o beijei e, embora tenha sido um erro, não vou negar nada. Hyunjin não tem culpa por eu ter o beijado de surpresa, então não brigue com ele como se ele estivesse te traindo.
— Jiyoon, deixa que eu me explico com ele — o moreno fica insistindo em tentar me tirar daqui.
— Chan-ah, também me magoa e deixa chateada, mas não existe mais um "nós" — eu respiro e explico para ele com calma, quero fazer diferente da última vez. — Entre Hyunjin e eu nunca rolou nada, em momento algum. Eu o beijei no calor do momento, foi o que rolou. Mas mesmo que houvesse significado algo... — e talvez tenha. — ... Ele e eu somos solteiros.
Hyunjin segura o meu braço, pedindo educadamente que eu me retire do local, sei que tem medo que eu piore a situação. Mas eu continuo onde estou.
— Eu entendo que nós não estamos mais juntos, Jiyoon. Eu só achei que demoraria mais para você seguir em frente — ele suspira.
— Cada pessoa lida diferente com a superação de um término, eu ter feito isso rápido ou devagar não quer dizer que você não tenha sido especial para mim — digo. — Você é uma parte da minha vida que eu jamais conseguirei esquecer, é como uma boa memória de verão que deixa o coração quentinho.
— Yoon, eu só... — ele respira e relaxa. — ... Não queria que nós dois tivéssemos terminado.
— Me desculpe por fazer isso com você, Chan — peço, sinto que fui má com ele. — Eu terminei porquê não queria te magoar, mas vejo que para essas coisas não há escapatória.
— Eu gostava muito de você, não teria como não me magoar — ele confessa. — Sei que o tempo está passando bem rápido e que fica mais perto até que você encontre um outro alguém. Eu só fico me perguntando: "Precisa mesmo ser com o meu melhor amigo?". Parece que eu estou sendo substituído por uma versão melhor.
— Hyunjin, por que você não diz nada? — pergunto, cansada de ser a única tentando resolver esse problema.
Sento-me sobre uma das mesas e espero que o outro fale algo que não seja sobre me expulsar da sala, enquanto respiro um pouco. Eu tento explicar para ele a minha versão dos fatos e parece que aos poucos a informação começa a entrar na sua cabeça, eu imagino todas as coisas que ele já deve ter ouvido dos alunos desta escola, a foto foi um bônus.
— Chan, nós não estamos juntos! — Hwang começa reforçando. — Eu sou seu amigo à oito anos, você me conhece. Eu jamais, jamais faria algo assim sem nem menos falar com você antes. Você sabe que não existe nada entre a Jiyoon e eu, é impossível que exista, se isso te tranquiliza.
Eu não me orgulho do que sinto, mas ouvir isso assim ainda dói em mim. Saber o que ele pensa me magoa, mesmo que eu não estivesse esperando uma resposta diferente da que recebi. Todavia, ainda é como esperar um "não" e receber um "nem em outra vida".
Eu ainda estava pensando bastante sobre o beijo e esta foi mais uma das várias respostas do universo para que eu entenda que não significou nada. Devo esquecer isso e seguir em frente fingindo que nunca existiu.
— Eu acho que surtei mais que o normal — ele diz. — Mas com alguém que já estive tempo suficiente com vocês, eu entendo que é só questão de tempo até que as minhas paranóias de hoje se tornem tão reais quanto o aquecimento global.
— Chan... — tento dizer algo.
— É a última coisa que eu falo sobre isso, prometo — ele dá a sua palavra. — Eu sinto muito, por ter exagerado. Ainda não aprendi a como lidar com isso, estou tentando, mas é muito recente. Eu sei que algum dia você vai encontrar outro alguém e que Hyunjin é uma pessoa extraordinária, eu só quero me sentir preparado para apoiar vocês e não para sentir inveja do que eu perdi.
— Chan, você não precisa se esquentar com isso — Hyunjin garante, apertando os ombros do amigo. — Jiyoon e eu, nunca vai rolar!
— É, Chan, nunca vai rolar — eu tenho que concordar.
Glossário
Annyeong¹ (아녕): Oi; Olá. Informal.
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